Reflexões Planetárias

Thursday, February 20, 2014

A receita da austeridade

Regressou ás bancas a "Austeridade" de Mark Blyth publicada em português no passado mês de Outubro pela editora Quetzal.
Vale a pena ler esta obra com atenção redobrada, pois estamos a ser cada vez mais fustigados por uma espécie madrasta de austeridade que ele denuncia com consistente argumentação. O professor de Economia Política Mark Blyth defende que a austeridade é um modelo que não funciona, "é uma ideia perigosa" e está a destruir os Estados expostos à crise.



Fazendo a analogia com a medicina, estamos hoje a ser alvo de experiências crueis, congeminadas pelas fornadas de aprendizes de feiticeiro que habitam os laboratórios da economia de mercado (1).
Imaginemo-nos um ser colectivo doente que, atacado por um capitalismo agudo, entrou em recessão.
Os médicos - economistas de serviço, ensaiam receitas para salvar a doença. Não o doente. E tratam-nos como Procrustes tratava os passantes!
Coube-nos a receita de uma "austeridade expansionista" graças a uma milagrosa "confiança" dos agentes (2); receita insensata para um leigo que está a revelar-se teórica e práticamente insustentável.
Com estes médicos, entraremos em depressão e... acabaremos por morrer da cura se não nos livramos deles entretanto!
_________________________________________
(1) Estes laboratórios de ideias fazem parte integrante de um sistema ideológico, maciçamente subsidiado pelos mandarins da finança que culmina no "Prémio Nobel da Economía", aliás "Prémio da Economia em Memória de Nobel" patrocinado com um milhão de dolares pelo Banco da Suécia, em 1969.
(2) A "austeridade expansionista" foi cozinhada por um grupo de economistas italianos - os "Bocconi boys", assim designados por Mark Blyth - e culminou num paper de Alesina e Ardaña publicado em 2009, muito celebrado então pelos políticos austeritários da Europa e dos Estados Unidos e depois tecnicamente desacreditado... tal como foi oportunisticamente celebrado e depois tecnicamente desacreditado um outro paper favorável à austeridade, de Reinhart e Rogoff publicado em 2010. Uma receita que alimenta a ilusão de poder conciliar o melhor de dois mundos (para os ricos): a maior transferência de riqueza do "trabalho" para o "capital" e o crescimento económico ilimitado. A cupidez não tem limites!

0 Comments:

Post a Comment

<< Home