Reflexões Planetárias

Sunday, November 11, 2012

"O desafio do decrescimento" *

Victor Bento que estava para ser o Ministro das Finanças deste governo, afirmava no ano passado que "o crescimento económico é em última instância e a longo prazo, fundamental para a satisfação de praticamente todos os outros objectivos."
Alvaro Santos Pereira que veio a ser Ministro da Economia, afinava por essa altura, no mesmo discurso apologético sobre o crescimento económico, para ele não menos do que "o melhor distribuidor da riqueza".
Creio não cometer grande erro se incluir Victor Bento e Santos Pereira nos "políticos e economistas oficiais" que, segundo Manuel Castells, "estão convencidos de que ganhar dinheiro e consumir bens e serviços é tudo o que é preciso para satisfazer as pessoas, e que, para acorrer ás famílias, bastará dar prioridade ao crescimento económico, o pai que satisfaz todas a necessidades."
Habitantes do Olimpo em que imperam os modelos macroeconómicos e os grandes interesses, estes senhores menosprezam "uma realidade que está a fazer caminho por todo o mundo. Milhares de pessoas enveredaram no todo ou em parte pela auto-suficiência económica, constroem redes de troca directa, organizam cooperativas de crédito, produção e consumo, experimentam novos modelos de vida quotidiana."

"De súbito, salta-nos à vista que a denominada "crise" equivale a uma diminuição contínua em termos de produto interno bruto (PIB), dos salários e do emprego."
Então por este andar, observa Castells, a oposição entre a economia oficial e a economia alternativa deixa de se traduzir numa dicotomia entre crescimento e decrescimento, mas numa diferença entre modelos de estagnação ou decrescimento. Com a diferença de que a economia tradicional" - leia-se, oficial - "parece ter exaurido o seu percurso histórico, enquanto que as novas experiências de organização económica e social assentam numa ideia diferente de cultura que depende de nós e não do sistema financeiro e da sua imprevisível turbulência."
Atentemos nesta observação de Castells! As politicas de austeridade estão a provocar a concretização de respostas alternativas que não se subordinam ao paradigma do crescimento económico.
Ora, há dezenas de anos que este paradigma do crescimento centrado no PIB tem vindo a ser posto em causa, no meio técnico-científico e em diversos fóruns internacionais. O paradigma do crescimento por ser ecologicamente insustentável e o PIB porque além disso, mistura indiscriminadamente os benefícios e os custos do "progresso". Por isso, têm vindo a ser desenvolvidos indicadores alternativos que foram discutidos em Abril passado na Conference on Happiness.
Por sinal, foi uma outra conferência pluridisciplinar sobre decrescimento, a 3rd International Conference on Degrowth, Ecological Sustainability and Social Equity , realizada em Setembro passado que levou Manuel Castells a escrever o artigo de opinião em apreço.
Toda esta actividade tem tido reduzido eco político e mediático. O paradigma do crescimento económico parece gozar de uma espécie de indiscutível consenso que vai da direita até à esquerda, como tive a oportunidade de verificar no recente Congresso Democrático das Alternativas. Mas poderemos nós acompanhar a realidade actual fechados nesse consenso?
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* Título de um artigo de opinião de Manuel Castells, publicado na revista Internazionalle, aqui parcialmente transcrito

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