Reflexões Planetárias

Sunday, August 25, 2013

"Householding"?

Na economia de mercado, é o mercado que manda na sociedade, e nele o dinheiro enquanto capital. Por isso nela se consuma o que se designa por capitalismo.
É coisa recente. Menos de dois séculos. Ao contrário do que pensavam os pais fundadores da economia clássica (Adam Smith, à cabeça) e pensam ainda hoje os mandarins e sacerdotes da nossa "sociedade de mercado".
Devemos a Karl Polanyi uma investigação antropológica pioneira que nos mostra que a economia evoluiu ao longo dos tempos seguindo três princípios fundamentais... e que deles não faz parte o lucro mercantil .
Entendamo-nos! Não é que o mercado tenha surgido só no século xix, mas sim que ele, quando existia, estava dentro da sociedade e não o contrário. Tal como fisicamente acontecia nas cidades em que os mais velhos como eu ainda tiveram a sorte de viver.
Então quais são esses três princípios, segundo Karl Polanyi?
Reciprocidade, redistribuição e householding (1).
Householding!? Foi na busca de um convincente significado em português que fui parar a um texto de Harriet Fasenfest que me encheu as medidas e que aqui quero reproduzir na integra traduzido em português:
O que é householding?
Tem graça, como me tornei tão cerebral em relação ás lides domésticas. Seria de pensar que, depois de conversar com a minha mãe e com os seus amigos - agora nos seus oitentas – ficaria mais realista quanto a tudo isso. Seria certamente o caso, ao ouvir falar da trabalheira que dava e quão felizes se sentem hoje por não ter que cozinhar, de limpar e de cuidar das crianças (nem todos, mas muitos o fizeram).
Tendo crescido numa era de grandes opções para as mulheres, nunca teria olhado para trás, nunca teria considerado o cuidar da casa como algo digno der ser valorizado. Ou, pelo menos, eu compreendia as consequências socio-políticas de relegar um dos géneros para uma vida sem competências que se traduzissem em carreiras. Certamente arriscado.
Quer dizer, quantas mulheres se viram no fim da linha, depois de os maridos zarpararem para paragens mais verdejantes? Ou mesmo que não se tivessem ido embora (e muitas o desejariam) quantas mulheres se sentiram extremamente estupidificadas com a trabalheira das lides domésticas?
Certamente que conhecemos histórias de mulheres sós e frustadas enxarcando-se em cocktails e Valium, nos seus escassos assomos de liberdade.
Então porque é que, revisitar esta coisa chamada “cuidar da casa” (ou, mais exatamente, householding), não me sai da cabeça (2)? Bem, porque creio que deitámos fora o bébé com a água do banho.
Acredito que há muito por descobrir na vida doméstica, mas para isso, temos que desafiar muitas das nossas suposições e estereótipos. Temos que questionar as nossas noções de sucesso e a forma como elas se ligaram a uma doutrina económica assaz inconsiderada.
Mas sobretudo, porque sou uma mulher com nervo suficiente para o fazer. Se este movimento ganhar força, haverá indubitavelmente legiões de negacionistas a contrariar “o direito de regresso” que reclamo. Mas não me assusto. Sou viril, e faço bolinhos.
Sou mãe e esposa, mas não por ter medo de ser outra coisa. Apelo para a revisão da política de género no que se refere à gestão da casa. Alguns são bons nisso outros não, o que não tem nada a ver com o está debaixo das calças (por assim dizer).
Posto isto, quero juntar os pontos, ou rever os pontos:
1.Householding não é um acto específico de género
2.Householding procura rever os sistemas de pequena escala da economia doméstica
3.Householding rejeita fast food, embrulhos vistosos, ou publicidade comercial
4.Householding requer uma ligação aos sistemas naturais
5.Householding reconhece a domesticidade como um valor
6.Householding recusa as “economias de escala” como sendo sistemas malignos
7.Householding procura um ambiente saudável, a família, a comunidade como barómetro do seu sucesso
8.Householding recusa a mercantilização das tarefas diárias
9.Householding é alguma coisa que estou a tentar compreender.
Essencialmente, apelo para um regresso a casa como acto político, atitude económica, movimento espiritual. Apelo para o regresso porque necessitamos disso. Apelo porque, quanto mais mentes criativas entrarem em acção, melhores serão as soluções. Apelo para o regresso, porque é preciso que alguém esteja em casa quando nela ocorrem actividades que são “importantes”. Alguém tem que estar à porta a receber as nossas crianças e ouvir as suas histórias. Alguém tem que criar os espaços tranquilos, seguros, descontraídos da nossas vidas íntimas.
Quem será agora?
Honestamente: Umas vezes o esforço é estupidificante, mas outras vezes (quase sempre) impregna-o a lógica renovada de cuidar da casa e a economia sustentável. É certo que a nossa actual crise económica nos mostrou justamente quanto é fragil/corrupto o sistema dominante, mas não precisavamos do crash para o constatar. Não, se quizessemos pensar bem nisso.
Hoje, quando vou à mercearia, olho para os produtos com outros olhos. Numa perspectiva antropológica impressiona-me vivamente a forma como eles (quem quer que sejam) convertem tudo o que posso fazer por mim própria em qualquer coisa que fazem para mim – por um preço.
Mas qual é o preço? Qual foi o preço de vender as nossas vidas? O que foi feito do ambiente? O que é foi feito das nossas famílias? O que foi feito das nossa espiritualidade, da nossa economia, das nossas almas? São questões de retórica, porque a maioria de vós conhece as respostas.
De certeza que alguns se encontram de regresso a casa por razões fora do seu controlo e estão em apuros. Outros (e o seu número está a crescer) fazem-no conscienciosamente. Seja qual for a razão, acredito que estamos perante uma grande oportunidade de transformação.
Criar novas economias, economias domésticas, economias baseadas em sistemas prudentes de abastecimento, procura, produção e consumo, levará a pôr mãos à obra numa revolução dos cuidados caseiros. Levar-nos-à a abandonar a matriz mercantil dominante. Implicará a reavaliação das carências e necessidades, No final, poderá requerer uma nova legião radical de “viris fazedoras de bolinhos” para desafiar o paradigma económico dominante.
Oh sim, é disso que estou a falar.

