Desemprego
Let man take over *O aumento do desemprego está na ordem do dia.
Há explicações que entretecem fragilidades nossas, antigas, com bons alunos de maus professores e políticas europeias de austeridade que provocam recessão económica e anti-inflacionistas que favorecem o desemprego. Há, evidentemente, na Europa e nos Estados Unidos, o desemprego provocado pelas deslocalizações na restrita e fria lógica empresarial de custos-benefícios, em que figuram os custos do trabalho.
Mas há uma outra ordem de razões mais profunda e, por isso mais preocupante, para os que não acreditam na absoluta bondade do progresso e que se pode colocar nos seguintes termos:
É compreensível que a comoditização do trabalho humano, na lógica capitalista acoplada à eficiência tecnológica, conduza à imparável redução dos custos do trabalho e, finalmente, ao desemprego tecnológico(**).
(***)
No fim da história teremos uma sociedade maquinista, constituida por uma classe possidente de ricos e por "robots". Um cenário recorrente na ficção científica.
Encetámos, mais uma vez, essa distópica caminhada há cerca de trinta anos com os "mercados" a tomarem conta da sociedade, seguindo a lógica do capitalismo, nu e cru, agora sem o freio moral, uma vez abandonado o keynesianismo e afastado o espectro do comunismo soviético.
Estaremos "condenados à morte"(****) se não mudarmos de rumo, subordinando os "mercados" à sociedade e, nesse sentido moral, pondo a tecnologia ao serviço de uma vida melhor para todos nós.
Nos passados anos trinta , Bertrand Russel contrapôs à "parábola" da fabrica de alfinetes de Adam Smith, centrada na eficiência ao serviço do mercado, a sua fábrica de alfinetes orientada para uma vida melhor.
A história, contada por Herman Dally, é a seguinte:
Suponhamos que, a dada altura, um certo número de pessoas, se mete a fabricar alfinetes. Fazem tantos alfinetes quantos os necessários no mundo, trabalhando (digamos) oito horas por dia. Alguém inventa entretanto um processo de divisão do trabalho pelo qual, o mesmo número de pessoas faz o dobro dos alfinetes no mesmo tempo. Mas o mundo não necessita do dobro dos alfinetes. Os alfinetes são já tão baratos que dificilmente se conseguem comprar mais baratos. Num mundo sensato, todos os que se dedicavam ao fabrico de alfinetes passariam a trabalhar quatro horas em vez de oito e tudo o mais continuaria como dantes. Mas no mundo actual isso seria considerado desmoralizador. Os homens continuarão a trabalhar oito horas, haverá alfinetes demais, alguns empresários irão à falência e metade dos homens que trabalhavam no fabrico de alfinetes irão para o desemprego. No final da história, haverá os mesmos "tempos livres" nos dois casos, mas no segundo caso metade dos homens estará sem trabalho e a outra metade estará sobrecarregada. Desta forma, o inevitável "tempo de ócio" causará miséria por todo o lado, em vez de constituir uma fonte universal de felicidade.
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* Lewis Mumford em "The Myth of the Machine", a propósito da surpreendente reacção dos cidadãos ao apagão ocorrido em Novembro de 1963 que durante doze horas afectou 30 milhões de pessoas na região NE dos Estados Unidos. Mumford reproduz as palavras do astronauta John Glenn quando o mau funcionamento do controlo remoto da nave espacial em que seguia colocou a sua vida em risco eminente. Então ele salvou-se por um triz, assumindo pessoalmente o comando das operações proferindo as palavras de ordem que ficaram na história do progresso: "Now let man take over".
** Detroit 1990: As três maiores empresas empregavam 1.2 milhões de pessoas para um volume de negócios de cerca de 250 mlhões de dólares. Silicon Valley 2014: As três maiores empresas empregavam cerca de 140 mil pessoas para um volume de negócios idêntico. O crescimento económico para compensar a diferença afigura-se simplemente impensável! (Dados de Andrés Ortega, La imparable marcha de los robots", Ed. Libros Singulares)
*** Está aqui (por enquanto) uma modesta cópia do filme completo(?)... e em duplicado!
**** Quero eu dizer com isto: Sendo os trabalhadores a maioria dos consumidores, acabarão por morrer de fome e o sistema só não irá à falência se a minoria possidente que se apropria dos ganhos de produtividade, os substituir no consumo e conseguir subsidiar um estado autoritário vocacionado para combater as "externalidades" sociais e ambientais, com "pão e divertimentos", persuasão e repressão e, contenção dos desastres ambientais. Mas, note-se, a "culpa" não é das máquinas que apenas aceleram um processo hubristico centrado na eficiência lucrativa que é fruto da inteligência humana. Admitamos que (por enquanto) está ao nosso alcance rejeitá-lo por outro orientado para o bem comum, rumo principal da democracia.
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