A arquitectura acabou?
Estamos num impasse. Temos que nos entender em Portugal sobre a sociedade que queremos. Nós, a sociedade, a "sociedade civil".
Plutocracia? Democracia? Quero a democracia, uma democracia participada que não se esgota no acto eleitoral, mas não é o que aqui pretendo focar e que é o seguinte:
Sem nos entendermos sobre a sociedade que queremos, não há arquitectura; a pouca arquitectura que se faz vai andado à deriva...
Dou assim uma certa razão a Souto Moura.
A minha razão que não sei se será a dele.
"Em Portugal a arquitectura acabou nos próximos dez anos", é o título de uma entrevista publicada na secção dedicada ás Artes do Diário de Notícias de 9 de Setembro passado.
"Em Portugal a arquitectura acabou nos próximos dez anos". Bom. Souto de Moura não é tão incisívo, mas não deixa de ser mordente e não menos realista: "Sete, oito, dez anos".
Então, senhores arquitectos que faremos entretanto? Fechamos a loja e mudamos de ramo... ou emigramos? E que farão, o que é mais grave, os milhares e milhares de arquitectos que preparámos para arquitectar "objectos" excepcionais, Casas da Música ou das Histórias, "obras de arte"? Jovens criativos sonhando alcançar o brilho das estrelas. Jovens que, ano após ano se foram desencantando com a vida real.
É que, neste pequeno país não há, nunca houve céu para tantas estrelas. Para elas tem que ser o mundo inteiro!
Quanto a mim, é tempo de regressar à terra. É tempo de retomar as preocupações sociais que há cinquenta anos os jovens estudantes como eu encontraram no Sindicato Nacional ds Arquitectos. É tempo de incorporar na arquitectura as preocupações ecológicas que nunca levámos a sério, ao contrário do que insistem as estrelas. Não conhecemos os princípios, nem incorporámos os métodos para o fazer bem feito. Aproveitemos - há quem viva com pouco e não tenha perdido a capacidade de sonhar - aproveitemos esta sabática forçada para comparticipar na formação de ideias de futuro para regressar à terra.
Entretanto, aí estão os milhares de arquitectos desempregados (ou mal empregados!), fruto de uma deriva que não foi só dos arquitectos, mas também de muitos outros levados pelas sereias do consumismo. Tantos jovens frustados, tantas potencialidades desaproveitadas. É um enorme desafio que eles enfrentam e que todos nós temos a obrigação moral de enfrentar com eles. É terrivelmente urgente avançar com eles para o futuro que temos que construir, se não nos quizermos condenar à irrelevância. Como? Não sei. Mas ajudará se abandonarmos a guerra das estrelas e descermos à terra.
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