Austeridade
Gaspar explica austeridadeA austeridade. A austeridade é na sociedade de mercado uma indesejável necessidade, nos antipodas da cornucópia da abundância e não a virtude axial, alicerçada na construção mental da antiguidade clássica que Ivan Illich pretende recuperar na sua alternativa convivencial à "sociedade industrial".
Correio da Manhã 2.11.12
A sociedade convivencial, para Ivan Illich, é aquela em que a tecnologia está ao serviço da pessoa integrada na sociedade e não é domínio exclusivo de um corpo de especialistas.
Na sociedade convivencial, as pessoas controlam a tecnologia.
Na acepção um tanto nova que Illich atribui ao adjectivo, convivencial será, não só o homem integro e integrado na sociedade, mas também a ferramenta que respeita a integridade da pessoa humana e contribui para a sua integração na colectividade.
"Ao homem que encontra a sua alegria e o seu equilíbrio na utilização de técnicas convivenciais", a esse homem Illich chama austero. "Ele conhece aquilo que em português se poderá designar por convivencialidade; ele vive dentro daquilo que o idioma alemão descreve como Mitmenschlichkeit."
"Porque a austeridade não tem virtude de isolamento ou reclusão em si mesma. Para Aristóteles, tal como Tomás de Aquino, a austeridade é o que funda a amizade. Ao tratar do jogo ordenado e criador, Tomás definiu a austeridade como uma virtude que não exclui todos os prazeres, mas apenas aqueles que degradam a relação pessoal. A austeridade faz parte de uma virtude que é mais frágil que a excede e a engloba: a alegria, a eutrapelia, a amizade."
A sociedade moderna cortou com esta linha de pensamento axial, entregando-se nos braços da ciência mecanicista. A austeridade, banalizada na sua actual acepção instrumental econocrática que se difunde pelas Faculdades de Economia, exclui por definição todos os prazeres e, em si, configura um processo de empobrecimento, de degradação das nossas relações pessoais, connosco próprios, com os outros, com o mundo à nossa volta, numa sociedade corroída pela competição mercantil.
Não endeusemos a ciência e os especialistas! "A ciência pode iluminar as dimensões do reino do homem no cosmo, mas precisa de uma comunidade de homens conscientes da força da sua razão, do peso da sua palavra e da seriedade dos seus actos para escolher livremente a austeridade que lhe garantirá a vitalidade". Pertinência actual a da Illich.
Pertinência actual a da Illich, pois que a alternativa actual talvez não seja entre a austeridade e o crecimento, mas entre a austeridade e a austeridade: entre a austeridade econocrática e a democrática, convivencial segundo Illich.
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