Reflexões Planetárias

Sunday, May 08, 2016

O inferno de Fort McMurray

Não me saiem da cabeça as imagens dantescas do incêndio florestal que pôs em fuga os habitantes da cidade de Fort McMurray, uma das boom-city que nasceram da exploração petrolífera de uma vasta mancha de areias asfalticas. As Oil Sands de Athabasca estendem-se por mais de 140.000km2 da provincia de Alberta, no Canadá.

Atraídos pela oportunidade de emprego, eles aceitaram desterrar-se para a fria floresta boreal que cobre as areias asfálticas, não avaliando bem quais seriam os riscos e o que seria viver no meio de uma crescente desolação, à medida que as explorações mineiras vão esventrando o solo e poluíndo as águas superficiais.
Ou talvez pensassem que seria por pouco tempo. Assim se pensa hoje, de forma passageira e oportunista: a curto prazo. Assim pensava o nosso ex-ministro Santos Pereira, pouco antes de chegar do Canadá para onde depois regressou, quando nos recomendava passar toda a nossa vida, gostosamente, saltitando de terra em terra atrás do emprego.
Dizia eu que talvez pensassem que seria por pouco tempo.
Mas então, mais cedo do que esperavam, foi a floresta em chamas que devorou a sua malnascida cidade e ameaça as explorações vizinhas que são o seu único pão, agravando os desoladores efeitos do violento incêndio florestal... porventura mais célere a chegar e mais violento por efeitos do Aquecimento Global... que acompanha a nossa sociedade industrial, assente na exploração dos combustiveis fósseis de que, por acaso, a das areias asflaticas é das mais virulentas! Um imbróglio infernal!
Para os econocratras que gravitam no não-lugar da macro-ecomomia, estas desgraças são não mais de que inconvenientes externalidades do seu sistema económico, para os tecnocratas de todos os quadrantes, não mais do que efeitos do progresso, efeitos colaterais ou secundários prováveis e tecnicamente solúveis: estimulantes desafios e oportunidades de negócio.
Mas sê-lo-ão do progresso, ou do abuso tecnológico?
Abuso subordinado não á eficiência mas à eficiência lucrativa. Eficiência, neste caso, na lógica do capitalismo imperial que se radica num darwinismo antropocêntrico...
Tal como a catástrofe de Fukushima e por aí adiante. Os acidentes agravam-se e multiplicam-se...
Até quando continuaremos a acreditar no techno-fix e a tolerar tais custos em nome dos benefícios que julgamos disfrutar?
Quo usque tandem abutere Catilina patientia nostra?

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