Que bela definição de householding, na linha de uma alternativa ao "moneteísmo" que consome a nossa vida quotidiana!
Fica-me por saber qual o significado em português. Mas que importa a palavra. Deixemos ficar por enquanto o householding em aberto. "Householding é alguma coisa que estou a tentar compreender".
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(1) Karl Polanyi, La subsistance de l´homme - La place de l´économie dans l´histoire et la société, Flammarion(2011).
(2) Uma notula histórica sobre a mulher e a família, para contextualizar o regresso ao lar que não sai da cabeça de Harriet Fasenfest.
Tradicionalmente, a mulher é associada à intimidade do lar e ao seu papel centrado na fecundidade: A casa uterina adquire a sua mais bela expressão nas formas redondas e interiorizadas da arquitectura de terra ou enterrada, nos antípodas da casa moderna transparente e leve.
Lar, fogo! "A palavra latina para coração, nota Margaret Visser, é focus; a centralidade da cozinha como coração da casa, nasce não só do papel tradicional da mulher como cozinheira, mas também da associação natural da comida à fecundidade."
"A imagem da mulher encerrada na domesticidade é algo que o feminismo redondamente rejeita."
É este feminismo a que se refere Elizabeth Farrelly (em Blubberland, MIT Press, 2008) que, nos tempos de juventude de Harriet Fasenfest, atirava as mulheres para o mercado de trabalho na busca de uma realização pessoal.
Ao mesmo tempo, "um a um, os bens de consumo duráveis do século xx - com a própria casa à cabeça - acabaram com vastas e necessárias áreas de contacto social entre os membros da familia e entre famílias. A imagem da família continua forte, reforçada pela publicidade comercial dominante, mas na realidade ela desmorona-se, a ponto de se tornar irreconhecível. As forças produtivas em que se apoia estão a contribuir fortemente para o seu colapso. Está em todo o caso bem arredada do organismo descrito na sua definição histórica."
Esta é a visão crítica de Martin Pawley ( em The Private Future, Thames & Hudson, 1973) sobre o estado da família moderna, precisamente nos tempos de juventude de Harriet Fasenfest, quando definhavam os anos de ouro keynesianos do pós-guerra.
Fasenfest avança em defesa de um papel activo e central da mulher na família e da família na sociedade, distanciando-se das feministas capturadas pela sociedade de mercado de hoje e das militantes "engenheiras domésticas" na linha de Christine Friederick na primeira metade do século xx. Fasenfest aproxima-se de feministas dos primordios do capitalismo novecentista como Catherine Esther Beecher que estudaram, realizaram e divulgaram um modelo de organização da casa (householding afinal), em favor da emancipação da mulher e da família. O que Beecher não tinha, nem podia ter então, eram as preocupações sociais e ambientais que fazem toda a diferença no modelo de vida famliar que Fasenfest está a desenvolver e a divulgar e, no qual, a mulher tem um papel central.

