Corria o ano de 2006 quando escrevi estas linhas:
Fiquei impressionado com o último "despacho" de Robert Fisk (*) de que saliento duas passagens,com um pequeno comentário pelo meio:
"As my colleague Patrick Cockburn wrote recently, the enraging thing about Blair's constant optimism is that, to prove it all a pack of lies, a journalist has to have his throat cut amid the anarchy which Blair says does not exist."
..." when the fire strikes us again, in London or New York or wherever, Blair and Bush will say that the attack has nothing to do with the Middle East, that Britain's enemies hate "our values" or our "way of life"."
Odeiam o "nosso modo de vida" porque sentem que ele tem o seu reflexo automático no seu "modo de morte".
Não sera verdade?
Podemos dizer que o Islão está, de si, a beira do colapso. Seja.
Mas, neste caso, será de admirar que eles nos vejam do lado do problema e não do lado da solução, face ao caos que se acentuou como resultado efectivo da nossa (sim, nossa, por conivência ou anomia) "war on terror" (of course, in english) intensificada nos últimos cinco anos?
Retomo R. Fisk que termina assim a sua impressionante mensagem:
"It's always been my view that the people of this part of the Earth would like some of our democracy. They would like a few packets of human rights off our supermarket shelves. They want freedom. But they want another kind of freedom - freedom from us. And this we do not intend to give them. Which is why our Middle East presence is heading into further darkness. Which is why I sit on my balcony and wonder where the next explosion is going to be. For, be sure, it will happen. Bin Laden doesn't matter any more, alive or dead. Because, like nuclear scientists, he has invented the bomb. You can arrest all of the world's nuclear scientists but the bomb has been made. Bin Laden created al-Qa'ida amid the matchwood of the Middle East. It exists. His presence is no longer necessary.
And all around these lands are a legion of young men preparing to strike again, at us, at our symbols, at our history. And yes, maybe I should end all my reports with the words: Watch out!"
Robert Fisk reflectia a quente no terreno das operações, sobre a "Guerra do Iraque" que, intelectuais como Pacheco Pereira, acreditavam pautar-se por "princípios". Outros como eu, pensavam exatamente o contrário; na "Guerra do Iraque", os princípios eram atorpelados pelos interesses, na linha do desenfreado neoliberalismo que, aproveitando a oportunidade da "crise do petróleo" de setenta, se lançou decididadmente por todo o mundo, protagonizado por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, para quem a sociedade não existia, mas apenas indivíduos numa vitoriana "luta pela vida". Recordo-me da maré de consumismo que vinha do cavaquismo e que Guterres não foi capaz de conter. Como me lembro do infame comentário do fanático neocon Donald Rumsfeld em 2003, quando confrontado com o saque do Museu de Baghdad: "Stuff happens". Um tipo de "crime contra a humanidade" perpetrado dois anos antes no Afeganistão pelos Taliban e recentemente repetido pelo impropriamente auto-denominado "Estado Islámico".
Angustiava-me pensar que a "Guerra do Iraque" não só seria uma manifestação musculada do desenfreado neoliberalismo, mas mais ainda, lhe retirava decisivamente o freio moral!
Depois foi o que se viu: a ignóbil ofensiva dos "ricos" sobre os "pobres", lançada em 2008 e a propagação da "jihad islâmica" que Robert Fisk adivinhava, não por ser bruxo, mas por estar dentro da razão dos factos, com uma "nobreza de espírito" que, infelizmente não prevalece nos
media, capturados pelos grandes interesses que nos tolhem a liberdade.
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(*) Publicado em 2006 no jornal "The Independent" (http://news.independent.co.uk/world/fisk/article1814843.ece), o artigo - "Age of Terror" - pode hoje ser consultado
aqui.