A democracia tripudiada
Diz-se que o 25 de Abril devolveu a liberdade política aos portugueses.
Quarenta anos depois, os resultados das eleições para o Parlamento Europeu realizadas no domingo passado, mostram a todo o mundo que os portugueses, na sua esmagadora maioria, não querem a liberdade política para nada!
Cerca de 66% dos eleitores inscritos disseram com a sua abstenção que "tanto lhes servem estes governantes como quaisquer outros" e que, o que é mais grave, "não dão nenhum valor ao facto de poder manifestar a sua opinião sobre a governação" (1) da Europa, hoje mais do que nunca indissociável da governação do país.
Não é ainda menor ofensa à democracia, o facto de estarmos hoje a ser governados por uma coligação de dois partidos que recolheram apenas cerca de 27% dos votos. Deduz-se então que apenas um em cada dez eleitores inscritos está do lado da coligação que nos últimos três anos, colocando-se do lado dos ricos e poderosos, dos "mercados" como se costuma dizer, em sintonia com as instâncias europeias subjugadas pela Alemanha, forçou um rol infidável de medidas antidemocráticas contra os trabalhadores, a classe média, os pensionistas e reformados, contra a escola pública, o serviço nacional de saúde e a segurança social, dividiu a sociedade portuguesa, favoreceu as grandes empresas, continuou a pactuar com a especulação bancária e com a corrupção, privatizou "à outrance" monopólios naturais e serviços de natureza pública, deixou correr os contratos ruinosos para o erário público...
Estamos confrontados com uma mistificação de uma violência inaudita!
Violência sim! A "força, a violência nem sempre estão do lado que parece. A violência institucionalizada, aquela que pretende apoiar-se sobre a vontade da maioria (2), uma maioria atontada, não pela acção da marijuana, mas pela intoxicação dos média e dos automatismos culturais, atirando areia sobre o solo poeirento da História, a violência dos justos e bem pensantes, como os que colocaram Cristo na cruz, sempre solidamente agarrados ao seu templo, ás suas condecorações e mercadorias; esta violência é fundamentalmente contrária à evolução da espécie"
Palavras de Henri Laborit que concorda com D. Quixote: combater toda a autoridade imposta pela força. Consequentemente, "tomar sistemáticamente o partido dos mais fracos é uma regra de que nunca nos arrependeremos. Mas é preciso que não nos enganemos no diagnóstico, para saber quem são os mais fracos... A retórica do discurso é muito bem capaz de camuflar a relação de forças."
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(1) A abstenção é assim interpretada por Carlos Paz, no seu "Manifesto contra a abstenção" que circulou na net.
(2) Hoje nem isso, como acabo de salientar.
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