Rem Koolhaas a aquitectura e a sociedade
Agarre nos últimos cinquenta anos de arquitectura moderna e meta os "objectos" numa centrifugadora espalhando-os no horizonte de uma cidade. Confecionará qualquer coisa parecida com Roterdão que teve a infelicidade de ter sido bombardeada por duas "coisas": bombas e arquitectos.
É mais ou menos assim que Oliver Wainwright começa o artigo positivamente "bombastico" que publicou no Guardian sobre o "De Rotterdam" de Rem Koolhaas e a arquitectura.
Koolhaas, o autor da "Casa da Música" que caiu no Porto.
"The most important thing about this project is your perception of his size and mass as you drive over de bridge" gritava Koolhaas a Wainwright no seu ruidoso BMW desportivo, a caminho do seu "longest running project" finalmente realizado.
"But is it anything more than an optical trick, a game of dancing facades best viewed from a distance?" pergunta Wainwright.
"That´s all you need to see. The rest is just cheap office building" responde Koolhaas que não o acompanha na visita ao interior do "objecto".
A constelação a que pertence Rem Koolhaas, brilha no céu da sociedade de mercado, tal como as cintilações de outras estrelas - Piano, Foster, Siza, Mecanoo, LEDs - salpicam a cidade de Roterdão.
A sua fixação no espectáculo do embrulho - as "dancing facades best viewed from a distance" - menospreza o conteúdo, o conteúdo humano. Tal como o valor de troca prevalece sobre o valor de uso na economia de mercado do capitalismo global.
"Form follows finance"!
Mas, em paralelo com este capitalismo global, estão a desenvolver-se comunidades "baseadas na literacia ecológica e na prática do ecodesign" (F. Capra, 2002) na busca de uma alternativa sustentável, em que o valor de uso prevalece sobre o valor de troca.
Enquanto que "a economia global visa maximizar a riqueza e o poder das suas elites, o ecodesign visa maximizar a sustentabilidade da teia da vida", num grande leque de iniciativas que vai de sofisticadas intervenções pontuais como é o caso do Neue Monte Rosa-Hütte, até ás propostas de reorganização das cidades e à Permacultura.
Dois modelos de vida que, no entender do Fritjof Capra, estão numa rota de colisão em que a questão central não é de natureza tecnológica mas política. "O grande desafio do século xxi será o de mudar o sistema de valores subjacente à economia global, tornando-o compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica".
Para Capra este processo está em curso. Bom! Temos que fazer por isso!
"Em Portugal a arquitectura acabou nos próximos dez anos". Palavras como balas que Souto Moura desferiu vai para um ano. Tempo para nós que vamos ficando, repensarmos a arquitectura. E, nesse repensar, não seria boa ideia deixarmos de olhar tanto para as estrelas e regressar à terra usando mais os conhecimentos do que os equipamentos?
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