Reflexões Planetárias

Tuesday, March 22, 2011

Uma arquitectura que "faça sentido"!

"Perdidos num espaço anónimo, indistinto, normalizado, indiferente, universal...vamos perdendo a sensibilidade cultivada por Proust e, com ela, a possibilidade de desfrutar as particularidades dos lugares"...

Para que a arquitectura faça sentido precisa de ter um sentido.
Que ele seja o sentido da vida!
No sentido mais directo desse sentido, a arquitectura que faz sentido é a que vivifica os nossos sentidos numa experiência dinâmica e unificada do mundo à nossa volta.
Para David Abram "O corpo... não é um objecto autoconfinado, mas sim uma entidade aberta e incompleta. Esta abertura é evidente na disposição dos sentidos: tenho essas multiplas maneiras de encontrar e explorar o mundo - escutar com os ouvidos, tocar com a pele, ver com os olhos, saborear com a língua, cheirar com o nariz - todos estes vários poderes ou caminhos se abrem continuamente para o exterior do corpo que percepciona, como diferentes carreiros numa floresta.
No entanto a minha experiência do mundo não é fragmentada; não experiencio usualmente a aparência visível do mundo de nenhuma forma que seja separável do seu aspecto audível ou da miríade de texturas que se oferecem ao meu tacto....
Assim, os meus sentidos divergentes encontram-se uns com os outros no mundo circundante, convergindo, misturando-se nas coisas que percepciono. Podemos pensar o corpo que sente como um circuito aberto que apenas se fecha nas coisas do mundo à nossa volta. A diferenciação dos meus sentidos, bem como a sua convergência espontânea no mundo em geral, assegura que sou um ser destinado ao relacionamento. É, antes de mais, através do meu envolvimento com o que não sou que efectuo a integração dos meus sentidos, experienciando assim a minha própria unidade e coerência.
Na verdade, o fluir sinestésico conjugado numa experiência dinâmica e unificada está em acção mesmo dentro do sistema da própria visão. Porque a visão corrente é uma mistura de duas vistas, duas perspectivas, dois olhos que são únicos. Mesmo no interior de único sistema sensorial, discernimos uma abertura ou divergéncia - neste caso, entre os dois lados do meu corpo, cada um com o seu próprio acesso ao visível - e é somente pela convergência e encontro dessas duas perspectivas num certo ponto à frente do meu corpo que o mundo visível se torna presente para mim em toda a sua profundidade."

Neste entendimento das nossas relações com o mundo à nossa volta, a arquitectura que faz sentido não é aquela que se acorrenta a regras ou normas, mas a que nos ajuda a rejuvenescer a consciência que temos do mundo, fazendo com que os nossos sentidos acordem para o mundo em que estamos presentes.
Obra de afirmação, mas não de afirmação de uma ideia abstrata contra a realidade do mundo vivo, reduzido a uma máquina de que pretendemos ser o maquinista: Deus ex-máquina.
Obra de integração, de integração no mundo em que nos sentimos enraizados. Forma de integrar a experiência visual numa experiência sinestésica, de integrar esta experiência na vida quotidiana, de integrar a vida quotidiana no contexto ecológico, através de um método que integre a razão e a sensibilidade.

Fonte da figura: Fotografia do autor

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