Reflexões Planetárias

Thursday, August 23, 2007

É possivel uma mudança radical!

É possivel mudar radicalmente o sistema social. Atentemos na "victory society" que emergiu na aflição da 2ª Grande Guerra com o "victory garden mouvement" liderado por Eleanor Roosevelt, tendo em vista produzir entre 30 a 40% de frescos para consumo doméstico!


Vibrante artigo de Mike Davis no Sierra Magazine.
Basta que se generalize a imperativa vontade de mudar...
Na consequência de uma outra grande guerra, ou da concretização de outra ameaça equivalente à sobrevivência desta sociedade, como o fim do petróleo abundante e barato, calamidades naturais... e artificiais. Atentemos na eclosão da agricultura urbana em Cuba!
Irá ás urtigas o infantismo húbrico do moneteísmo maquinista, em que os mercados mandam nas empresas, estas nos Estados e ambos arrastam a sociedade civil para um consumismo insustentável.
Mas... -dirá o céptico- por quanto tempo?

Sunday, August 19, 2007

Impressões de Londres

Ao contrário da imagem hospitaleira do planeta azul visto do espaço que encantou John Glenn, Londres não encanta, vista de avião.
Impressiona o tecido mineral que se estende a perder de vista na enorme planície em que serpenteia o Tamisa que, ele próprio, parece contaminado pela castanha mineralização da paisagem.


Não obstante, é legível com a aproximação ao aeroporto de Heathrow, a emergência do verde, num padrão mais atraente que distingue claramente o "west-end", do "east-end" que agora se quer qualificar aproveitando a ocasião dos próximos Jogos Olímpicos. Vejamos o que se conseguirá fazer com as pressões do tempo e dos mercados.


Depois, cá em baixo, no terreno, já dentro desse imenso tecido urbano, surpreende-nos como ele consegue ser atraente e convidativo, ao ponto de nos esquecermos que estamos imersos num imenso formigueiro que congrega mais de sete milhões de seres humanos vindos de todo o mundo. Uma das cidades globais da exposição patente na Tate Modern que agora me dispenso de comentar.


É certo que nos quedamos pelo tal "west-end", pelos seus bairros e parques cuidados ao pormenor quer no domínio privado quer, sobretudo, no domínio do espaço público. Bairros em que reina uma confortável harmonia a que não é estranha a normalização das casas prespassando quasi todo o espectro das classes sociais. Harmonia e escala a que não será estranha também a baixa altura dos edifícios e a uniformidade dos materiais.
"En passant", reconhecemos quão deprimente pode ser esta repetição,nos bairros da imensa periferia industrial que o Heathrow Express atravessa.

Mas, retomando a observação anterior, não me parece que seja só a harmonia, a escala humana e esse cuidado, resultante de uma congregação de multiplas acções que atrai e convida... O que já nao é pouco!


É tambem a subdivisão desse imenso tecido urbano em bairros, pequenas cidades com os seus centros animados, plenos de urbanidade em que não é rara a persistência da memória de velhos burgos medievais.

Uma vida melhor ao alcance de todos

Recuemos dois séculos.
Uma vida melhor ao alcance de todos. Numa Europa pobre, aumentar o nível de vida era um primeiro passo.
À partida, produzir, produzir muito e barato era uma boa coisa, pondo a máquina do progresso ao serviço de todos, integrada num sistema económico-social eficaz.
Mas os empreendedores burgueses, os empresários, os capitalistas tornaram-se viciados no negócio, insaciáveis, e os custos do progresso foram-se acumulando na sociedade e na natureza.
O capitalismo atingiu a sua primeira grande crise recessiva entre as 2 grandes guerras, ameaçado pelo comunismo soviético.
Devastada pela 2° grande guerra, a Europa repõe as condições iniciais do capitalismo: ela é de novo um continente de povos carenciados.
Produzir, produzir mais e mais para reconstruir e aumentar o nível de vida depauperado tornou-se de novo prioritário.
Mas agora com a experiência social anterior e o risco dos povos se passarem para o lado comunista, junta-se o capital com o estado social no modelo keynesiano que se organiza ao nível do estado-nação.
Anos de ouro! Sucesso, progresso económico e social. Mas "esquecemo-nos" dos outros, do "terceiro mundo" bem como da natureza e, com ela, das futuras gerações. No futuro estamos todos mortos ripostava Keynes absorvido pelo presente!
E de novo o capital se vicia, à medida que se agiganta - a velha húbris persiste! - e os custos sociais e ambientais agravam-se com a inevitável concentração do poder económico por via da competição, em empresas internacionais, multinacionais, transnacionais que se medem com os estados.
O modelo keynesiano não está armado para esta guerra, pois organiza-se ao nível do estado-nação que vai perdendo força, face aos potentados económicos que se globalizam tomando o seu lugar na exploração do "terceiro mundo".
Os governos são corrompidos, o estado é enfraquecido e a sua função social privatizada a partir dos anos oitenta.
Isto é: 0s trabalhadores, os mais pobres e a classe média, vão ficando à mercê dos mais ricos, da oligarquia possidente, num sistema económico-social de acumulação cada vez mais instável e desestabiilizador. À escala planetaria. O poder económico reina sobre o poder político e ambos sobre uma sociedade civil fragmentada!
Uma terceira novidade agrava a insegurança, a incerteza e, com elas a ansiedade. A emergência das novas tecnologias catapulta o mercado bolsista para fora da "economia real" em crise de crescimento: a contabilidade, as finanças que eram subsidiárias da economia tornam-se soberanas. Manda o valor monetário das acções, mandam os mercados como hoje se diz capciosamente. Os antigos empresários convertem-se em especuladores ou jogadores de casino.
O crescimento boolímico das empresas, da produtividade e do mercado bolsista associado as novas tecnologias, tudo isso é fruto do sucesso keynesiano, mas é tambem o seu coveiro mais interessado.
Reina hoje um neo-liberalismo, um liberalismo agora livre dos velhos travões morais. Um neo-liberalismo de casino em que tudo está a mercê dos interesses... bolsistas!
Com ele, os conflitos sociais agravam-se, bem como o estado do planeta. A crise energética nos anos setenta e a ecológica nos anos noventa saltam para o domínio público questionando-se a sustentabilidade do padrão de vida consumista.
Quero crer que cada vez mais gente toma consciência desta situação e se organiza para refazer a sociedade em moldes sustentáveis.
É uma mutação social que está em marcha e que se tem que impôr. Em nome de uma vida melhor, na melhor hipótese. Por uma questão de sobrevivência, na pior.
Obs: Assim como o liberalismo começou por uma boa ideia mas se ficou pelo meio caminho da produtividade capitalista concentrando-se o poder em grandes grupos economicos, também o comunismo começou pela boa ideia social -esquecida pelo capitalismo- mas se ficou pelo meio do caminho da ditadura do proletariado (resposta ao abuso capitalista no quadro de uma luta de classes entre o capital e o trabalho) num capitalismo de estado dominado pela nomenclatura. Também nele a natureza é esquecida, talvez com maior brutalidade do que no capitalismo.
O comunismo sovietico caiu primeiro perdendo a guerra fria. Mas o capitalismo sobreviverá no "fim da história"?