Ninguém quer o desemprego!
Ninguém quer o desemprego! Nem os ricos. Não com medo de ficarem desempregados mas porque lhes traz mais conflitualidade social, lhes diminui os consumidores e, portanto, os lucros!
Tudo isto é mais complexo, mas fiquemos-nos pelo essencial.
Mas então porque persiste o desemprego se ninguém o quer?
Estamos a passar de sociedades tradicionais que acolhiam no seu seio pequenas e médias empresas, para uma "sociedade de mercado" dominada pela lógica da eficacia lucrativa de grandes grupos económicos trans-nacionais: as ETN. Lembremo-nos da fixação do governo Passos Coelho na "internacionalização da economia" e do seu disfarçado menosprezo pelas domésticas PME, ou da recente proposta subscrita por um dos seus rapazes do ritmo -Bruno Maçães- para a criação de uma bolsa europeia de trabalhadores.
Com as ETN e na estrita subordinação à lógica da eficácia, vêm os "ganhos de produtividade" que se devem sobretudo à robotização, à mecanização do trabalho que tendencialmente dispensará os humanos. Daí um arrepiante "desemprego tecnológico" estrutural na transição do sistema capitalista para um sistema tecnocrático que se pressente numa ânsia de crescimento económico salvífico misturada com o medo de uma catástrofe devastadora (*).
Se todos trabalhassem menos horas por um salário condigno aproveitando o progresso tecnológico, ficaram com tempo "livre" para se realizar em plenitude e participar activamente na vida da "polis", mas os neoliberais acham bem que na sua sociedade de mercado, a redução do tempo de trabalho seja injustamente sofrida por precários e desempregados, revertendo os ganhos de produtividade em benefício exclusivo dos "shareholders" e gestores de grandes empresas.
Uma vida melhor numa sociedade decente, não se poderá concretizar num sistema capitalista mas sim num sistema socialista (que não exclui o capitalismo, na gestão da economia dentro da sociedade).
Socialista? Mais. Eco-socialista. Eco-socialista, no sentido democrático de que é a sociedade que manda nos mercados respeitando limiares ecológicos e não os "mercados" que mandam na sociedade desrespeitando-os. A iniciativa está do lado dos trabalhadores e das suas comunidades. Nesse sentido, as organizações sindicais têm que se libertar do colete de forças amarrado por limitadas reivindicações trabalhistas que nos afundam no sistema tecnocrático.
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(*) Um estudo recentemente publicado da Deloitte a partir de dados estatísticos colhidos na Inglaterra e no País de Gales desde 1871, conclui que as "máquinas" criaram mais emprego do que desemprego. Contraria o que, desde os "luditas", tem vindo a ser sentido, primeiro no sector industrial e depois nos serviços. Será possível? É, se para cobrir a diferença entre o emprego destruído (em parte bem destruído) e o gerado pelas "máquinas", metermos no mercado actividades que não estavam lá... e elas não acabarem por ser também mecanizadas seguindo a lógica do capitalismo. No limite toda a vida humana. Mas nesse caso teremos um caricatura de tempos livres, de vida social e espiritual: não teremos a sociedade a mandar no mercado mas o mercado a mandar numa sociedade estatística de consumidores... o que será bom para a Deloitte e os seus clientes. Mas para nós que prezamos a vida não é! Nesse sentido, o que questionamos não é a tecnologia em si, mas a tecnologia na sociedade de mercado capitalista.
Fonte da imagem: Excerpto da imagem de capa do número 1095 da revista "Internazionale"
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