Thursday, August 15, 2013

Ah, poder ser tu sendo eu!

Em A Seta e o Anel (1), António José Saraiva faz "em tom de dúvida, uma breve reflexão sobre o espírito da nossa ciência ocidental."
"Ela identificou a ciência com o domínio da natureza, o conhecimento da mecânica, o conhecimento da estrutura da matéria, o conhecimento do ser vivo e, por fim, o conhecimento objectivo do homem, considerado ele próprio como natureza."
Desta forma - conclui A. J. Saraiva - a Ciência legitimou não só a separação entre o homem e a natureza, mas também entre o homem e ele mesmo. Isto é, um dualismo irredutível. As chamadas ciências humanas consistem em tornar o homem objecto do homem, quer individual quer colectivamente. Também aqui há uma quantificação abstractizante do qualitativo. As ciências humanas são ciências desumanizantes. É uma corrida sem fim. À medida que se conhece mais, se objectiva mais, se qualifica mais, uma parte do homem se torna objecto, estranho a ele mesmo, enquanto a outra parte, aquela que procura o homem, se escraviza à metodologia do conhecimento dito científico, isto é, se submete a leis exteriores à consciência. E, do ponto de vista social, mais o outro se torna alheio e incomunicável. E, por outro lado, mais os "outros", isto é, todos os que estão submetidos à observação e ao conhecimento metódicos, se convertem em massa manipulável pelo sujeito do saber e do poder."
"E daqui nasce, em alguns poetas, a profunda nostalgia da identificação da consciência com o ser que está, por exemplo, na essência da poesia de Fernando Pessoa:"

Ah, poder ser tu sendo eu...



A ciência que A. J. Saraiva associa ao dualismo, entendo eu ser a ciência clássica mecanicista que, segundo Prigogine e Stengers, "opõe o observador desencarnado" - no sentido de Merleau Ponty - "ao objecto do conhecimento visto á vol de oiseau". A mesma ciência que embotou a sensibilidade de Charles Darwin, fazendo-o perder o gosto pela artes e as letras, ao convertê-lo numa máquina de deduzir leis a partir de dados:
"Há uns trinta anos, e mesmo depois - escreve Charles Darwin na sua biografia - muitas classes de poesia... davam-me imenso prazer, quando era estudante gostava muito de Shakespeare e, especialmente das obras históricas. Também já disse que no passado a pintura e a música me davam um considerável prazer. Mas há muitos anos que não leio uma linha de poesia. Tentei recentemente ler Shakespeare mas aborreceu-me tanto que me causou náuseas. Também perdi quase por completo o gosto pela arte e pela música... A minha mente parece que se converteu numa máquina de deduzir leis gerais a partir de grande colecção de dados, mas não consigo perceber como é que isto causou a atorfia dessa parte do meu cérebro da qual dependem os sentimentos mais elevados... A sua perda é uma perda de felicidade e muito possivelmente será prejudicial ao intelecto e, mais provavelmente ainda, ao caracter moral devido à debilitação da parte emocional da nossa consciência"

Este empobrecimento espiritual tão vividamente descrito por Darwin, esmagará toda a nossa civilização se permitirmos que prossiga no sentido que Gilson (2) diz ser o da " extensão da ciência positiva aos factos sociais"... O resultado desta redução é "a perda de toda a força superior que enobrece a vida humana e a degradação, não só da parte emocional da nossa natureza, mas também, como Darwin percebeu, do nosso carácter intelectual e moral. Estes sinais são visiveis por toda a parte"

O precedente comentário ás amargas reflexões de Darwin é de um economista "não-clássico" - E. F Schumacher - que das páginas dos jornais dos anos setenta, caiu para o vale do esquecimento nos tempos de hoje, tão conturbados pela objectivação mercantil, para usar a terminologia de António José Saraiva.

