"Form follows function" segundo Alvar Aalto
"Foi naquele trabalho que pela primeira vez contactei com a tragédia humana. Refiro-me ao Sanatório de Tuberculose de Paimio.
Quando me encarreguei do projecto encontrava-me também doente. Tive então a oportunidade de fazer algumas experiências e aperceber-me realmente do sentimento de estar doente.
Irritou-me o facto de estar permanentemente na posição horizontal e, a primeira coisa que reparei, foi que os tectos e as paredes eram concebidos para pessoas que passam o dia de pé e não para quem tem que estar sempre na cama.
Tal como os insectos à volta da luz, os meus olhos eram atraídos constantemente pela luz eléctrica.
Um quarto que não é concebido especificamente para pessoas acamadas não favorece nem equilíbrio nem paz interior.
Portanto, tentei desenhar quartos para pacientes que proporcionassem um ambiente tranquilo ás pessoas obrigadas a permanecer deitadas.
Por exemplo, não utilizei a ventilação artificial pois produz uma corrente de ar na cabeça. Em vez disso, concebi um sistema que permite a ventilação natural pelas janelas."
Neste texto da palestra Entre o humanismo e o materialismo que proferiu na Conferência da Associação dos Arquitectos de Viena em 1955, Alvar Aalto aborda as relações entre a arquitectura e o homem, carreando para a arquitectura, com grande sensibilidade, conhecimentos científicos sobre psico-fisiologia humana.
O Sanatório de Paimio foi projectado por Alvar Aalto e construído entre 1929 e 1933. A figura inclui a imagem de um quarto-tipo e desenhos do projecto. Uma disposição "funcional" que se tornou típica nos hospitais.
Simples não é? Simples mas não simplista!
Lá está o tecto que, por razões de conforto, não é branco, salvo na zona de reflexão da luz artificial indirecta. Na imagem inferior da figura vê-se um corte do lavatório do quarto, cuja forma foi estudada para atenuar a pancada da água, reduzindo os salpicos e o ruído.
Exposta ao quadrante sul, a parede envidraçada da altura das camas até ao tecto, possibilita o acesso à luz natural até ao fundo do quarto e o franco contacto visual com o exterior ao paciente acamado. Luz e vistas reguladas por cortinas interiores que também podem atenuar o efeito de parede fria durante a noite ou nos dias frios sem sol.
Conforme se vê na figura acima, as janelas são duplas, são protegidas por estores exteriores e têm bandeiras que, segundo creio, permitem a ventilação natural evitando a tal "corrente de ar na cabeça".
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