O preço da liberdade
Western civilization has been constructed on a perverse and mistaken idea of human nature... this perverse idea of human nature endangers our existence
Marshall Sahlins
A liberdade individual foi uma grande bandeira da modernidade, a par da "conquista da natureza".
Burguesia e povo avançaram contra o poder despótico do antigo regime sob a bandeira da liberdade.
Com a liberdade individual veio a livre concorrência na esfera da economia de mercado e, com esta, o capitalismo, numa atmosfera de liberdade em que floresceu o liberalismo.
Consumando o "darwinismo social" como intrínseco da "natureza humana", o mecanismo da concorrência conduziu à apropriação do poder económico pelos "mais aptos".
Estamos hoje "afirmadamente, nas mãos de uma oligarquia financeira, provavelmente a mais poderosa classe dominante da história" que mexe os cordelinhos das nossas democracias formais. Generalizo o que disseram Bellamy Foster e McChesney dos Estados Unidos em 2009.
Mas, como temiam os pais fundadores da nação americana, a concentração do poder, catapultada pelos frutos do progresso científico-tecnológico, deu lugar a um sistema hegemónico, num capitalismo terminal, misto de espoliação e de exploração, em que tudo e todos se subordinam à lógica abstrata da eficiência lucrativa do combinado Grande Banca-ETN.
Resumindo: Estamos "nas mãos de uma oligarquia financeira" e vamos a caminho de uma tecnocracia impessoal, sem verdadeira liberdade individual. Sós, num estado de fragmentação social mal contida e num ambiente natural esbulhado pelo abuso tecnológico.
Sim. Porque a liberdade individual nua e crua tem o seu preço: Com ela se vai o ancestral espírito comunitário e vem o sentimento de fragilidade de um ser corroído por grandes conflitos interiores, num meio hostil em que crescem os conflitos sociais e a devastação da natureza.
A liberdade individual sem a solidariedade levar-nos-à assim ao colapso.
Um dos mais impressivos lemas da Revolução Francesa, lançado no Club des Cordeliers não junta Liberdade, Igualdade e Fraternidade?
Mas, hoje, a progressiva devastação da Natureza, por abuso tecnológico, não comprova que deveremos alargar a solidariedade aos não humanos, conferindo-lhe uma dimensão ecológica... na perspectiva do colapso da sociedade moderna que, desta vez, será global?
Chamemos-lhe Convivencialidade e consideremo-la a vários níveis, imbrincados uns nos outros, da pequena "célula" familiar à comunidade planetária.
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Imagem: La Liberté guidant le peuple de Eugène Delacroix (1830)