Reflexões Planetárias

Wednesday, April 27, 2011

A Ameaça Nuclear

O acidente de Fukushima Daiishi volta a trazer para a primeira linha das nossas preocupações o risco de acidente nuclear.
E bem se podem preocupar os britânicos, franceses, alemães e vizinhos. Sobretudo os franceses que enveredaram pelo "tudo eléctrico" assente nas centrais térmicas de fissão nuclear.
Portugal não tanto, segundo o mapa de risco recentemente publicado na revista Nature. Mas será bem assim? Espanha tem oito reatores em seis centrais nucleares. Não estão todas assinaladas no mapa. Nota-se a falta da que mais nos ameaça: a central nuclear de Almaraz (Cárceres), arrefecida pelas águas do Tejo, a pouco mais de 100 km da fronteira e a cerca de 300 km de Lisboa, tal como Fukushima está de Tokyo.


O risco de acidente nuclear deve-se a causas naturais e humanas praticamente impossíveis de prevenir, mas também a falhas e negligências humanas impossíveis de evitar. O risco aumenta com o número de reatores nucleares, hoje cerca de quatrocentos e cinquenta em todo o mundo, mas que deverá ser da ordem dos mil e oitocentos para que substituam a electricidade proveniente de combustíveis fósseis, segundo o histórico engenheiro catalão anti-nuclear Pep Puig.
As consequências de um acidente são quase apocalípticas num raio de dezenas de quilómetros. Até agora tem sido evitado o pior, graças aos travões tradicionais persistentes na sociedade japonesa e à competência dos seus técnicos nucleares que têm retardado a fusão dos corações dos reatores (1)!
A opção nuclear é para nós um acidente anunciado inaceitável!

Actualização em 26 de fevereiro de 2016: Notícia sobre a ameaça da Central nuclear de Almaraz aqui
___________________________________________________
(1) O mesmo não se pode dizer da empresa Tepco que explora esta central de Fukushima que, com a conivência do governo ignorou, por razões comerciais, os riscos conhecidos de tremor de terra e maremoto que impendem sobre o local. Conforme disse Eisaku Sato, ex-governador da perfeitura de Fukushima : "Quem criticar o poder nuclear é tratado como inimigo dos estado". Seguindo os ditames da indústria nuclear que forma com o governo o que se designa por "atomic village", "o Japão aceitou normas de segurança claramente insuficientes e as suas autoridades nucleares nem sequer fazem respeitar essas inadequadas normas".
A "atomic village" tem contrariado o aproveitamento de energias naturais existentes no Japão como a eólica, a geotérmica e a hídrica. Tendo sido, a indústria japonesa, pioneira na energia solar, restavam em 2005 apenas 10% dos colectores solares domésticos existentes em 1980.
A conservação de energia tem sido menosprezada: os edifícios de habitação e de serviços, incluindo os da administração pública desperdiçam muita energia. A maioria das casas japonesas, são construções leves feitas de partes prefabricadas, mal vedadas e isoladas, muito embora o Japão exporte janelas muito eficientes. O conforto no inverno e no verão depende muito de equipamentos em que tem sido encorajado o uso da electricidade. Tal como fez a EDF em França nos anos 60-70 ao serviço da energia nuclear. A Tepco encorajou a passagem do gás para a electricidade para aumentar o seu volume de negócios. Compreende-se assim que o Japão consuma mais 15% de electricidade per capita do que um país igualmente industrializado como a Alemanha... e que a "global village" tenha nisso assinalaveis responsabilidades.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home