Reflexões Planetárias

Friday, June 11, 2010

Arquitectura e escultura

Tentar distinguir a arquitectura pelo que a distingue da escultura ajuda-nos a esclarecer o nosso entendimento de uma e outra.
As formas da arquitectura “só se distinguem das formas escultóricas por conterem interioridades”, dizia o Prof. Augusto Brandão no Jornal dos Arquitectos (JA, 1987)
Definição de inquietante simplicidade!
Ficou-me ela a remoer até hoje. Hoje aceito-a com quatro objecções, mais uma que distancia a arquitectura da escultura.
Primeira objecção: Na arquitectura, as interioridades são primárias e não secundárias... e a escultura também pode tê-las, como a de Henri Moore, mas isso para o caso é secundário;
Segunda objecção: Na arquitectura, essas interioridades são interioridades habitadas, em que nós entramos. É uma objecção interrogada, pois admito que Augusto Brandão o tivesse em mente;
Terceira objecção: Na arquitectura, a ordem sensível conjuga-se com a ordem prática da utilização que lhe é inerente. Na escultura, como na pintura, não é;
Quarta objecção: Na arquitectura, o sítio é fundamental. Na escultura, como na pintura, não é. Esta objecção é hoje relevante face á contextualização e à sustentabilidade da arquitectura, acentuadas pelas actuais preocupações sociais e ecológicas;
E agora a quinta objecção que diferencio das restantes por questionar a própria acepção escultórica da arquitectura.
Steen Eiler Rasmussen , depois de encarar a arquitectura no sentido visual, como "sólidos e cavidades", encara-a como um espaço construído com planos, assim como pode sê-lo por meio de propriedades que o relacionam com o nosso corpo e apelam para a vista e outros sentidos como a cor, a luz, o calor, as vibrações audíveis. É a arquitectura "omnisensorial" que Richard Neutra defendeu, na teoria mais do que na prática (?), contra as abstracções do "arquitecto euclidiano".
Rasmussen fala de algumas delas na construção de um espaço perceptual. A arquitectura como construção do espaço na ordem fenomenológica, na ordem sensível dos "qualia", não pode circunscrever-se à sua acepção escultórica de "volumes e cavidades".

0 Comments:

Post a Comment

<< Home