Cultura e natureza - Reflexões pós-modernas
As relações entre o homem e a natureza evoluíram ao longo da história da humanidade, desde as sociedades primitivas, em que avultava a necessidade de lutar contra as adversidades do meio natural.
O homem respondeu à adversidade com a vontade de dominar a natureza selvagem, tão bem traduzida na Genesis: "Crescei e multiplicai-vos e dominai sobre os peixes do mar, as aves do ar e tudo o que rasteja sobre a terra"...
Progressivamente, o homem foi domesticando a natureza, construindo uma proximidade familiar nos sítios mais favoráveis, fazendo recuar o meio ignoto e hostil.
Com a emergência das grandes civilizações, o universo construido e os seus efeitos agigantam-se e, na civilização maquinista, ameaçam o próprio homem. Cresce a adversidade da natureza, agora por abuso do homem.
Com mais do mesmo, o sucesso poder-se-á converter mais uma vez num colapso civilizacional que, desta vez, será global.
A história mostra que o homem, nas sociedades complexas como a nossa, não é tao robusto como aparenta. Elas foram colapsando umas a seguir as outras e... "de cada vez que a história se repete o preço sobe!", como diz o grafiti de Ronald Wright (Breve História do Progresso, Dom Quixote 2004).
Num jogo de parada e resposta entre os problemas que colocam e a capacidade de os resolver, as grandes civilizações piramidais são cada vez mais dificeis de governar -diz o aforismo, grande nau grande tormenta- tornando-se mais arriscadas e vulneráveis do que as pequenas comunidades tradicionais que lhes sobrevivem.
Aí temos o futuro distópico de Coetze, em "Waiting for the barbarians"... se não metermos, a tempo, travões à máquina do progresso, vencendo o atavismo da dominação e procurando cultivar relações mais próximas com a natureza. A nossa própria natureza.