Montessori
A exposição flúida e viva de Hertzberger, recheada de atraentes imagens verbais e visuais levou-me a acreditar na capacidade do método de Montessori para introduzir a criança numa sociedade aberta e participativa.
Por isso me surpreendeu a crítica de Jacques Ellul que, em "La Technique ou l´enjeu do siècle", citando uma declaração pública proferida por Maria Montessori na Unesco em 1949, a acusa de pretender inculcar na criança uma espécie de super-ego de cariz tecnocrático!
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O método de Montessori combina razão e afeição e favorece a criatividade individual por via da experiência multissensorial do meio próximo, evidenciando um apertado controlo indirecto no desenho e na utilização de materiais e formas abstratas, simples e atraentes, em jogos didáticos que são postos à disposição da criança, tal como fora idealizado por Froebel.
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Montessori seguia o que a ciência do seu tempo entendia ser a evolução psicofisiológica do ser humano, ao longo da sua vida e, particularmente na primeira infância.
A par da liberdade individual que o método cultiva, Maria Montessori insistia na transmissão valores, no desenvolvimento de uma consciência social desde tenra idade, seguindo o humanismo universalista que perfilhava.
Ellul via no discurso de Montessori um pendor tecnocrático, seguindo os fundados temores do seu tempo, assolado pelo nazismo e pelo estalinismo. Em contraposição, a dúvida que nos dias de hoje me fica a pairar, incide sobre a contribuição de métodos de educação centrados na liberdade para a propagação do individualismo, nas sociedades liberais em que se exalta a competição, contra a ideia de uma sociedade aberta e participativa.
Mas o ideário da Revolução Francesa não dissociava a liberdade da igualdade e não esquecia o cimento afectivo da "fraternidade". Um equilibrio de ideias e sentimentos que se me afigura patente na leitura de Montessori.
Fonte da imagem que mostra jogos didáticos de feição neoplástica, inspirados em Froebel :
http://www.eamonokane.com/playgrounds/
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