Reflexões Planetárias

Saturday, January 26, 2013

O regresso aos mercados

Duas versões (haverá mais) sobre o regresso-aos-mercados relâmpago que ribomba por todos os orgãos de comunicação social:
-A versão do governo nas palavras de Silva Pereira: "Portugal, graças à política de austeridade do Governo e aos sacrifícios dos portugueses, está a cumprir as metas do programa de ajustamento; é porque está a cumprir que teve agora condições para pedir e beneficiar de mais tempo no pagamento da dívida contraída junto da ‘troika' e é também porque está a cumprir que conseguiu o regresso antecipado aos mercados. Em suma, tudo valeu a pena. Não é que esta história não tenha a beleza das coisas simples e até o encanto do final feliz - mas tem um pequeno problema: não é verdade. Não passa de uma encenação, sem qualquer correspondência com a vida real."
Concordo com Silva Pereira.
-A versão veiculada por Manuel Pureza que considero verdadeira por se conformar com a actual conjuntura politico-económica europeia e nacional: "O regresso aos mercados não é o resultado da lucidez e sagacidade do Governo português. A lucidez, neste caso, tem perna curta: aceder aos mercados é uma das condições fixadas pelo BCE em setembro para a dívida de um Estado ser suscetível de compra pelo banco. O que o Governo agora anuncia com pompa como sendo uma vitória sua não é afinal mais do que um requisito de uma política europeia que o mesmo Governo sempre combateu. (...) Portugal regressou aos mercados no mesmo dia em que o Eurostat tornou público que a dívida pública portuguesa atingiu o seu valor mais alto de sempre. Do segundo para o terceiro trimestre de 2012, a dívida passou de 117,4% para 120,3% do PIB, sendo a terceira mais elevada da UE, a seguir à Grécia e à Itália."

Mas este regresso-aos-mercados é um assunto de bancos.
Para nós, regresso-aos-mercados só se for assim, de burro...
... pelo caminho do empobrecimento levados, levados sim, pela política de austeridade pautada pela contenção do deficit orçamental, do mais vendilhão de todos os governos que nos acorrentaram a esta eurolândia cada vez mais germanizada em que nos estamos a afundar.
_____________________________________________________
Adenda
29Jan13: Ao contrário do que previam alguns atentos economistas da nossa praça, a banca portuguesa não ficou com o grosso da emissão anunciada que, para surpresa de alguns teve "hedge funds" entre os compradores! Aventuro-me a admitir que talvez a explicação disto resida em parte no facto de que "o refugio de último recurso para os mais de $700 triliões do mercado de derivados, são hoje os dividas soberanas" (como é explicado na newsletter de 14 de Novembro de 2012 de Gains and Pains & Capital). Myret Zaqui tem vindo a chamar a atenção para o papel dos fundos especulativos no negócio das dividas soberanas. O capitalismo no seu pior!

0 Comments:

Post a Comment

<< Home