Crescimento, crescimento, crescimento
...o crescimento económico é em última instância e a longo prazo, fundamental para a satisfação de praticamente todos os outros objectivos."
Victor Bento, 2011
Na pior das hipóteses o crescimento é, para os menos optimistas, "o melhor distribuidor da riqueza" (Santos Pereira, 2011).
Melhor ou ilusório?
Na melhor das hipóteses, os optimistas acreditam que a sociedade caminha para a felicidade com a prosperidade proporcionada pelo crescimento económico.
"Os políticos, gestores de grandes empresas e investidores que acreditavam nesta pressuposição não se aperceberam de que a prosperidade se limitava a uma pequena parte da população do mundo... que se apoiava no trabalho opressivo dos mais pobres de todo o mundo e que os seus custos ecológicos crescentes ameaçavam toda a vida na terra incluindo a dos supostamente mais prósperos."
"As nações "desenvolvidas" atribuiram ao "mercado livre" o estatuto de um deus, sacrificando-lhe os agricultores, os campos e as comunidades, as suas florestas, zonas húmidas, prados, os seus ecossistemas e bacias hidrográficas. Aceitaram a poluição universal e o aquecimento global como custos normais do negócio." (Wendell Berry)
Um sonho que se converteu num pesadelo!
Victor Bento como Santos Pereira ("Crescimento, crescimento, crescimento"), pertencem ás hostes do que ainda acreditam no optimum de Pareto que confere aos economistas do mercado protagonismo na conquista da felicidade, ou pelo menos na melhor distribuição da riqueza. Estamos a ver os resultados! Da "retoma está aí" de Manuela Ferreira Leite, passámos a uma tímida hipótese de começar a "crescer" daqui a dois anos.
Não contesto a necessidade conjuntural de um ponderado crescimento económico em Portugal.
Outra coisa diferente e contestável é a crença no crescimento económico ilimitado que menospreza a "capacidade de carga" dos ecossistemas, os "limites naturais ao crescimento" de que falava o relatório Meadows há quase quarenta anos, com consequências dramáticas que são hoje difíceis de escamotear.
Os econoptimistas continuam a menosprezá-los no mantra do crescimento económico e na persistente utilização do PIB (Produto Interno Bruto) para medir a dimensão da economia e o seu crescimento.
O PIB fez parte de um conjunto de instrumentos de gestão utilizados por Keynes para gerir a economia britânica nos tempos difíceis da II Grande Guerra, mas a evolução das economias ocidentais converteu o PIB no que é hoje: um instrumento absurdo ao serviço de um crescimento insustentável.
O PIB, tal como o seu parente PNB (Produto Nacional Bruto), mistura indiferenciadamente benefícios e custos quantificáveis e ignora a importancia capital das "externalidades": não tem sensibilidade social nem ecológica.
Simon Kuznets, um dos arquitectos deste indicador económico, não caucionou a utilização do PIB como indicador de bem-estar de uma nação. A Agenda XXI, saída da conferência do Rio de 1992, já contemplava a revisão do PIB. Têm vindo a ser desenvolvidos indicadores alternativos que procuram balancear e valorizar devidamente ganhos e perdas sociais e ambientais, tais como o Genuine Progress Indicator ou o Happy Planet Index.
A revisão do PIB não pode deixar de estar no topo da agenda das organizações da sociedade civil que em Portugal pugnam por maior justiça social e sensibilidade ambiental. Desde logo porque nesta sociedade "à razão de juros" o que não é contabilizado não conta.
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Fontes:
-Bento, Victor (2011). Economia Moral e Política. Fundação Francisco Manuel dos Santos/Relógio D´Àgua Editores, Lisboa
-Pereira, Álvaro Santos (2011). Portugal na hora da verdade. Gradiva Publicações S.A. Lisboa
-Berry, Wendell. Thoughts in the Presence of Fear
Observação: A legenda do vídeo contem vários entorses linguísticos. Entre eles temos a tradução brasileira de "scorecard" por "placar". Não é um verbo mas um substantivo. Leia-se "quadro de objectivos" ou indicadores.
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