"The American Motorway of Life"
Entrevistado por Daniel Mock e Stephan Trûbi (DM&ST), Noam Chomsky (NC) desmonta o conluio entre o mundo dos grandes negócios e o da política americana que conduziu à dependência do automóvel e à dispersão urbana ("urban sprawl"), à dependência do petróleo, às "guerras do Iraque", às "alterações climáticas"...
.... E à dificuldade em sair de tal embrulhada, pois que toda esta dependência se encontra hoje materializada numa vasta suburbanização associada a uma extensa rede rodoviária!
Eis a entrevista (1):
DM&ST:"A civilização suburbana parece ser muito "americana"....
NC: Foi criada nos anos quarenta pelo maior projecto estatal de engenharia social da história sob a administração Eisenhower - muito para além de tudo o que se fez na Rússia. O objectivo fundamental foi o de eliminar o transporte público, destruir o centro das cidades ("inner cities"), forçar toda a gente a usar automóveis e camiões de carga.
Nos anos quarenta havia uma autêntica conspiração, bem real, entre a General Motors, a Fireston Rubber e a Standard Oil, para comprar todo o sistema de transportes públicos, destruí-lo e obrigar toda a gente a andar de carro e autocarro (2). A conspiração foi a tribunal, eles foram julgados e condenados a pagar qualquer coisa como 5.000 dólares. Então veio o governo e tomou conta da operação sob a bandeira da defesa.
DM&ST:Refere-se ao National Interstate and Defense Highway Act de 1956, do presidente Eisenhower?
NC: Sim. O pretexto do National Defense Highway Act era o de movimentar mísseis por todo o país. Mas o que visava de facto era subsidiar em massa o transporte rodoviário - carros, camiões de carga, gasolina, etc - e minar o transporte público.
Os fundos foram para o sistema rodoviário e para o sistema de transportes aéreos, que é uma emanação do estado; quero dizer, consideram-no privado, mas é tão privado como a Airbus.
DM&ST: Quais foram os efeitos disso?
NC: Um dos efeitos foi o de atirar a população das cidades para os subúrbios. Destruiram o sistema de transportes públicos. Veja o caso do subúrbio em que vivo, Lexington, 16 quilómetros a oeste de Boston.
Boston tem um eficiente metro que vai desde o MIT em direção ao subúrbio a oeste, mas pára no limite de Cambridge. Houve uma tentativa para o estender até ao subúrbio oeste. Se o tivessem feito seriam dez minutos de casa ao trabalho, mas assim tenho que lutar com o trânsito 45 minutos para lá e outro tanto para cá.
Foram os cidadãos de Lexington - profissionais liberais, médicos, advogados, professores - considerados de esquerda nos Estados Unidos, que não quizeram. Preferiram continuar a lutar com o trânsito duas horas por dia, a correr o risco de um pretinho do centro de Boston poder ir passear nas ruas de Lexington. Esta espécie de atitudes racistas aliadas a intervenção maciça do estado atiraram a população para os subúrbios."
Como somos ingénuos acreditando que o "american way of life" assenta na livre concorrência da economia de mercado!
E como até gente bem pensante de esquerda assobia para o lado... Em cínica ou pragmática contradição com os seus pretensos ideais universalistas!
E como esta embrulhada nos está a sair tão cara!
________________________________________________
(1) On homeland paranoia and security, 5 Codes, Ed. Igmade, Birkhauser, Basel 2006
(2) Foi com este propósito, refere Langdon Winner que o Mayor de New York, Robert Moses, reduziu a altura dos viadutos das novas vias rápidas sobre as outras vias públicas, de modo a impedir as pessoas, designadamente as minorias étnicas e os mais pobres, de usar os transportes públicos para ir ás praias e parques dos arredores.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home