Reflexões Planetárias

Sunday, November 16, 2014

Tecnologia e poder

Pensando nos próximos quinze, vinte anos, "o avanço da civilização, no sentido de uma tecnologia cada vez mais complexa, conduzirá inevitavelmente ao totalitarismo, na medida em que, por inerência, levará à centralização do poder?"



1984 cinquenta anos depois? Não necessáriamente se...
A partir do minuto 35:00 do video, a resposta de Julian Assange a esta questão filosófica que encosta à parede a tendência tecnocrática da matriz maquinista da nossa sociedade moderna, patenteada no actual processo de coalescência entre a Google e os "serviços de segurança" norteamericanos.

Saturday, November 08, 2014

A história ainda não acabou!

Beijing festeja este ano, com grande pompa, o 110º aniversário do nascimento de Deng Xiaoping. Deng está de volta... mas só na televisão, comenta Carl Minzer no Los Angeles Times
.
Façamos um flashback para tentar enquadrar o que está a acontecer.
A gestão da Sociedade Moderna não poderá ser senão capitalista, pois que, assentando na inovação e, designadamente na inovação tecnológica, carece cada vez mais de avultados investimentos em indústrias e serviços cada vez mais capital-intensivos.
O capitalismo seguiu dois caminhos paralelos nos século xx, desde o fim da I Grande Guerra até ao colapso da da União Soviética; durante cerca de setenta anos, dividiu-se entre um capitalismo de mercado, em que o capital é privado e um capitalismo de estado em que o capital é público, originando uma competição entre dois grandes blocos liderados, um pelos Estados Unidos e o outro pela União Soviética. A política da "guerra fria" evitou uma confronto apocalíptico potenciado pela tensão política e pelo arsenal bélico que se foi acumulando, designadamente as armas nucleares.
Dado o colapso da União Soviética, Francis Fukuyama anunciou o "fim da história" com a vitória definitiva do capitalismo de mercado, abrindo-se o caminho à globalização da "sociedade de mercado" numa Nova Ordem Internacional.
Não foi isso que veio a acontecer.
O grande progresso dos transportes e das comunicações facilitou a globalização do capitalismo de mercado mas o "darwinismo social" perverteu o mercado pois que o poder se foi concentrando en grandes grupos económicos transnacionais (ETN) e nos seus "shareholders", assim como o poder público na União Sovietica foi apropriado pelos homens da "nomenklatura" convertidos ao capitalismo de mercado.
E o que aconteceu é que, na grande maré da globalização, o capitalismo de mercado hegemonizado pelas ETN chegou ao grande locus comunista persistente que, com Mao Tse Tung, vivia fechado sobre si próprio: a China.
Deng Xiaoping abiu a China ao mundo e acolheu essas empresas, sobretudo na mira do seu know how. Elas cresceram e com elas uma classe mercantil chinesa que começou a ameaçar o poder do Estado (*).
Chegamos aos nossos dias e, com Xi Jinping surge a reacção: a China, lentamente, volta a fechar-se sobre si própria e ressurge o confronto entre o capitalismo de estado e o capitalismo de mercado, mas agora, não entre dois blocos mas dentro de um estado-nação: a China!
Afinal não estamos no fim da história que tem desenvolvimentos inesperados. Era só o que faltava a esta Europa desvertebrada, a braços com uma austeridade imposta pela Alemanha que contava com a China para sustentar o seu crescimento económico e com ele o seu ordoliberalismo!
______________________________________________________
(*) Segundo Joseph Needham, citado por George Basalla, "a existência de um sistema feudal burocrático mitigou o crescimento de uma classe mercantil chinesa suficentemente poderosa para afectar as políticas e acções governamentais". Esta "burocracia asiática" milenar, criada no século III A.C. com a unificação dos estados beligerantes da China numa monarquia centralizada, veio até aos tempos modernos em que vestiu a pele do comunismo e está agora ameaçada pela nova geração de capitalistas chineses. Nestes termos não se pode ignorar a dimensão histórica da ameaça e da resposta que se pode esperar.

Wednesday, November 05, 2014

Nobreza de espírito

Bertrand Russell. Nesta entrevista, feita por Mike Wallace em 1959, avulta a nobreza de espírito deste homem tão sensível e inteligente que nunca se vergou ao fanatismo e à intolerância.



Fanatismo e intolerância que se acentuam hoje na globalização do "moneteísmo" pregado na vulgata neoliberal. Ouçamo-lo com atenção!

Monday, November 03, 2014

Momento celestial

Tocante, esta "Nascente"(1)!
Um anjo tangendo o instrumento celestial -a cítara ou harpa . Que paz! Que tranquilidade espiritual!



Um ou outro insignificante deslize mostra-nos que ela é humana.
Ainda bem!
...E uma corda que a certa altura se desafina - por ex. entre os minutos 2:30 e 2:50 - diz-nos que a harpa não cai do céu... Apurei que, não tendo ela dinheiro para comprar uma harpa, se serve das que lhe vão emprestando. Hoje uma, amanhã outra!
Esta criança, então com nove anos, tem que aguentar as desafinações e tem que se adaptar ás diferentes harpas que lhe caiem nas mãos: harpas de qualidade variável e que não são para o seu tamanho o que a obriga a um grande esforço, pois não chegando aos pedais, tem que manobrá-los usando extensões.
Finalmente, depois de me ter chegado um outro video em que toca Debussy (Danças Sagrada e Profana), senti que ela não conseguia disfarçar o esforço que lhe exigia uma peça tão dificil. Esta "sociedade do espectáculo" (circence) está a abusar (mais uma vez) de uma criança-prodigio que se poderá perder pelo caminho.
Foi afinal o que sentiu Lauren Scott, professora de harpa (e mãe) que escreve aqui.
_______________________________________________________
(1) A composição interpretada por Sadikova não é "A fonte" de Marcel Lucien Grandjany" como menciona o video, mas "A nascente" op. 23, uma romântica composição musical do harpista alemão do século xix, Albert Heinrich Zabel.