Reflexões Planetárias

Wednesday, April 22, 2015

O olhar de David Harvey sobre a crise actual

Enquadrando o capitalismo na evolução da sociedade moderna, sem esquecer as suas virtualidades, David Harvey concentra-se no refluxo neoliberal dos últimos quarenta anos que desembocou na crise actual.



Mantendo a sua cativante serenidade, o geógrafo marxista David Harvey não deixa no final de apresentar a sua utopica construção de uma outra sociedade, em que um imenso florescimento das capacidades humanas poderá dispensar o crescimento económico capitalista.

Sunday, April 19, 2015

...For the loser now...

...For the loser now
Will be later to win...

Bob Dylan (1)
O jovem Ari Demopoulos (Kids On The Block Network) tirou-me as palavras da boca, no comentário que fez sobre a intervenção do actual MInistro das Finanças grego na recente conferência "New economic thinking 2015", promovida pelo "Institute for New Economic Thinking": "Anyone that reads reports from news media regarding the Greek Crisis, should take a minute to watch the reality of the problem as it is so eloquently dissected by master finance minister Yanis Varoufakis":



Enfraquecidos pelos efeitos económicos da "guerra do Vietnam" nos anos sessenta e da "crise do petróleo" nos anos setenta, os "keynesianos" foram cilindrados pelos think-tanks neoliberais respaldados nos senhores do capital, ansiosos por recuperar a parcela de poder entretanto conquistada pelos trabalhadores.
Hoje os neoliberais, enfraquecidos pelos resultados da sua política que hoje desembocou na desastrosa "política de austeridade", estão sob a mira dos think-tanks em que também embarcam os neo-keynesianos. Varoufakis não está só, como aqui se constata.

Afinal estamos em mais uma crise do capitalismo ou no dealbar de uma nova era pós-capitalista? Para estes académicos a vida vai animada, recheada de excitantes desafios aos seus modelos abstratos! Ortodoxos e "radicais" desdobram-se em fóruns e "papers", centrados no paradigma do crescimento económico.
Habitantes do Olimpo em que imperam os modelos macroeconómicos e os grandes interesses, estes senhores menosprezam "uma realidade que", observa Manuel Castells, "está a fazer caminho por todo o mundo. Milhares de pessoas enveredaram no todo ou em parte pela auto-suficiência económica, constroem redes de troca directa, organizam cooperativas de crédito, produção e consumo, experimentam novos modelos de vida quotidiana." Castells situa-se, com estas comunidades, na segunda hipótese do dealbar de uma nova era pós-capitalista: a "era planetária" de Robert Gilman!

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(1) Citado por Rob Johnson, presidente da mesa, no fecho da conferência

Monday, April 06, 2015

Principais credores da Grécia

Alguns números que nos ajudam a identificar os principais protagonistas no confronto com a Grécia. (Comparar com o quadro apresentado aqui)
Afinal parece que os milhares de milhões de euros da dívida não estão concentrados em "instituições públicas" (FMI, BCE), como (erradamente?) referi aqui?
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Fonte do gráfico: Jornal "Le Temps" de 7 de Abril de 2015

Friday, April 03, 2015

Ninguém quer o desemprego!

Ninguém quer o desemprego! Nem os ricos. Não com medo de ficarem desempregados mas porque lhes traz mais conflitualidade social, lhes diminui os consumidores e, portanto, os lucros!
Tudo isto é mais complexo, mas fiquemos-nos pelo essencial.
Mas então porque persiste o desemprego se ninguém o quer?
Estamos a passar de sociedades tradicionais que acolhiam no seu seio pequenas e médias empresas, para uma "sociedade de mercado" dominada pela lógica da eficacia lucrativa de grandes grupos económicos trans-nacionais: as ETN. Lembremo-nos da fixação do governo Passos Coelho na "internacionalização da economia" e do seu disfarçado menosprezo pelas domésticas PME, ou da recente proposta subscrita por um dos seus rapazes do ritmo -Bruno Maçães- para a criação de uma bolsa europeia de trabalhadores.


Com as ETN e na estrita subordinação à lógica da eficácia, vêm os "ganhos de produtividade" que se devem sobretudo à robotização, à mecanização do trabalho que tendencialmente dispensará os humanos. Daí um arrepiante "desemprego tecnológico" estrutural na transição do sistema capitalista para um sistema tecnocrático que se pressente numa ânsia de crescimento económico salvífico misturada com o medo de uma catástrofe devastadora (*).
Se todos trabalhassem menos horas por um salário condigno aproveitando o progresso tecnológico, ficaram com tempo "livre" para se realizar em plenitude e participar activamente na vida da "polis", mas os neoliberais acham bem que na sua sociedade de mercado, a redução do tempo de trabalho seja injustamente sofrida por precários e desempregados, revertendo os ganhos de produtividade em benefício exclusivo dos "shareholders" e gestores de grandes empresas.
Uma vida melhor numa sociedade decente, não se poderá concretizar num sistema capitalista mas sim num sistema socialista (que não exclui o capitalismo, na gestão da economia dentro da sociedade).
Socialista? Mais. Eco-socialista. Eco-socialista, no sentido democrático de que é a sociedade que manda nos mercados respeitando limiares ecológicos e não os "mercados" que mandam na sociedade desrespeitando-os. A iniciativa está do lado dos trabalhadores e das suas comunidades. Nesse sentido, as organizações sindicais têm que se libertar do colete de forças amarrado por limitadas reivindicações trabalhistas que nos afundam no sistema tecnocrático.
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(*) Um estudo recentemente publicado da Deloitte a partir de dados estatísticos colhidos na Inglaterra e no País de Gales desde 1871, conclui que as "máquinas" criaram mais emprego do que desemprego. Contraria o que, desde os "luditas", tem vindo a ser sentido, primeiro no sector industrial e depois nos serviços. Será possível? É, se para cobrir a diferença entre o emprego destruído (em parte bem destruído) e o gerado pelas "máquinas", metermos no mercado actividades que não estavam lá... e elas não acabarem por ser também mecanizadas seguindo a lógica do capitalismo. No limite toda a vida humana. Mas nesse caso teremos um caricatura de tempos livres, de vida social e espiritual: não teremos a sociedade a mandar no mercado mas o mercado a mandar numa sociedade estatística de consumidores... o que será bom para a Deloitte e os seus clientes. Mas para nós que prezamos a vida não é! Nesse sentido, o que questionamos não é a tecnologia em si, mas a tecnologia na sociedade de mercado capitalista.

Fonte da imagem: Excerpto da imagem de capa do número 1095 da revista "Internazionale"