Reflexões Planetárias

Friday, January 02, 2015

Morreu Jorge Estrela

Morreu ontem Jorge Estrela!...
...Espírito humanista, eclético e vivíssimo, intelectual de superior inteligência e finissima sensibilidade artística que muito deu a Leiria e a todos os que tiveram a sorte imensa do o ter como atento e estimulante companheiro de caminhada... e que esperavam tê-lo por mais alguns anos na fase mais madura e rica da sua vida que assim se perdeu.
Misto incomum de artista com sólida formação e de historiador dotado de uma memória surpreendente, contribuiu para o esclarecimento da linguagem simbólica do barroco em Portugal, trazendo novidades sobre personalidades artísticas pouco estudadas como Baltazar Gomes Figueira, tendo comissariado, com Sergio Gorjão e o Prof. Vitor Serrão, uma esplêndida esposição sobre a matéria, de que ficou um exaustivo catálogo; contribuiu para a descoberta e interpretação dos "grafitos da Batalha" que eram praticamente desconhecidos; colaborou com o Museu de Arte Antiga e com outras instituições afins na identificação de muitas pinturas mal identificadas ou por identificar. Debruçou-se sobre a reconstituição do Castelo de Leiria revisitando o trabalho de Ernesto Korrodi e, sobre os efeitos das Invasões Francesas no Distrito de Leiria com base em desenhos e pinturas da época que cruzou com documentação histórica existente, dois trabalhos que resultaram em dois livrinhos: "Korrodi e o restauro do Castelo de Leiria" e "Leiria no tempo das invasões francesas". Do mesmo modo investigou os originais de Pier Maria Baldi sobre a "Viagem de Cosme de Médicis" por Espanha e Portugal, plasmando os resultados numa exposição, num livro e em belos quadros sobre a parte Portuguesa, tendo entre mãos a finalização da parte espanhola. Defendeu sempre o nosso património histórico-arquitectónico, promovendo visitas de estudo e exposições de que destaco a exposição "O Saque da cidade de Leiria", realizada ainda nos anos setenta e que, estando em riscos de se perder, o que se salvou aguarda agora nos arquivos do "Mimo" a oportunidade de regressar à luz do dia. Estimulou e acompanhou com atenção todos os que, à sua volta se interessavam por arte e história, ajudando muitos em teses de mestrado e doutoramento, muito embora a vida académica não fosse com a sua maneira de ser. Personalidade artistica multifacetada, não deixava sem resposta as mais diversas encomendas, deixando por aí obras notáveis de que se ignora a sua autoria, como a monumental calçada à portuguesa sobre os Decobrimentos, uma difícil transposição dos desenhos de Lima de Freitas que podemos apreciar no Jardim de Camões em Macau. Micologista amador, animou inumeros e saborosos passeios micológicos por todo o país e pela vizinha Espanha e deixou-nos uma colecção de desenhos que exalta a beleza dos cogumelos no seu habitat natural. Espírito mordaz escreveu livros deliciosos sobre coisas do seu tempo, alguns publicados como o "Estalinoburger", outros despretenciosamente deixados na gaveta como o "Tércio". A obra que tem por publicar é enorme: bandas desenhadas, estudos de cogumelos, de paisagem (ele chegou a projectar um jardim para Almoínha Grande em Leiria que ainda poderá vir a ser realizado), "pinturas" em computador: era um encanto acompanhá-lo a desenhar com o rato como se fosse um pincel, etc, etc...
Tantos projectos que ficaram por vir à luz do dia!

Estou muito zangado com a Natureza!
Sendo amoral é dolorosamente injusta e cruel!

1 Comments:

At 10:53 PM, Blogger fernanda sal m. said...

Só soube depois do funeral e fiquei muito, muito triste e chocada. Para mim era sempre o Jorginho... Envio-vos um grande e sentido abraço a todos e espero em breve poder abraçar a Carlota e a Fátiminha. Não sei se haverá missa...
Vamos ficando, assim, mais sós e tristes com as nossas memórias.

 

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