Acontece que ao tempo em que Saraiva escreveu "A Seta e o Anel", Schumacher escrevia o seu "Small is Beautiful" e estava em curso uma metamorfose da ciência, trocando a "seta" pelo "anel" numa "nova aliança" (3).
Bons sinais em tempos de mudança!
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Videoclip no blog "As palavras que buscamos"
(1) Ensaio sobre o progresso escrito para uma palestra proferida na SEDES e publicado na Revista "Raíz & Utopia", nº 2, Verão 1977
(2) Schumacher refere-se a Étienne Gilson, filósofo e historiador da filosofia medieval
(3) Ilya Prigogine a Isabelle Stengers, La nouvelle alliance - Métamorphose de la science, Gallimard 1979

Tuesday, August 13, 2013

Sustentabilidade e desenvolvimento rural na China

Em 22 de Abril passado Tessa Stephenson publicou um relato sobre a passagem do professor Wen Tiejuin pelo Savery Hall da Universidade de Washington. Um relato que traduzo na integra porque nos revela uma outra face da China que resiste ao neoliberalismo dominante.

Não havia um lugar vago no Savery Hall 264. Académicos, professores e estudantes encheram o auditório para ouvir falar o consagrado professor Wen Tiejun sobre a crise económica e ambiental na China.
Wen, que trabalha na Universidade de Remnin em Beijing, esteve entre os dez talentos de topo da economia em 2003, segundo a CCTV (China Central Television) e recebeu o "Award of Outstanding Study Outcome" conferido em 2010 pelo Governo Municipal de Beijin. No seu estudo “Desconstruindo a Modernização” o professor popularizou o termo “sannong wenti” distinguindo três problemas rurais: dos camponeses, da agricultura e das aldeias.
Wen participou numa pequena mesa redonda antes do seminário público para todos os interessados nos tópicos da sustentabilidade e do desenvolvimento rural.
Em ambos os eventos, Wen apresentou os seus pontos de vista sobre o estado da economia na China, contrapondo-os à percepção que dela tem o resto do mundo.
"Muita gente acredita que a China é uma espécie de motor económico mundial", disse Wen "A China não pode ser tal pois não tem os recursos necessários."
A China tem 20% da população mundial mas apenas 7% da terra e 6% da água à sua disposição, disse Wen. Consequentemente, muitas cidades chinesas carecem de alimentos e de força de trabalho.
Outro problema-chave apontado por Wen foi o da crise ambiental na China. A terça parte da China é afectada por uma "séria poluição" que, segundo Wen, é não só um problema no ambiente urbano mas também no ambiente rural.
"Precisamos de reorientar a urbanização", disse Wen, " mas também de redireccionar a agricultura moderna."
Wen acredita que a reconstrução rural ajudará a economia e o ambiente na China. Isto envolve a reorganização do mundo rural de modo a proporcionar um ambiente que torne possível um desenvolvimento auto-sustentável.
"Temos que mudar como sociedade", disse Wen.
Limbo Wang, um estudante que assistiu ao seminário, manifestou-se intrigado com as ideias de Wen. "Penso que ele levantou de facto um ponto muito importante", disse Wang, " O da reconstrução rural. É uma nova maneira de pensar numa direcção muito interessante".
Wen dirigiu uma série de experiências rurais em vários países ao longo dos anos. As suas ideias e os seus estudos em matéria de sustentabilidade e desenvolvimento rural fizeram dele um ícone na economia chinesa.
Xinghui Teng, vice presidente do Capítulo da Chinese Entrepreneur Network da Universidade de Washington(CEN-UW), comparou a importância de Wen à de um membro do governo dos Estados Unidos. "Ele é como um homem da Casa Branca, tudo o que ele sabe é a última palavra", afirmou Teng.
Antes da conferência de Wen, a CEN-UW realizou outros dois seminários sobre sustentabilidade e empreendedorismo. Yingying Huang, co-presidente da CEN-UW manifestou-se convencido de que estas matérias são relevantes para todo o mundo.
"Voltando à China, a sustentabilidade é um conceito-chave que é muito discutido" disse Huang. " Penso que, tendo em conta os recursos actuais e o mal que fizemos ao ambiente, temos que procurar uma nova forma de desenvolvimento humano."
Para Xuechun Duan, co-presidente do CEN-UW, é missão fundamental da organização divulgar a mensagem.
Disse Duan: "A principal ideia é a de orientar o empreendedorismo para a sustentabilidade no futuro"

