Reflexões Planetárias

Tuesday, February 26, 2013

Da "geração rasca" ao "que se lixe a troika""

Como pode uma "geração rasca" desafiar agora uma sociedade enrascada a mandar lixar a troika?


Alguém se enganou... ou, o que é que mudou?
As reflexões de Aldous Huxley sobre a juventude acomodada na "affluent society" americana dos anos cinquenta que se dizia disposta a trocar a liberdade pelo conforto moderno, não nos ajudarão a compreender esta aparente contradição?

Regressemos pois com Huxley ao seu admirável mundo novo:
"LIvre como um pássaro!...Todo o pássaro que aprendeu a esgravatar uma boa porção de vermes sem ser compelido a usar as asas, depressa renunciará ao privilégio de voar e ficará para sempre na terra. Algo de análogo se passa com os seres humanos. Se o pão lhes é fornecido regular e copiosamente três vezes ao dia, muitos deles contentar-se-ão perfeitamente vivendo apenas de pão - ou pelos menos de pão e de espectáculos de circo.
"No fim, diz o Grande Inquisidor na parábola de Dostoiewski, no fim hão-de depôr a liberdade aos nossos pés e hão-de dizer-nos: Torna-nos teus escravos e alimenta-nos"...
"Porque nada, assegura o Grande Inquisidor, jamais foi mais insuportável para um homem, ou para uma sociedade humana do que a liberdade".
"Nada, excepto a ausência de liberdade, porque quando as coisas vão mal e as rações são reduzidas, os infantilmente atados ao solo reclamam obstinadamente as suas asas - apenas para as renunciarem, uma vez mais todavia, quando os tempos se tornarem melhores e os criadores dos homens se tornarem mais indulgentes e generosos.
"A juventude que pensa agora de forma tão rasteira acerca da democracia poderá crescer para lutar pela liberdade"...

Poderia ficar-me por aqui, no ponto alto deste processo circular desenhado por Huxley, mas o que vêm a seguir não é menos importante e, sobretudo menos preocupante pelas suas próximas ressonâncias. Continuo pois com Aldous Huxley:
"Se tal revolução se efectuar, será parcialmente devida à operação de forças sobre as quais até os mais poderosos dirigentes, têm muito pouco domínio, em parte devido à incompetência destes dirigentes, pela sua incapacidade para tornarem eficaz o uso dos instrumentos de manipulação do espírito com que a ciência e a tecnologia dotou e continuará a dotar, o aspirante a tirano"...

Mas Aldous Huxley termina o seu "Regresso ao Admirável Mundo Novo" regressando à liberdade: "Entretanto, resta ainda alguma liberdade no mundo. É verdade que muitos jovens não parecem apreciá-la. Mas um certo número de pessoas crêem ainda que sem ela os seres humanos não podem tornar-se verdadeiramente humanos e que a liberdade é, portanto, um valor supremo. Talvez as forças que ameaçam agora o mundo sejam demasiado possantes para que se lhes possa resistir durante muito tempo. É ainda nosso dever fazer tudo o que pudermos para lhes resistir".

Monday, February 18, 2013

Modernidade - razão e sentimentos

"O coração tem razões que a razão desconhece."
Blaise Pascal
Imaginemo-nos insensíveis ao calor, por velhice ou por doença; poderemos morrer enregelados ou deixar-nos queimar pelo calor de uma chama.
A falta de sensibilidade na ordem biológica pode ser fatal!
Na ordem social pode ser trágica hoje, como foi o holocausto nazi!

Judenrampe - Birkenau

O problema da modernidade, do homem "post-histórico" de Roderick Seidenberg, apontado por Lewis Mumford, é o do império da racionalidade sem sentimentos, da inteligência instrumental sem sensibilidade, sem sensibilidade humana.
Instrumental e insensível, a inteligência amarra-nos inevitavelmente a uma lógica desalmada de poder, como a do capitalismo que é a do maior ganho financeiro, numa sociedade que faz a guerra por meios nunca dantes alcançados.
Uma lógica que não é só desumana, pois estende a toda a natureza o seu reducionismo maquinista. Aqui está a origem da actual crise que é não só social mas, mais ainda, ecológica.

"Mechanization takes command"!


Rob Rieman apela para a recuperação da "nobreza de espírito" face aos sinais de "mau tempo" que hoje se acumulam, ao encontro dos temores de Lewis Mumford n´"As transformações do homem" e das certezas de Roderick Seidenberg no "Homem post-histórico".
Zygmunt Bauman, em "Modernidade e Holocausto", lançava o alerta: não tomemos o holocausto como um assunto de judeus ou uma loucura à margem da modernidade!
Consequentemente, trata-se de nos defendermos, não apenas dos partidos nazis que são efeito, mas sobretudo da tecnocracia moderna que se está a instalar na nossa mente como um virus no disco duro de um computador.
Perfilhando uma visão pró-activa, trata-se de introduzir nesta sociedade tecnológica "um suplemento de alma", como diz Ellul. Muita gente, por este mundo fora, em Portugal também, está na sombra do dia a dia a construir alternativas e algo poderá emergir, não do nada como parecerá, mas no momento singular em que todos esses esforços se conjugarem impondo um novo rumo a este mundo. Então a "tina" entornar-se-à de repente!

Tuesday, February 12, 2013

Privatizar a água: a experiência de Paços

Em 2011, quando da formação do actual governo, tanto a sua orientação ideológica como a sua constituição não nos deixavam muitas dúvidas de que a privatização da água estaria na sua agenda neoliberal.

Corroborando a ideia que corre por aí, de que Portugal é um laboratório dos econocratas europeus subordinados aos interesses das ETNs, aqui temos o caso da privatização da água que se está a fazer pela porta do cavalo, numa experiência lançada em Paços de Ferreira e que aponta para mais amplos voos pela Europa...


Só a resistência firme e organizada das populações poderá suster a poderosa ofensiva dos grandes interesses transnacionais nesta apetecida frente de negócios que se abate sobre um recurso natural essencial à nossa sobrevivência e, para mais, ameaçado em Portugal pela desertificação devida ao "aquecimento global": a água!

Saturday, February 02, 2013

Bom tempo

"A day without such contacts and emotional stirrings - responses to the perfume of a flower or a herb, to the flight or the song of a bird, to the flash of a human smile or the warm touch of a human hand - that is a day such as millions spend in factories, in offices, in higway, is a day empty of organic contents and human rewards." (Lewis Mumford)



Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
O pescador me confirmou
Que o passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo

Do duro toda semana
Senão pergunte à Joana
Que não me deixa mentir
Mas, finalmente é domingo
Naturalmente, me vingo
Eu vou me espalhar por aí

No compasso do samba
Eu disfarço o cansaço
Joana debaixo do braço
Carregadinha de amor
Vou que vou
Pela estrada que dá numa praia dourada
Que dá num tal de fazer nada
Como a natureza mandou
Vou
Satisfeito, a alegria batendo no peito
O radinho contando direito
A vitória do meu tricolor
Vou que vou
Lá no alto
O sol quente me leva num salto
Pro lado contrário do asfalto
Pro lado contrário da dor

Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver a vida
Que eu pedi a Deus