Reflexões Planetárias

Saturday, February 15, 2014

As cidades felizes de Hundertwasser

Porventura uma espécie de ingenuidade infantil que anima as fachadas coloridas de Hundertwasser, faz-me ver felicidade nos seus amontoados de prédios parecidos com cidades de brincar que, em pequena escala, chegou a levar à prática !

Mas, as experiências com a animação epidérmica de fachadas, jogando com cores, transparências e reflexões da luz, não trouxeram grande felicidade ás cidades... e trouxeram-lhes alguns problemas!
A pele dos edificios - a fachada - é uma interface que, por um lado contém e protege a sua vida interior e, por outro lado configura e acolhe a vida exterior que se desenrola no espaço público. A pintura de Hundertwasser está desse lado de fora.
Será que esses enormes blocos que se amontuam na cidade feliz de Hundertwasser podem proporcionar alegria, felicidade... Tal como uma central nuclear poderá passar a ser amiga do ambiente só por ser pintada de verde?
A visão da Joana igualmente ingénua e bem humorada expõe uma realidade urbana diferente.

Nesta cidade, prédios com muitos andares isolam-nos inevitavelmente em pequenas caixas quase herméticas, sem uma varanda acolhedora para cultivarmos o nosso jardim. Separados do chão, olhamos os outros lá em baixo não como pessoas mas como formigas. A mãe não pode assomar a janela para dar os últimos beijos e os ternos conselhos ao filho que sai para escola e se perde no trânsito impessoal, ou é apanhado pela carrinha do colégio distante. No vai-vem do trabalho e das compras, cruzamo-nos com os vizinhos, desconhecidos que procuramos evitar na caixa do elevador e ao passar pelos escuros vestibulos e corredores que não favorecem dois dedos de conversa. Vizinhos de que apenas nos damos conta quando incomodam com o barulho do autoclismo, o cheiro a fritos, o ladrar do cão... A lista de queixas e interminável!

O desenho ingénuo e colorido de Hundertwasser faz-nos crer que é possivel pintar de felicidade cidades densas, feitas de prédios de rendimento muito altos e espessos.
É enganador, epidérmico como a maquillage atraente que esconde o que vai na alma de muita gente da cidade.
O desenho a preto e branco da Joana é, infelizmente, mais realista e dá-nos que pensar sobre a densidade e a altura das cidades que queremos... Não só nisso, mas tambem nisso!...
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Dados sobre as imagens
-Primeira imagem: Pormenor de uma cerâmica de Hundertwasser integrada na Gare do Oriente (Colecção fotográfica do autor)
-Segunda imagem: Desenho a carvão de "Joana" (Colecção do autor)

1 Comments:

At 10:55 AM, Anonymous Anonymous said...

Bem visto!! :-) Que honra ser comparada ao Hundertwasser!

http://labs.yahoo.com/news/can-cities-make-us-happy/

 

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