Reflexões Planetárias

Tuesday, October 09, 2007

"Patologias do espaço moderno"

A cidade moderna é um espaço edificado dominado pelo “mito da máquina”, profundamente escalpelizado por Lewis Mumford (O Mito da Máquina, A Harvest/HBJ Book, 1970). Ele distancia-nos drasticamente das condições ancestrais, a que nos fomos fazendo ao longo dos tempos.
Quem não se consegue adaptar, pode ser afectado na sua saúde física e mental.
É nos "não-lugares" (Marc Augé, 1995) mais artificializados, como as grandes superfícies comerciais, e nos indivíduos mais sensíveis que a inadaptação se faz sentir com maior acuidade, em casos patológicos de ansiedade como o da agorafobia.


Nos países mais avançados como os Estados Unidos e o Reino Unido, a reação mecânica da sociedade a estes casos de inadaptação tem sido a de tratar "medos razoáveis como se o não fossem" (J. E. Hecker e G. L. Thorpe, 1992), recorrendo a medicamentos (ansiolíticos, Xanax, Prosac), purgas psicanalíticas ("abreaction"), métodos behavouristas como o "flooding" e até cirúrgicos como o da lobotomia! (Kathryn Milun, Patologias do Espaço Moderno, Routlege, 2007).

Porque é o indivíduo que está errado e não a sociedade!
Ou então porque há que resolver problemas candentes: Não é possível mudar imediatamente a sociedade e, portanto, a sua arquitectura!
Mas quem ousará mudar a sociedade... Ou mudar de sociedade?

Têm sido largamente exaltados os benefícios do progresso científico-tecnológico dos últimos duzentos anos e as pessoas tem votado a favor na prática. A medicina averba um rol de notáveis sucessos e o aumento da esperança de vida é um índice de progresso incontornável.
Mas, por outro lado, a lista de doenças e conflitos da civilização maquinista vai aumentando, bem como aumentam os seus efeitos prejudiciais no equilíibrio dinâmico da natureza que nos tem sido globalmente favorável.
Num quadro em que os prejuizos aumentam mais do que os benefícios, o balanço quantitativo afigura-se cada vez mais problemático e irredutível a índices económicos simplistas.
Por este andar poderiamos chegar a uma situação insustentável que, como diz Ronald Wright (Breve História do Progresso, D. Quixote, 2004), já não interessaria a ninguém.
Nessa altura, as pessoas votariam com os pés mudando de sociedade.
Segundo Joseph Tainter ( "Colapso das sociedades complexas", Cambridge U. P., 1988), não seria a primeira vez que isso aconteceria na história das civilizações.

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