“Form follows funtion”?
“ He could now, undisturbed, start on the course of practical experimentation he long had in mind, which was to make an architecture that fitted its functions – a realistic architecture based on well defined utilitarian needs – that all practical demands of utility should paramount as basis of planning and design; that no architectural dictum, or superstition, or habit, should stand in the way.”
...“This meant in his courageous mind that he would put to the test a formula he had evolved, trough long contemplation of living things, namely that form follows function , which would mean, in practice, that architecture might again become a living art”...
Neste passo da sua “autobiografia de uma ideia” Louis Sullivan, colocando-se na terceira pessoa de um arquitecto que reflete sobre a arquitectura, retoma a sua formula lapidar publicada em 1896, a que diz ter chegado por via da observação dos seres vivos.
Uma ideia que gravitava na atmosfera das artes de então. Um século antes, o padre jesuíta Carlo Lodoli defendia que a arquitectura se devia basear em considerações funcionais ou racionais. Na primeira metade de oitocentos os escultor neoclássico Horatio Greenough criticava o historicismo contemporâneo e defendia um programa de reformas em que o conceito de função ocupava um papel central.
Nas mesmas águas navegavam Viollet-le- Duc e Gottfried Semper que, tal como Greenough, sofreram a influência da sistemática de Cuvier. Greenough e Sullivan foram influenciados por Ralph Emerson, filosofo naturalista que pensava que a arquitectura não devia resultar de escolhas arbitrárias ou caprichosas.
Do outro lado, nas ciências da vida, biólogos como D´Arcy Thompson investigavam as relações entre a forma e a função. “On growth and form” é um trabalho científico publicado em 1917 que se situa na fronteira entre a ciência e a arte. "Good literature as well as good science" no dizer do Prof. J. T. Bonner, reponsável pela edição abreviada da obra.
Eis alguns dos “links” em que se cruzam os ventos da arte, da ciência e da filosofia novecentista.
“Form follows function” inscreve-se pois no pensamento moderno e veio a constituir o lema da arquitectura moderna do seculo XX. A sua leitura redutora, determinista, maquinista, veio a provocar a reação pós-moderna plasmada no contra-lema de Horst Rittel: “form follows fiction” e foi mesmo posta em causa, como um formalismo encapotado, por Reyner Banham e Jan Michl entre outros.
Afinal em que ficamos?
Deixando os radicalismo extremos, atentemos na nossa experiência profissional, sem preconceitos. Não vemos nela um processo circular centrado na forma em que a forma segue a função e esta a forma?
Em termos vitruvianos, venustas, soliditas e utilitas são os vértices de um grafo triangular, em que a forma sensível – venustas – tem, na arquitectura, um papel integrador segundo Ludovico Quaroni.
Quaroni, na última das suas “oito lições de arquitectura”, ilustra esta ligação triangular com a sua história do campanário, em que a forma parte de necessidades práticas, contempla implicações construtivas, ganha valor simbólico e evolui com o gosto dos tempos:
“É evidente que um campanário, que nasce para colocar bem alto os sinos de modo que se ouçam à maior distância possível passando por cima da massa de casas e árvores, acaba naturalmente por constituir o “signo” da igreja."
"Já é mais oscilante o caminho seguido pelo campanário, para distinguir-se duma torre defensiva, ao constituir-se como apoio do “símbolo” que o distingue: a cruz. O campanário românico da Europa central é uma torre quadrada coberta por um simples telhado de quatro águas com uma pendente normal que sustenta no seu vértice uma simples cruz de ferro; a arquitectura gótica entende que isto não basta para a engrandecida importância social da religião e elabora o telhado, tranformando-o numa cúspide, porventura de madeira, mas aumentada na altura para duplicar a visibildade do “signo”...”
“Com a mudança de gosto da revolução barroca, deixa de agradar a enfatização do sustentáculo da cruz pela verticalidade das vertentes do telhado; a cúspide ponteaguda é demasiado rígida, demasiado essencial e severa para o novo gosto e é substituida por uma cobertura em forma de bolbo que apresenta as mesmas características de “terminação”, de signo visível ao longe; no caso da altura não ser muito grande, o arquitecto intervem carregando o signo com a cor. Com o verde claro do cobre oxidado, como o vermelho da pintura, com azulejos amarelos e verdes ou até com ouro. O importante é que se veja a grande distância.”
“Com esta operação estamos muito longe da “função primária” de proteger os sinos da chuva: o signo converteu-se em algo mais, embora o campanário rustico românico já fosse arquitectura, e achamo-nos face a uma “segunda função.”
Função, entendida num sentido lato ou, como dizia Alvar Aalto, "num sentido muito mais vasto do que o do funcionalismo técnico" (A humanização da arquitectura, The Tecnological Review , 1940).
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