"O Triunfo da cupidez"*
Para Joseph Stiglitz, a presente crise interna do capitalismo e as suas externalidades sociais resultam grandemente da desregulação do sistema financeiro. Com a argúcia de um Sherlock Holmes, Stiglitz conta-nos como nos Estados Unidos, ao longo dos últimos trinta anos, a banca foi deixando de estar ao serviço da economia e de se subordinar ao controlo efectivo do Estado que acabou por capturar.
Eu diria, nos termos de Karl Polanyi que é uma crise do capitalismo em que a banca manda na economia numa "economia de mercado" e, na sociedade numa "sociedade de mercado".
Não acompanho Joseph Stiglitz na medida em que, para ele, esta inversão é uma deformação do capitalismo, não o seu "aboutissement" e, portanto, é exequível uma reforma do capitalismo, regressando o Estado à regulação efectiva do mercado em representação da sociedade (numa democracia representativa) e o sistema financeiro à sua função primordial de apoio a economia. Keynes foi bem sucedido, sob o efeito traumático de II Grande Guerra e no contexto da guerra fria, mas se-lo-ia nas actuais circunstâncias em que o estado democrático está enfraquecido por mais de vinte anos de globalização neoliberal? E que esperar da regulação dos "mercados" por entidades internacionais como o G20, o FMI ou a Comissão Europeia? Não é "entregar o oiro ao bandido"? São orgãos em si não eleitos, tão distantes das populações quanto próximos dos grandes grupos económicos, com obra feita na... desregulação dos "mercados"!
Quanto ás externalidades ambientais, Joseph Stiglitz reconhece a importância da crise ambiental e que ela resulta do menosprezo da economia de mercado pelo ambiente, mas admite como Paul Krugman que ela poderá ser resolvida dentro do sistema capitalista pelo mecanismo do mercado "verde" promovendo um crescimento ecologicamente sustentável.
Também aqui não acompanho Stiglitz. Não me parece, com Georgescu-Roegen e Herman Dally que o crescimento económico possa ser ecologicamente sustentável e, se ele é inerente ao capitalismo como defende Paul Krugman, então o capitalismo acabará por ser insustentável seguindo o principio dos rendimentos marginais decrescentes.
Sem oposição concertada numa alternativa efectivamente democrática e ecológica, o capitalismo continuará, de crise em crise, a sua marcha triunfal para o colapso.
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* Joseph Stiglitz, Le Triomphe de la cupidité, Babel 2010
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