Reflexões Planetárias

Sunday, December 16, 2012

O crime mais hediondo

"if we are to save humanity and the planet from the worst mass extinction of all time, worse even than that at the end of the Permian, we must stop at two degrees"
Mark Lynas
Abusando do enorme poder que alcançaram na sociedade de mercado, as ETN têm vindo a sobre-alimentar o negacionismo, a dúvida e o "technical-fix", em campanhas médiáticas concertadas contra a evidência do aquecimento global antropogénico, comprovada pela maioria da comunidade científica competente na matéria. Há dezenas de anos que, com crescente insistência, grande número de cientistas descomprometidos, têm vindo a alertar-nos para o aquecimento global e para os seus efeitos que os factos, infelizmente, cada vez mais têm vindo a comprovar.
Se atingirmos o "ponto de não retorno", isso dever-se-à, sobretudo, à acção nefasta das ETN, secundadas pelos economistas do mercado, por juristas e políticos irresponsáveis que, entretanto, têm arrecadado lucros gigantescos à custa da sobrevivência das próximas gerações.
Será, porventura, o crime mais hediondo que foi praticado em toda a história da humanidade!
Vem esta reflexão a propósito da investigação do Die Zeit (1) sobre a manipulação da opinião pública acerca do aquecimento global, bem como das recentes considerações do ministro Santos Pereira que, como bom fundamentalista do mercado, vem acusar os "fundamentalistas do ambiente" da UE, de "inimigos" da Europa, de "inimigos" do investimento, do emprego, porque "inimigos" do "crescimento económico"!
E, mais ainda, acusa os "fundamentalistas do ambiente" da UE, de contribuir para o aquecimento global e para a exploração dos trabalhadores... na China, por via das deslocalizações das empresas que fogem aos custos ambientais, tal como fogem com o dinheiro para os paraísos fiscais para não pagar impostos!
É o mundo virado de pernas para o ar da economia de mercado!
É neste mundo de pernas para o ar que Santos Pereira agarra então no conceito de "reciprocidade" e o aplica de forma tão desenquadrada e vaga que leva a crer que neste caso, a Europa deveria afinar pelos padrões da China... abdicando dos seus princípios sociais e ambientais, em nome do "crescimento económico" salvífico. Ou não será em nome duma Europa amiga das ETN, criadoras de trabalhadores baratos e consumidores compulsivos?
Receei que tão "arrojadas" ideias estivessem plasmadas na "carta aberta" dos cinco ministros "amigos da industrialização" citada no final do artigo do Público. Não estão! Pelo contrário, na "carta aberta", não faltam as referências a um modo "ambientalmente sustentável" e a essa impossibilidade física criada pelos economistas que é o "crescimento sustentável"!
Mas estarão aquelas "arrojadas" ideias apenas na mente do nosso Ministro da Economia?
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(1) Artigo republicado na revista Internazionale em língua italiana.
Fonte da imagem : NYT

Saturday, December 08, 2012

Mercado! Mercado!

Os mandarins e sacerdotes da economia de mercado estão a transformar este nosso mundo numa coisa sem graça e, pior do que isso, perigosa. Muito perigosa!
Crescimento económico! Crescimento económico! Todos, da direita à esquerda, clamam sem reservas pelo crescimento económico... que por cá se eclipsou em parte incerta.
A lógica da economia de mercado capitalista, que é a lógica do maior ganho de dinheiro pela inovação (François Perroux), puxa realmente pelo crescimento económico, para mais, desigual e ilimitado.
Desigual, pois que favorece a concentração do poder por via da competição mercantil, confronta-se com a resistência da sociedade. É hoje o pão nosso de cada dia... que vai faltando aos "menos aptos".
Ilimitado, pois que ignora as leis da termodinâmica, confronta-se com a progressiva escassez de recursos energético-materiais utilizáveis e acessíveis e com a rotura dos ecossistemas que induzem a desaceleração económica, a estagnação e mesmo o decrescimento (N. Georgescu-Roegen).
As consequências deste "darwinismo social" econocrático serão dramáticas, pois a conflitualidade social será cada vez maior, abusando a minoria possidente de todos os meios para conservar o poder adquirido, num ambiente planetário cada vez mais hostíl à vida em geral e à vida humana em especial.
Enganou-se Karl Polanyi nos anos quarenta do século passado, quando julgou estar a viver o fim da sociedade de mercado.
Não é essa a lógica que preside hoje à política europeia, remoçada ao longo dos últimos trinta anos? De uma Europa que, causticada pela máquina germânica, não conseguiu moderá-la na "Comunidade do Carvão e do Aço", nem por via do Mercado Comum por ela empalmado e que hoje domina a "União Europeia".
Aqui temos a "grande inversão" que denunciou Polanyi na "Grande Transformação": o mercado, com a banca à cabeça a mandar na sociedade! Na sociedade e pretensamente na natureza.
É o cúmulo da arrogância!
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Alguns artigos directamente relacionados: "O desafio do decrescimento"; Brincadeiras perigosas; O "ambiente" e o "mercado"; As ETNs contra os estados-nação; Crescimento, crescimento, crescimento; O imbróglio do crescimento económico; Moralizar o capitalismo; O mítico capitalismo; Liberalismo e neo-liberalismo.

Thursday, December 06, 2012

Oscar Niemeyer

Não era este o mundo com que sonhara!
Mas este beijo diz-nos que nem tudo está perdido!
Ficaram para esse mundo que há-de vir os sonhos inspiradores que fluiam das suas mãos como a água na fonte...

Autodefinição
Na folha branca de papel faço o meu risco.
Retas e curvas entrelaçadas.
E prossigo atento e tudo arrisco na procura das formas desejadas.
São templos e palácios soltos pelo ar, pássaros alados, o que você quiser.
Mas se os olhar um pouco devagar, encontrará, em todos,
os encantos da mulher.
Deixo de lado o sonho que sonhava.
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.
A arquitetura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
a vida mais feliz, a pátria mais amada.

Oscar Niemeyer
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Imagem publicada no jornal Público