Reflexões Planetárias

Wednesday, December 24, 2008

James Hansen está louco?

"If humanity wishes to preserve a planet similar to that on which civilization developed and to which life on Earth is adapted, paleoclimate evidence and ongoing climate change suggest that CO2 will need to be reduced from its current 385 ppm to at most 350 ppm." (James Hansen, Target atmospheric CO2)

James Hansen está louco?
Se ele não estiver louco, estaremos nós!
Mas, seremos nós capazes de cortar a mão que nos alimenta?
Ah! sim! Os colonizadores de Rapa Nui deram cabo da ilha em mil anos. Reduziram-na ao deserto que é a Ilha de Páscoa que hoje conhecemos. Dando cabo dela deram cabo de si próprios. De vitória em vitória até à derrota final. Até à última árvore.
Só ficaram as estátuas!

Só ficaram as estátuas. Tombadas uma a uma como testemunhou o capitão Cook. Tombadas com que esforço pelos escassos sobreviventes abatidos pela descrença!
E nós, em escassos duzentos anos elevamos a parada: não está agora em jogo uma pequena ilha mas um planeta. Também os meios são outros... graças ao progresso das engenharias!
É obra! Para duzentos anos, ou para cinco mil anos de civilização. Afinal cinco mil anos são apenas setenta gerações de setenta anos como observou Ronald Wright. Ou cem gerações de cinquenta anos!
Tanto faz!

Joseph Tainter compara as sucessivas civilizações a comboios desenfreados, conduzidos por dinossaurios excelentíssimos, até se desmoronarem como castelos de cartas. Afinal um caso típico de realimentação positiva que a socialização favorece, segundo a teoria de Von Foerster. Uma regulação em tendência que envolve todas as civilizações!
E Tainter acrescenta, sublinhando com esta inquietante citação, o capítulo final do seu estudo sobre o colapso das sociedades complexas : "Cada vez que a história se repete o preço sobe".

Não estará então na hora de aprender com a história e sustar este processo? Não se trata de parar. Parar é morrer! Mas de passar dos excessos da regulação social em tendência que nos conduzirão uma vez mais ao colapso que desta vez será global, à moderação de uma regulação em constância que nos qualificaria como a primeira civilização sustentável.

Porque não o fazemos?
Vem-me à mente uma fábula que mete rãs e, talvez chineses. Que mete rãs numa panela de água em lume brando.
Ao principio elas até se sentem bem confortáveis. Depois menos, cada vez menos... vão se adaptando... até que acabam por morrer cozidas!

A qualidade das nossas casas

Na conversa à mesa do café, a grande preocupação que manifestava o simpático construtor, era a de fazer diferente.
...A casa de banho... em vez do azulejo o vidro... Uma parede rebocada, paredes com cores diferentes...

Perguntava eu: mas como sabe você do que gosta, o que quer o futuro comprador?
Resposta: Ele quer diferente, quer a diferença. O que é preciso é ser diferente.

Marcar a diferença.
Diferença que se veja acrescentava eu!

Mas então como introduzir qualidades que não estão patentes na construção ou no equipamento, que não se vêem ou não se sentem à primeira vista?
Qualidades que não dão nas vistas, escondidas nas paredes da casa e em relaçoes invisíveis com o meio a sua volta?
Qualidades que faltam, só se sentem no viver quotidiano e depois tem que ser introduzidas a força, com próteses, com custos adicionais?

Defender hoje, nesta sociedade de consumo imediato, o que não parece trazer um benefício imediato a quem utiliza e a quem produz em massa, é uma causa dificil!

Tuesday, December 23, 2008

As explicações de Souto Moura

Transcrevo estas linhas de uma recente entrevista de Souto Moura (SM), editada na Newsletter n° 76 SGG (Saint Gobain), Dezembro de 2008:
"A Historia sempre quis desmaterializar os edifícios, para conseguir mais aberturas, para ter mais luz e assim ter mais ligação ao exterior.
(...)a história da arquitectura, sob o ponto de vista construtivo, é, no essencial, a história da desmaterialização dos edifícios, que é completada por essa ausência de paredes, substituídas pelo vidro, chegando-se ao limite de haver edifícios só em vidro, em que a proporção da estrutura em relação à superfície transparente é quase diminuta.
Mas aqui levantava-se uma outra questão, a ultrapassar. Os edifícios em vidro trazem consigo, problemas de sustentabilidade. Então, desenvolveu-se tecnologias para responder àquilo a que antigamente eram paredes que tinham inércia térmica, tendo-se encontrado respostas para a segurança e qualidade do ambiente interior. Então o vidro evoluiu (...)
Criaram-se bons vidros de reflexão de infra-vermelhos, que evitam que o calor exterior não entre, e que a temperatura do interior, não passe para o exterior..."

Conheço SM apenas das revistas e entrevistas. Conseguí ver de longe uma obra sua nas imediações do Moledo, o que é pouco mais do que nada.
Respeito-o como um bom profissional que tem a obsessão de fazer o trabalho bem feito, no elevado sentido que lhe dá Richard Sennett em "The Craftsman".
Tudo o que diz SM importa e merece uma leitura construtiva. Por isso permito-me destacar criticamente os três passos sublinhados:

"A Historia sempre quis desmaterializar os edifícios". Souto Moura parece querer enfileirar a sua propensão minimalista numa tendência histórica da arquitectura para a desmaterialização.
Da arquitectura? Da arquitectura gótica? Ou da arquitectura moderna? Ou de certa arquitectura moderna? Vem-me à mente a exposição do trabalho de Zumthor que recentemente passou por Lisboa.
Inércia térmica... segurança e qualidade do ambiente interior... vidro. SM toca num problema de conforto importante associado à leveza e transparência que preocupou sériamente os pioneiros da arquitectura nos anos vinte. Mas será que os vidros reflectantes resolveram esse problema tornando dispensável a inércia térmica... e não criaram outros. Será tudo assim tão simples, tão... transparente? Não me parece.
O defeito pode ser meu que estou a entender mal, mas não é de certeza quando ele põe a temperatura a passar de um lado para o outro como se fosse calor. Aliás por isso nós somos sensíveis ás transferências de calor e não ás temperaturas. São estas imprecisões que criam problemas ambientais que remetem para próteses adicionais e que impedem a resolução de outros que poderiam nem sequer existir. Envidraçado a sul-poente, bela ardózia no pavimento, ambiente interior insuportável, portadas, ar condicionado...