De Fra Angelico a Bonnard
Uma leitura da Colecção Rau que esteve em exposição no MAA, desde 18 de Maio até 17 de Setembro.
Nesta caminhada da pintura de arte ocidental nos últimos 500 anos, de Fra Angelico a Bonnard, leio, além do mais, o progressivo abandono da construção de uma vida interior espiritual virada para o transcendente que se quer distante, separada, divorciada das coisas materiais. Ausente, acessória ou como pano de fundo de cenas bíblicas dominadas pelo simbolismo religioso, a natureza vai ganhando expressão até atingir o estatuto temático principal nas naturezas mortas e na pintura de paisagem. A natureza-expressão-de-Deus e depois a natureza selvagem e a humanizada. O simbolismo religioso vai dando lugar à expressão da natureza em si, que inclui a natureza humana, expressão que se extende também aos artifícios da sociedade. Começa pouco a pouco a desconstruir-se a velha visão espiritualista do mundo e a tatear-se novas formas de ver que cruzam o subjectivo com o objectivo, a cultura com a natureza que deixa de ser matéria vil ou mera expressão de Deus. Do "homo viator mundi" ao homem no mundo.
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