"O Capital"
"Le Capital". Este filme de Costa-Gravas evidencia entre outras coisas, como só uma boa obra de ficção o pode fazer, a cruel relação directa entre os despedimentos maciços do layoff e a valorização das acções.
Os ricos apropriam-se assim dos ganhos de produtividade alcançados pelo progresso tecnológico que é um acquis social, seguindo sem rebuço a lógica da eficiência lucrativa, no descabelado capitalismo acionista que cresceu na sociedade de mercado em que vivemos.
Afinal, não mais do que uma transferência maciça de dinheiro do trabalho para o capital, dos pobres para os ricos, ficando uns no desemprego, cada vez mais pobres, desapossados e outros cada vez mais ricos, poderosos. Os gestores que gerem essa transferência com manhosas tacticas, como a da racionalização do trabalho na empresa, são de facto verdadeiros Robin dos Bosques dos ricos. A generalização desta transferência de riqueza faz crescer o fosso entre os ricos e os pobres numa sociedade de mercado autoregulado cada vez mais desigual, como tem vindo a acontecer.
Entendamos este processo (que os cavalos de troia do capitalismo alastraram à função pública), como o de uma guerra social em que temos que tomar partido. Quem apelar para, ou embarcar em políticas de consenso, ou está a enganar tolos ou a ser um tolo enganado.
O filme de Costa-Gravas evidencia, como só uma boa ficção o pode fazer, uma outra coisa: é que ser rico não é ter muito dinheiro; é um affair de status, um estilo de vida aventureiro e luxuoso, encenado na selva urbana distópica da sociedade mercantil.
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