Reflexões Planetárias

Sunday, April 20, 2014

Um caso exemplar

Recebi por mail o seguinte apelo do grupo Google "Mude a sua vida" que transcrevo por me parecer bem fundamentado e articulado, ao qual acrescento um comentário final:

"Será que os morangos espanhóis cultivados em estufas são comestíveis? A resposta é "NÃO"!
... se o único problema destes morangos produzidos em estufas fosse a falta de sabor, ainda nos poderíamos dar por felizes...
Infelizmente, estes morangos apresentam outros problemas bem mais graves, a começar pelo facto de o seu cultivo cobrir cerca de seis mil hectares, dos quais uma grande parte alastra já ilegalmente pelo parque nacional de Doñana, uma extraordinária reserva de aves migradoras e nidificadoras da Europa - embora o poder regional a isso feche os olhos.
Para que estes morangos cheguem aos mercados europeus, devem ser transportados por camião e percorrer milhares de quilómetros. Cerca de 16.000 camiões fazem os percursos por ano.
A uma média de dez toneladas por veículo, esses morangos valem o seu peso em CO2 e gases nocivos ao ambiente e ao homem.
Mas os perigos desta agricultura não são só estes.
Sabe o leitor como é que estes morangos espanhóis são cultivados?
O morangueiro é uma planta vivaz que produz durante vários anos.
Contudo, os morangueiros destinados a esta produção em estufa fora da época são destruídos todos os anos.
Para dar morangos fora de época, as plantas produzidas in vitro são colocadas em frigoríficos no pino do Verão, a fim de simular o Inverno, o que activa a produção.
No Outono, a terra arenosa é limpa e esterilizada, e a microfauna destruída por meio de bromometano (brometo de metilo) e de cloropicrina.
O bromometano é um poderoso veneno proibido pelo protocolo de Montreal sobre os gases nocivos à camada de ozono.
A cloropicrina, composta de cloro e de amoníaco, não é menos perigosa, pois bloqueia os alvéolos pulmonares.
Os morangueiros são cultivados em terreno coberto por plástico preto e a irrigação inclui fertilizantes, pesticidas e fungicidas.
Quanto à água de irrigação, provém de furos artesianos - dos quais mais de metade já foram instalados de modo ilegal.
Tudo isto está a transformar esta parte da Andaluzia numa savana seca, provocando assim o êxodo das aves migradoras e a extinção dos últimos linces pardel, pois estes pequenos carnívoros (dos quais somente uma trintena deve subsistir ainda na região) alimentam-se de coelhos, animais também em vias de desaparecer.
Por outro lado, para arranjar lugar para os morangueiros, já foram arrasados pelo menos 2.000 hectares de floresta.
A produção e a exportação destes morangos produzidos em Espanha começa um pouco antes do fim do Inverno e termina nos princípios do mês de Junho.
Os trabalhadores devem nessa altura voltar às suas casas ou exilar-se algures em Espanha. Se contraíram doenças por causa dos produtos nocivos que respiraram, têm o direito de se tratar... à sua própria custa.
A maior parte dos produtores destes morangos espanhóis utiliza mão-de-obra marroquina, trabalhadores sazonais ou clandestinos, mal pagos e alojados em condições precárias. Para se aquecerem à noite durante o Inverno, este trabalhadores queimam os resíduos dos
plásticos que cobrem os morangueiros.
De qualquer modo, todos os anos no fim da época desta cultura, as cinco mil toneladas de plásticos utilizados serão levadas pelo vento, enterradas de qualquer maneira e em qualquer sítio, ou queimadas no local...
Não será necessário dizer que nesta região da Andaluzia, onde prospera esta aberrante agricultura, as doenças pulmonares e de pele estão em franca progressão.
Quem se preocupa com isso? Ninguém!
Por que razão os meios de comunicação não falam sobre o assunto?
Mistérios do que não é política e economicamente correcto...
Quando a região tiver sido completamente vandalizada e a produção se tiver tornado demasiado onerosa, os produtores transferirão tudo para Marrocos, país onde aliás já começaram a instalar-se.
Mais tarde, irão provavelmente para a China... A população europeia
ainda em vida encontrar-se-á doente ou no desemprego... mas feliz por comprar produtos baratos...
Que podemos fazer para combater esta tendência?
Cada um de nós é livre de agir em consciência e com conhecimento de causa: comprar ou boicotar a compra de qualquer artigo que não seja produzido em conformidade com as leis da natureza e/ou dos direitos humanos.
Todos podemos escolher fazer um boicote pessoal. E se a maioria dos cidadãos assim procedesse, os grandes "tubarões" da economia seriam obrigados a mudar os seus étodos, sob pena de também eles porem em perigo a sua própria existência.
A escolha está nas mãos de cada cidadão!"

Eis um enorme progresso científico-tecnológico utlizado para aumentar a produtividade e promover o consumo hoje dificultado pela redução dos salários e pelo desemprego, na lógica mercantil de um sistema predador que institucionaliza a cupidez.
Em nome da eficiência lucrativa, reduzem-se as pessoas a "recursos humanos" e a natureza a uma soma de "recursos naturais", desmultiplicando as "externalidades": sofrimento humano e disrupção da natureza.
Face a este Moloch tecnocrático (que conta com o poder mediático) a resposta não se poderá ficar pelo boicote pessoal, esperando que ele se generalize ao ponto de obrigar os "tubarões" a mudar de rumo.
O boicote ao consumo é uma espécie de greve, uma greve de consumidores de carácter inorgânico, como tal efémero e inconsequente. Como o seria uma greve geral de trabalhadores propagada pelas redes sociais.
Mesmo orgânicas, as greves estão hoje a ser erodidas pelo facto de terem sido internalizadas pela estrutura de poder, na medida em que não o põem em causa.
O que assusta os mandarins e seus sacerdotes do mercado não são as greves mas a solidariedade activa dos trabalhadores que ousam tomar o controlo de empresas ameaçadas por deslocalizações ou falências, tal como aconteceu em Portugal, em pequena escala, no sector textil e poderia ter acontecido, em grande escala, nos Estados Unidos por ocasião das nacionalizações na industria automóvel... se houvesse um movimento organizado dos trabalhadores do sector. A crise não é só uma ameaça, é também uma oportunidade!
Mais do que os boicotes ao consumo que, aliás, não deixam de ter a sua eficácia e, mais do que as greves, estas iniciativas dos trabalhadores no segmento da produção podem conjugar a resolução de problemas ambientais na origem com a resolução de candentes problemas sociais, contribuindo assim efectivamente para a construção de uma alternativa "sustentável". Noam Chomsky fala disso aqui.

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