Reflexões Planetárias

Saturday, December 04, 2010

Do sonho da abundância ao abuso do poder

Admitamos que a sociedade moderna começou com um sonho: o sonho da abundância rumo ao melhor dos mundos para todos.
Admitamos como razoável que, numa sociedade desigual e carenciada, o "desenvolvimento", o "crescimento económico" rumo à abundância seria apelativo.
Acontece que, com o andar da locomotiva do progresso no seio da nossa sociedade eminentemente competitiva, esse "crescimento económico" acabou por ser empalmado pelos mais aptos num conluio fraudulento: "um racket legal organizado pela classe dominante", o capitalismo segundo Al Capone, citado por Hervé Kempf.
Capitalismo em que a dominação se exerce através do mecanismo do mercado, hoje globalizado.
Mercado que Goethe associou à Pirataria e à Guerra na sua "trindade inseparável", hoje ainda mais inseparável, com os piratas nos bancos e a guerra física e psicológica aliada ao mercado por todo o lado.
A dominação não é de hoje, mas a dominação capitalista enquanto regulação de toda a nossa vida através do mercado, talvez seja. Vender para comprar sob o império da necessidade, não é o mesmo do que comprar para vender sob o império do dinheiro.
O grito moderno de liberdade foi sufocado! A igualdade e a fraternidade estão comprometidas E a felicidade com elas, o que é patente entre nós e gritante no "terceiro mundo", desventrado pelas políticas de ajustamento estrutural do FMI em conluio com o Banco Mundial. A "Grande Promessa" desfaz-se num logro, fracassa no pensar de Eric Fromm!
Ainda iludidos ou mesmo inebriados com a máquina do progresso, ou desiludidos mas impotentes para sustar o seu curso desenfreado(1), continuamos em frente pendurados no balão chinês... até esbarrarmos contra os nossos próprios conflitos e a adversidade da natureza que nós próprios agravamos. Será o colapso da nossa sociedade moderna, mas não será fim do mundo!

(1) Estou a pensar na infelicidade dos portugueses, filhos de uma miséria (quase) endémica. Pobres portugueses, que chegaram tarde, muito tarde, á festa do "progresso". Enricados à pressa pelo eurobodo desse bom aluno que foi o Professor Cavaco, votarão na sua reeleição, esperando novo milagre da multiplicação dos pães. Incentivados a gastar, a consumir, a comprar a crédito a bem do progresso, tiraram a barriga de misérias até que agora lhes trocam a cenoura pelo pau... a pouco e pouco, para não doer muito... fazendo-os regressar à triste realidade de que só escapa quem antecipa dividendos. Mas esses são os que manejam o pau e a cenoura. E Cavaco está com eles. Parvos portugueses!

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