Milton Friedman
Caiu-me ontem debaixo dos olhos uma série de entrevistas de Milton Friedman, dadas no prelúdio da arrancada neo-liberal que nos trouxe até à crise financeira em que nos encontramos.
Friedman é um comunicador nato. Com contida ironia e cativante à vontade, responde sem rebuço ás mais difíceis perguntas.
-O senhor ganha fortunas dando conferências!?
-Pagam-me bem. É a lei da oferta e da procura.
-O que faz ao dinheiro que ganha?
-Não é da sua conta, é cá comigo.
Friedman divulga com eficiência a teoria do mercado livre que emigrou para os States com os refugiados da escola austríaca (1), através de uma formula atraente:
"Liberdade de escolher".
A simplicidade da teoria que se resume a subordinar o poder político ao poder económico, no pressuposto de que o princípio de Pareto garante a bondade do mercado livre, ajuda à clareza da exposição, mas começa hoje a revelar-se terrivelmente simplista, confrontada com os resultados de 30 anos de neo-liberalismo nos dois lados do Atlântico, desde os consulados do cowboy virtual americano e da associal "dama de ferro" britânica.
É visível que o descabelado liberalismo conduziu, apoiado nas novas tecnologias, à dominação da banca que está a corroer a própria economia capitalista.
Também parece claro que a " liberdade de escolher" não passa de um acessório, atraentemente enganador, do produtivismo possibilitado pelo progresso tecnológico orientado para o ganho e poder.
Liberdade de escolher, mas dentro dos limites da eficiência económica que se chama lucro.
Daí a decisiva importância da combinação entre publicidade e marketing.
Estamos pois na versão capitalista da sociedade tecnológica - maquinista na terminologia mumfordeana - que é essencialmente uma sociedade de massas.
Massas de gente e de dinheiro.
O individualismo é ilusório e instrumental no conúbio da democracia formal com os "mercados", em que o Estado visa facilitar os negócios mas também controlar a conflitualidade social que tende a agravar-se. Que se pode esperar numa sociedade de massas em que se exalta a competição e não a cooperação?
(1) Não passou pela cabeça dos austríacos da escola de Hayek que o seu liberalismo individualista conduziria a concentração do poder financeiro por via da competição desenfreada?
O seu compreensível horror ao Estado centrava nele todos os seus temores. Não anteviam o perigo das "corporations" que estava do outro lado da tecnocracia e que os lúcidos "founding fathers" haviam já prenunciado.
Governos minados pelo liberalismo dos "rapazes de Chicago", conjugado com os interesses, desregulamentaram, não fiscalizaram, deixaram os mercados financeiros à redea solta, a caminho da bancarrota. Gueitner's sucederam-se a Greenspan's e aqui estamos nós agora, depois de entregar o ouro ao bandido, a sofrer o assalto da banca aos Estados por via dos juros da "dívida soberana".
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