Reflexões Planetárias

Friday, October 09, 2015

A fraude Volkswagen

Sustainable production and consumption involve not merely technical progress, but also cultural patterns of individual behavior and values.
Angela Merkel, “The Role of Science in Sustainable Development,” in Science, July 1998
Não há muito tempo, fui surpreendido pela publicidade da Volkswagen (VW): o novo Golf GTE promete consumir em estrada apenas 1.5l de combustível mais 12.4kWh de electricidade aos 100km. O pequeno Volkwagen Lupo 3l, de há uma duzia de anos, prometia 3l de gasóleo aos 100km. E de facto pode fazê-lo com uma condução cuidada a uma média de 90 km/h. Confirmo por experiência própria! Mas o novo Golf é uma máquina com 204 cavalos de potência com uma pegada ecológica que não chega aos 40 g/km de C02! É obra, comentei então com os meus botões, a pensar mais no consumo de combustivel que meço na bomba, do que no valor das emissões, para mim um número certificado, algo abstrato, em que devo confiar.
Mas será que devo confiar?
O presente "escandalo" da VW leva-me a pensar que não!
A VW introduziu em modelos de série um programa que detecta condições de teste e, se for o caso, põe a máquina em modo de teste que consiste em re-injectar no motor produtos de exaustão como a ureia para conter a emissão de NOx abaixo do limite legal nos Estados Unidos(1). Em suma, reduz a poluíção do ambiente asfixiando o motor durante o teste!
Esta fraudulenta e arriscada inovação tecnológica na mira de mercados parece não se limitar a carros da VW que é, note-se, o segundo construtor de automóveis do mundo. Poderá causar danos institucionais e dezenas de milhares de milhões de euros de prejuízo à VW e à Alemanha e a outras empresas e países entre os quais Portugal. Parece que a fraude não é de hoje, sendo de admitir, adentro do darwinismo social em que vivemos, que houve cumplicidades institucionais que mantiveram a fraude em banho-maria e grandes interesses que lhe puseram termo.
Outras fraudulentas inovações propagam-se noutras áreas de negócio baseadas em modelos matemáticos, como nos "produtos tóxicos" de Wall Street, ou em modelos teóricos afastados da realidade que subordinam a ecologia à economia como no"carbon trading".
Inovações ao serviço do maior ganho financeiro. Era nestes termos simples que o walrasiano François Perroux traduzia a "lógica do capitalismo"!
Pois é senhora Merkel, o capitalismo não se rege por princípios morais. As ETN, tal como a Grande Banca parasitária podem ser pessoas à luz do direito na "sociedade de mercado" em que vivemos, mas não têm sentimentos. Não reconhecem princípios morais mas códigos que, para elas, não são mais do que instrumentais... como tudo e todos!

Actualização em 4 de Novembro de 2015: A VW e a Audi suspendem a venda dos modelos diesel nos Estados Unidos, noticia hoje o jornal de economia "Bilan" na sua edição electrónica.
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(1) Note-se que esta fraude VW, na mira do vasto mercado norteamericano, incide não nas emissões de CO2, mas nas emissões de NOx que têm normas mais apertadas nos Estados Unidos do que na Europa, resultantes de uma maior preocupação com as chuvas ácidas. É porventura uma das grandes razões porque lá se usa mais a gasolina do que o gasóleo nos veículos ligeiros, situação que poderia inverter-se em parte por acção da VW... o que pode ajudar a compreender os grandes interesses que estão nos bastidores deste escândalo.

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