Reflexões Planetárias

Thursday, June 18, 2015

A ameaça nuclear (continua)

A energia nuclear é uma maneira infernal de pôr a água a ferver!
Albert Einstein
Há uma espécie de apagão electronuclear nos mass media associado a um downplay político. O acidente de Fukushima Daiishi perdeu importância no mainstream mediático, mas blogs e newsletters como o "Counterpunch" que correm na net chamam a nossa atenção para a importância de uma inquietante situação longe de estar controlada.
Tenho acompanhado a questão nuclear há cerca de quarenta anos (como refiro "aqui) e este caso em particular (que afloro aqui e aqui), designadamente por um site que o faz diariamente: o Fukushima Diary.
Passados esses quarenta anos, mais de metade com os mercados à solta, continuamos na mesma, o que quer dizer cada vez pior.
O electronuclear é, adentro do nevrálgico sector energético, uma tecnologia capital intensiva em elevado grau, subordinada aos ditames do complexo militar-industrial que mantem os governos capturados e a comunicação social num estado de negação. A população massificada, desinformada e de certo modo encantada, adormecida, entretida ou distraída com os frutos do progresso tecnológico que são porventura o grande trunfo da sociedade moderna, vai caindo na anomia.
Experimenta-se os benefícios imediatos da exploração incontinente dos recursos naturais, mas não os malefícios que podem ir sendo iludidos numa sociedade mercantil que vive à superfície e a curto prazo.
No caso de Fukushima, isso é mais difícil: a "atomic village", formada pela Tepco e pela administração pública, está com muita dificuldade em controlar um povo cuja proverbial disciplina está hoje corroída pela corrupção dos costumes e pelos malefícios do progresso.

Michael Ferrier faz-nos o relato pungente desta pobre gente condenada a habituar-se a sobreviver num ambiente envenenado pela radioatividade, "fogo" surdo e permanente que contamina a "terra" que lhe dá o pão, o "ar" que respira e a "água" que lhe mata a sede. Um povo condenado a uma "semi-vida" amputada dos mais simples prazeres, como o de "saborear uma salada sem medo" ou "ficar à chuva com um sorriso"(1,2)!
Tal é o estado crítico de uma situação paradigmática que alastra e que, tudo leva a crer, se poderá deteriorar drastica e definitivamente a qualquer momento!
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(1) Michaël Ferrier, Fukushima crónica de um desastre, edições Antigona (2013)
(2) Cerca de um mês depois do acidente, a 19 de Abril de 2011, o governo nipónico não teve pejo em decretar a elevação do nivel de segurança da exposição às radiações de 1mSv(milisievert)/ano para 20mSv/ano, com vista a reduzir encargos. Ainda assim, mais de 150.000 pessoas foram mesmo obrigadas a abandonar a terra onde viviam... muitas delas, pormenor sórdido que já nos é familar nesta cruel sociedade mercantil, continuando obrigadas a pagar aos bancos a prestações das suas casas que tiveram que abandonar!

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