O cavalo do inglês
Por via do ministro Gaspar - robô do "free-market" - estamos a ser objecto de mais uma experiência neo-liberal, na linha da "Grande Transformação" de matriz anglo-saxónica que começou em meados do século XIX na Inglaterra vitoriana, avançou em vários continentes, por muitos países de Africa e da América Latina como o Chile com Pinochet e o México com Carlos Salinas, abalou o "estado social" do Reino-Unido fustigado pela "Dama de Ferro", e agora ameaça a Europa na oportunidade de mais uma das suas crises financeiras para prosseguir a sua sanha de "detruição criativa".
Em Portugal, aproveita-se a actual crise financeira e a necessidade de equilibrar as contas públicas, para impulsionar a internacionalização da economia, à custa da impiedosa detruição do tecido social e das PME nele integradas. É nesse sentido que se aplica a receita do inglês, corta-se no alimento dos cavalo: corta-se nos "recursos humanos".
Espera-se que, depois do tratamento de choque, o cavalinho não morra e, pelo contrário, desate a correr muito depressa na competição mercantil internacional com a China, os países de leste e outros cavalos qualificados. Que é como quem diz, desate a produzir para exportar graças a uma mão de obra barata, dócil e produtiva, a um governo com uma legitimidade democrática formal que facilite os negócios e controle a ordem pública e a outras condições atrativas para os famosos investidores estrangeiros pois que os nossos, poucos são os que contam.
Devidamente atados aos "mercados", faz-se crer à populaça que o resto virá por acrescimo, isto é, puxado pelas exportações, no contexto da globalização capitalista em curso.
Não é preciso esperar para ver. Basta ver o que aconteceu com as outras experiências (1).
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(1) Jane Kelsey resume assim o resultado da recente experiência neo-liberal neo-zelandesa: uma sociedade profundamente fragmentada!
Comenta a propósito John Gray: "Na Nova Zelândia, como no Reino Unido o súbito aparecimento de uma "underclass" (classe cujos membros constituem familias sem proventos devido ao desemprego) é um caso de estudo de produção da pobreza num estado neo-liberal"... o que não deixa de ser irónico se considerarmos que esse é o argumento dos neo-liberais contra o estado social! ( John Gray, False Dawn, Granta Books, London, 2009).
Há uma outra ironia que é a destas experiências serem sempre levadas a cabo, à força, pelo... poder público! Ou melhor, pelo fundamentalistas do mercado infiltrados na administração pública.
O mecanismo do mercado, potencializado pelo progresso tecnológico, acabou na prática por favorecer a instabilidade e a concentração do poder à escala global, servindo interesses particulares de curto prazo dos "mais aptos" e não o "bem comum" como pretendia Stuart Mill. É que só na teoria se encontram agentes económicos perfeitos, "sérios" e bem informados e só nos contos de fadas o "bem" acaba por imperar e não a "Lei de Gresham"!
Pretendendo-se o equilíbrio social e "ambiental" -o "bem comum" afinal- o mecanismo de mercado não pode separar-se dos outros mecanismos de regulação sociais e ambientais; muito menos tomar conta deles. Mas este é o exorbitante propósito dos "mercados" e dos fundamentalistas do mercado livre (de custos sociais e ambientais: o "free market" americano) que lideram as grandes organizações transnacionais que derivaram do "Consenso de Washington", bem como dos que povoam a União Europeia e o centrão da maior parte dos estados-nação europeus como o nosso.
Mas quem poderá contrapor aos abusos do "free-market" a defesa do "bem comum", o planeamento e a concretização das acções de "interesse público" à escala dos actuais desafios sociais e "ambientais" que não seja um "poder público" forte, alicerçado em comunidades participadas, feitas de "homens comuns" livres e responsáveis?
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