S. Paulo
Parece-me que os jornais e a TV não têm dado importância a isto: http://observer.guardian.co.uk/magazine/story/0,,1872185,00.html?
Eu dou. E muita! Passo a explicar porquê:
As imagens de Strauss no Castelo de Schönbrun contrastam brutalmente com esta imagem distópica de S. Paulo.
"Castelos", condominios e resorts super-luxuosos como Dubai, contrastam significativamente com o vasto "planeta dos slums".
É para mim irresistível associar este contraste ao fosso que se cava entre ricos e pobres!
"Planeta dos Slums", "Planet of Slums" é como Mike Davis designa o vasto submundo em que se acumula, às centenas de milhar, qualquer dia por este andar aos milhares de milhão, a gente outrora pacífica dos campos de África, da Ásia e das Americas, expulsa pela agro-indústria de algodão, açúcar, café, bananas, ananazes e outros produtos de monoculturas bioquímicas ou transgénicas que fazem parte da nossa ementa quotidiana... Gente dos campos e as ondas de refugiados das guerras imperiais que se espraiam em campos de "concentração" (de refugiados), como podemos constatar hoje no Iraque, Líbano e num dos maiores slums do mundo: Gaza.
Mike Davis mostra à saciedade como as politicas de "ajustamento estrutural" do FMI e do Banco Mundial em conivência com governos corruptos de países do "terceiro mundo", contribuiram para tudo isto, com sacrifício de tudo e todos à "liberalizacao da economia", adoptando processos de expoliação que tive a oportunidade de conhecer quando andei em Moçambique pelas guerras de África .
Esta gente "sem terra" e sem emprego na cidade, gente desenraizada à força, das suas frágeis comunidades ancestrais, sobrevive hoje desesperadamente de expedientes, no meio de lixo urbano e de prédios decrépitos, ela própria reduzida a lixo humano. Empurrados para a criminalidade e para as prisões, são terreno fértil para fanáticos extremistas, gangs e redes mafiosas que dominam o "planeta dos slums" e o seu satélite: o submundo das prisões.
A polícia não só não penetra nos slums mas também parece não controlar as prisões, assistindo-se mesmo ao esbater das suas fronteiras com o mundo do crime organizado.
Não estamos aqui nas fronteiras do caos?
A esta luz se pode compreender melhor a "guerra contra o terrorismo", em que a policia é substituida pela tropa. Tropa que no Iraque e noutras guerras em "cidades" dos paises pobres, ensaia novas técnicas de contraguerrilha urbana à custa de milhares de mortos. Ensaios a escala natural como o foram o ataque aéreo a Dresden pela RAF, as bombas atómicas de Iroshima e Nagazaki na guerra de 39-45, em que morreram centenas de milhar de seres humanos, os desfolhantes como o "agente laranja" que enveneneram 2.5 milhões de hectares de floresta e 5 milhões de pessoas no Vietnam...
A frieza com que Madeleine Albright justificou a morte de quinhentas mil de crianças provocada pelas sanções contra o Iraque ("the price is worth it"), leva-me a pensar se não é isso mesmo que se pretende. Amedrontar e acantonar essa perigosa e desprezível gente "menos apta" esmagada na base da pirâmide social: lixo explosivo com emprego temporário nas "sweat shops" e em outros trabalhos aviltantes, a caminho do futuro desemprego tecnologico generalizado. O "controlo" dos slums evitaria o colapso e os "eleitos" que estão no vértice da pirâmide, poderiam mesmo sonhar com um mundo livre... da imperativa necessidade de viver na prisão dourada dos condominios fortificados!
Poderia continuar no mesmo registo, falando da classe média que se divide entre a imitação dos ricos e a luta contra a pauperização, de New Orleans e tutti quanti. Fico-me por aqui por hoje.
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Actualização em 12.Nov.12: S. Paulo, "La plus grande ville brésilienne est le théâtre d’un nouvel épisode de la guerre que se livrent les forces de l’ordre et le principal gang du pays: le Premier Commando de la Capitale. Bilan: près de 200 morts depuis trois semaines"
1 Comments:
"Há um problema com a hora dos comentários... neste momento a hora de Lisboa é 17.06 (18 de Setembro)"
Obrigado Filipe pela resposta e pelos comentários: sobre o erro horário que já corrigi e sobre o nuclear (não sobre S. Paulo)cuja resposta não é tão imediata.
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