Reflexões Planetárias

Friday, July 17, 2009

(In)eficiência energética e (des)respeito pela Natureza

Vivemos nos últimos 200 anos um período excepcional de energia abundante, à custa de reservas acumuladas ao longo de milhões de anos. Neste curtíssimo intervalo de tempo esbanjámos talvez metade!
Se a energia abundante e barata tem os dias contados, estaremos em vias de regressar à energia escassa e cara que com o "aquecimento global" compõe um duplo desafio ao nosso ímpeto civilizacional.

As reservas naturais de combustíveis fósseis já cá estavam no dealbar das grandes civilizações que não as exploraram. Energia intensivas como a nossa, exploraram outras, designadamente as reservas florestais e os solos, desertificando regiões inteiras como os vales do Nilo, do Indo ou a Mesopotâmia.
Tal como a nossa civilização, também elas se enredaram num encadeado de processos de regulação em tendência. Embalaram como comboios desenfreados e acabaram por cair numa espiral decrescente de rendimentos marginais que as levou, bem como nos poderá levar a nós, ao colapso.

Acontece que nós fomos mais longe do que as civilizações do passado na exploração da Natureza, por via da moderna aliança tecnico-científica , com o engenho que nos conduziu à exploração global da reserva milenar dos combustíveis fósseis, provocando roturas planetárias. Como reza o ditado popular: " de cada vez que a história se repete, a parada sobe".

Seremos capazes de aprender com a história, com os erros do passado e arrepiar caminho a tempo?
Não está fácil! Porque razão? A principal razão para o negacionismo e o fracasso dos esforços de contenção energética do processo "Protocolo de Quioto", não residirá na persistência da efectiva falta de respeito pelos outros, humanos e não humanos, pela Natureza?
Dou razão a Lynn White. Não havendo respeito, não conseguiremos fazer nada de jeito!
Portanto, não há uma solução meramente técnica para os designados problemas “sociais” e "ambientais".
É preciso melhorar a eficiência perdendo a arrogância!

Wednesday, July 01, 2009

Liberalismo e neo-liberalismo

O liberalismo classico é uma doutrina, um movimento ideológico que defende a liberdade dos cidadãos contra o poder dominante do estado.
Eclodiu há pouco mais de dois séculos contra o despotismo iluminado e emergiu há trinta anos de novo, no neoliberalismo, contra o poder do estado keynesiano, solução in extremis para pôr em ordem a casa desarrumada pela deriva financeira liberal que originou a Grande Depressão dos anos trinta nos Estados Unidos e na Europa depois da II Grande Guerra.
O neoliberalismo conduziu agora a uma nova recessão e, de novo renasce a necessidade de reforçar transitoriamente o papel do estado para voltar a arrumar a casa... à custa, mais uma vez, dos contribuintes.
Mas agora temos uma novidade. É que o neo-liberalismo favoreceu não só a privatização da economia mas também a sua transnacionalização nas ETN (Empresas Transnacionais) e a sua financeirização num mercado global que se rege como se fosse um casino.
Que não é, como mostra o Cisne Negro de Nassim Taleb! O que torna tudo mais incontrolável. Regulações em tendência, derivas que corrompem o poder político e outras instituições da sociedade industrial, incapazes de as sustar.
A economia globalizou-se mas a política não. O poder económico concentrou-se em ETN e portanto o liberalismo conduziu à globalização da dominação com os bancos a cabeça. Suprema contradição que não surpreenderia os "founding fathers".
A visão linear de um Hayek ansioso de liberdade contra um estado de servidão, porventura marcada pela crua realidade social que sofreu na pele, sossobrou perante a complexidade do mundo em que vivemos.

Mais uma vez caimos em excessos, neste caso da liberdade contra o domínio do estado, conduzindo não só a uma espécie de anarquia, excessivamente caótica mas também, num aparente paradoxo, a uma tendência para uma dominação global que Lewis Mumford designaria por maquinista.