O espírito de ccoperação que parece prevalecer no movimento da NRR (Nova Reconstrução Rural), iniciado por Wen Tiejuin e outros activistas, resistirá ao "empreendorismo" dos mandarins e sacerdotes da politica económica chinesa?

Thursday, August 01, 2013

A "sustentabilidade ambiental" no governo?

Enjeitado num Ministério desconforme que se foi com a implosão da versão Gaspar do governo Passos Coelho, o "ambiente" é agora promovido a Ministério na versão Portas do governo ressuscitado com a benção do inefável presidente Cavaco.
Estigmatizado como inimigo do "crescimento económico", o "ambiente" passou a pai do crescimento.
O novo ministro do ambiente (ordenamento do território e energia) é o Eng. Moreira da Silva que, em Dezembro passado, por ocasião da publicação da "Plataforma para o Crescimento Sustentável" que coordenou, se insurgiu contra Santos Pereira quando este, na sua cruzada pela industrialização, acusou os "fundamentalistas do ambiente" de inimigos do crescimento e do emprego!
Temos pois a "sustentabilidade ambiental"(1) no governo?
Não exatamente a sustentabilidade, mas os que acreditam que o crescimento pode ser sustentável e que, sendo inerente ao capitalismo, pode ser conseguido no âmbito da "economia de mercado". Uma crença de Lester Brown, Paul Hawken e Amory Lovins, e hoje, também de personalidades como Nicholas Stern e Paul Krugman.
Kenneth Boulding, Tim Jackson, Bill McKibben(?) e outros na linha de Herman Daly, não admitem que o crescimento económico possa ser sustentável nem que seja inerente ao capitalismo, pelo que também acreditam que a "sustentabilidade ambiental" pode ser conseguida no âmbito da "economia de mercado", mas por via do não-crescimento.
Finalmente há os que advogam uma saída alternativa, pois estão com Herman Daly quanto à impossibilidade de um crescimento sustentável, mas com Kenneth Boulding quanto à impossibilidade do não crescimento no sistema capitalista. É com estes que pensava quando escrevi o seguinte: "O descaminho que está a levar o negócio das emissões parece confirmar o receios dos que não concebem que isso se consiga entregando o capuchinho vermelho aos ardis do lobo mau, isto é, subordinando aos ditames da economia de mercado as nossas relações com a "natureza" e não só a sociedade."(2)
Estou assim céptico em relação aos resultados da acção deste perito no "negócio das emissões" que agora, como ministro do ambiente, poderá pôr à prova dos mercados as medidas do seu "capitalismo verde".
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(1) Entendamos que uma economia é ambientalmente sustentável se se contem dentro da capacidade de carga dos ecossistemas que a suportam, a qual depende dos ecossistemas e da tecnologia disponível.
(2) Assisti em Maio passado na FNAC-Chiado, ao lançamento do livro "Climate Chance" que trata do "negócio da emissões" como uma oportunidade de negócio no plano jurídico. Abriu a asessão o Eng. Jorge Moreira da Silva, ainda sem o chapéu de Ministro. O livro foi apresentado por um dos três autores, Dra. Ivone Rocha, da Sociedade de Advogados JPAB - José Pedro Aguiar Branco Associados. O Eng. Carlos Pimenta prefaciou-o e no elogio que lhe fez não fez a coisa por menos, considerando-o o nosso livro de cabeceira do ambiente. Tivemos pois o PSD e a "Plataforma para o Crescimento Sustentável" (embrião do falado crescimento pós-troika?) muito bem representados no lançamento deste livro em prol do "negócio das emissões".
Mas para já o "negócio das emissões" está adiado na UE. E não me parece que venha a ter grande futuro. Glosando o titulo do livro: Climate (chance, capitalism) change.