Convergências
A resistência da natureza que impõe limites ao crescimento económico "sistematizados" no Relatório Meadows, bem como a resistência da sociedade à "Grande Transformação" segundo Karl Polanyi, acentuam os conflitos internos que ameaçam a gestão capitalista da sociedade moderna, "maquinista" (Lewis Mumford), em que "a mecanização toma o comando" (Siegfried Giedion) em detrimento da "nobreza de espírito" (Rob Rieman). Uma "revolução acidental" para Michael Harrington, efeito conjugado da "tecnologia e hubris" segundo Bateson.
O capitalismo que Karl Polanyi identifica com a "economia de mercado", torna-se cada vez mais "insustentável" -daí a popularidade deste conceito, à esquerda e à direita- por via de "rendimentos marginais decrescentes", segundo Joseph Tainter.
Esta crescente insustentabilidade condena desde já o Ocidente ao "crescimento zero" (Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Dally) ou mesmo ao "decrescimento" ("palavra-obus" para Serge Latouche), ou seja à "austeridade", na fase de convergência" global (Hervé Kempf), em que o centro de gravidade da "industrialização" se desloca para oriente.
Temos que escolher, não entre a austeridade e o crescimento, mas entre a austeridade econocrática da "sociedade de mercado" gerida pelos "ricos" no seu interesse exclusivo e a austeridade democrática ("convivencial", Ivan Illich), tendo no horizonte o "colapso" que desta vez será global.
Este espírito austeritário convivencial embui correntes alternativas como a da Permacultura no paisagismo e de James Howard Kunstler no urbanismo. Na minha recente participação num curso de permacultura, apercebi-me de que a austeridade implica sacrifícios que poucos de nós estão dispostos a fazer, pois lembram dificuldades antigas e contrariam facilidades recentes. Será essa a principal razão que leva ao conformismo persistente na esperança de que a "borrasca" passe... ou de que o pior venha depois de nós?
O "darwinismo social" da "sociedade de mercado" não favorece o espírito comunitário, mas sim o individualismo a par da massificação tecnológica. A crescente hostilidade do meio leva à retração dos indivíduos no "mundo de fantasia" de uma "segunda realidade", o que agrava a fragmentação social: "o processo de privatização é acelerado pela crescente inabitabilidade do que resta do espaço público. Consequentemente, aumentou a dependência dos indivíduos da fartura de meios tecnológicos de compensação - caso dos bens de consumo - a ponto de, a base real da estabilidade social, se tornar paradoxalmente dependente do avanço contínuo da autonomia por via de um consumo crescente. No seio do cidadão isolado alberga-se, não o anseio por um padrão ancestral mais simples de obrigações comunitárias, mas o desejo desesperado de um nirvana induzido pelo mercado, para obliterar os medos de um futuro aparentemente bloqueado por crises insolúveis". Assim via Martin Pawley (em The Private Future, Thames & Hudson, 1973) a civilização ocidental em que estamos embarcados, concluindo: "Se falhar o objectivo sistémico da abundância ocidental, o que ficará não será um sentido comunitário por via da austeridade, mas um colapso social absoluto, faltando a segurança proporcionada pela entreajuda e pelo apoio familiar." É o cenário do colapso por não conseguirmos abandonar a "sociedade de mercado". Neste caso a austeridade estaria forçosamente do lado dos "bárbaros".
A austeridade cabe muito bem na teoria do colapso de Joseph Tainter (The collapse of complex societies, Cambridge University Press 1988) situando-se a "econocrática" no quadro de um capitalismo persistente e a "convivencial" do lado das resilientes comunidades post-industriais (post-capitalistas), com rendimentos marginais mais favoráveis, tal como ocorreu no colapso das civilizações do passado.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home