Reflexões Planetárias

Saturday, April 15, 2017

Siedlung Halen

Construido no início dos "anos sessenta", o projecto do jovem "Atelier 5" foi então considerado como um dos bons exemplos de "habitações baixas agrupadas" (Hubert Hoffman, Urban Low-Rise Group Housing, Verlag Arthur Niggli, Svweiz 1967).
Vendo do céu, a floresta em que se encontra não passa de um anel e o conjunto parece a cratera aberta por uma exploração mineira! Impressão oposta se tem quando andamos com os pés na terra.
Siedlung Halen situa-se numa paisagem ondulante e aberta dos arredores de Berna. O autocarro que nos deixa na paragem próxima passa por perto do conjunto mas não se dá por ele. Da estrada só se vê floresta.

Quando nos internamos no arvoredo, percorrendo a centena de metros do caminho que nos leva até ele, o compacto de setenta e nove habitações escalonadas com coberturas de terra funde-se na encosta.
O escalonamento que acompanha o declive da encosta a sul, é feito entre as habitações e não nas habitações que são triplex (três pisos) com a entrada pelo piso intermédio da sala comum.


Não escalonadas em si e em banda contínua, as casas alongadas no sentido norte-sul em pequenos lotes de 200 e 230 m2, são compactas, beneficiando de um baixo factor-forma; um dispositivo que se adequa a um clima setentrional, frio, em que o Sol anda baixo no inverno. Com uma inclinação de cerca de 20 graus no solstício de Dezembro, os raios solares entram em profundidade nas casas, tendo havido o cuidado de abrir claraboias para levar o sol até aos quartos mais afastados a norte.


Nota-se a influência de Corbusier, no caracter brutalista da construção em betão aparente, no alongamento tubular das habitações em que a largura varia entre os 4.0 e os 5.0 metros, conforme os tipos "a" e "b" e, nas soluções minimalistas, problemáticas, das casas de banho e cozinhas, sobretudo no tipo "a". É o modelo da Unidade de Habitação de Marselha.

Mas a arquitectura do conjunto distancia-se do Corbu maquinista no escalonamento que o agarra ao solo acompanhando o declive da encosta a sul. Coberturas de terra e jardins a sul em todas as habitações complementam o betão envelhecido pela acção do tempo na integração paisagistica e garantem privacidade, "sol, espaço e verdura" numa acepção "mediterrânea", bem diferente da que tinha em mente o Corbu maquinista.

Este ambiente mediterrâneo sente-se ao percorrer o reticulado feito de ruas estreitas alongadas no sentido este-oeste...


... que dão acesso ás habitações, apenas denunciadas pelo ritmo das singelas portas de entrada, preservando de tal forma a sua intimidade que não resistimos a um tímido olhar de relance por uma porta casualmente entreaberta para o pátio de entrada, revelando-nos um interior transparente e ensolarado (estamos perto do equinócio de Março)...



... e de escadinhas entre muros...


que se abrem para sul, para a paisagem longínqua, por sobre as coberturas de terra.


E não faltam até uma pequena praça com algum comércio de proximidade...


... um pequeno terreiro encaixado entre as casas e a floresta propício à conversa entre vizinhos e à brincadeira das crianças...


... e surpreendentemente uma bomba de combustível à entrada do conjunto e do parque de estacionamento enterrado.
Todo o espaço público, domínio do peão, respira uma tranquilidade lenificante animada pelo chilrear da passarada.

Cinquenta anos passados, Siedlung Halen resistiu ao tempo?
A ideia fez caminho, mas as construções escalonadas que se espalham hoje pelas encostas vizinhas, mostram que não chega ser escalonado para ser integrado...


E o quadro algo idílico que traçamos de Siedlung Halen não ficaria completo sem o travo amargo que sentimos de uma certa decrepitude que fico sem saber em que medida se deve a um certo espírito dos anos sessenta, ao definhar de uma ideia... à altura do ano ou do dia!
Mas a juventude ainda anda por lá!

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