O mítico capitalismo
O CAPITALISMO radica-se numa visão EGOISTA e possessiva do mundo, centrada no "MODO DE TER": Indivíduos sem vínculos sociais e ecológicos, lutam entre si e contra a natureza, numa insanável COMPETIÇÃO pelo PODER que se traduz na ACUMULAÇÃO DE CAPITAL.
Tudo o resto vem por acréscimo.
O bem e o mal.
Max Weber, em "A ética protestante e o espírito do capitalismo", ligou a acumulação de riqueza do capitalista bem sucedido na vida aos sinais de salvação do calvinismo.
Lynn White radica na Bíblia (Génesis, Cap.1:28) a ideia de dominar a Natureza, mas é sem duvida na Sociedade Moderna que a Natureza é dessacralizada e reduzida a mecanismos físicos a instumentalizar. Assim avisava Francis Bacon: "Nature, to be commanded must be obeyed" .
Saliento em maiúsculas os principais ingredientes duma congeminação pessimista do mundo que para mim configura um verdadeiro pesadelo.
É porventura a mais sombria congeminação da filosofia social vitoriana que precede a teoria de Charles Darwin, mas que depois veio a ser designada por DARWINISMO SOCIAL, o que lhe empresta o carácter inevitável das leis da natureza, à luz da ciência determinista da época.
Com o andar dos tempos aconteceu o que se poderia esperar: a degradação das nossas relações com a Natureza e aquilo que já os "pais fundadores" da nação americana temiam: uma conflituosa e crescente desigualdade social num processo de acumulação que conduziu à concentração do poder em instituições bancárias e empresas transnacionais. Entidades monstruosas e impessoais, verdadeiras máquinas de acumulação de poder criadas pelos homens, cuja lógica mecanicista domina o criador.
O capitalismo revela-se assim uma sombria deriva maquinista em que se esvai o humanismo iluminista, num rosário de atrocidades que enegrecem a história da "Ocidentalização do Mundo" (Serge Latouche).
Um desumanismo pseudo-naturalista!
Não é isto a versão moderna do MITO DA MÁQUINA... ou a versão "cripto-vitalista" da modernidade, em que imperam impulsos primitivos sob a batuta de automatismos enrijecidos nas estruturas sociais?
Mas há outras versões não maquinistas que valorizam a vida e a cooperação e contestam o caracter redutor do darwinismo social. Vem a propósito salientar a primeira e imediata resposta ao darwinismo social hobbesiano e, em particular ao "Strugle for Existence and its Bearing upon Man" de Thomas H. Huxley. Refiro-me à obra do geógrafo Piotr Kropotkin publicada no ano de 1902, em Inglaterra onde estava exilado.
"Mutual Aid - A Factor of Evolution" está recheada de expressivos exemplos de cooperação no mundo animal colhidos nas expedições cientificas que o autor realizou na Sibéria Oriental e no Norte da Manchúria, bem como nas sociedades humanas primitivas, medievais e mesmo na sociedade moderna "apesar das vicissitudes da história" (*).
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(*) A importância da cooperação na Natureza, defendida pelo Piotr Kropotkin, é revisitada pelo biologo Lee Alan Dugatkin, em "The Prince of Evolution". Actualmente, a cooperação na Natureza é uma das questões quentes da biologia da evolução.
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