Os reis do caos
Gosto de pensar que, desde a Renascença, estamos numa fase de transição planetária de uma civilização afinada no modo de ter, hierárquica, assente na competição e na guerra para uma outra no modo de ser, em rede (holárquica), assente na cooperação e na paz.
Mas reconheço que nos temos que haver não só com os atavismos imperiais, mas também com a ameaça atómica e o agravamento da crise ecológica.
Passando ás eleições americanas. Não são só de hoje as ligações de Hillary Rodham Clinton a WallStreet, ao MIC(1), ás ETN(2) e ao lobby israelita, mas o feminismo musculado que Hillary partilha com Madeleine Albright, Victoria Nuland, Samantha Power ou Susan Rice, associado ao excepcionalismo hubristico que partilha com os neocon, faz dela uma perigosa personificação da águia imperial enfraquecida com o andar dos tempos modernos, incapaz de reconhecer que tem que partilhar o poder. A hegemonia económica e políica já não é o que era ao tempo do Plano Marshall e, a hegemonia militar confronta-se, além do mais, com rendimentos marginais decrescentes. Foi assim que colapsou o Império Romano (Tainter, 1990)!
Donald Trump afirma-se contra o sistema na sua pantomina truculenta e populista tirada do show business, mas não é anti-sistema. Pode não pertencer ao "estado real" da elite política mas, neste "totalitalismo invertido" em que o poder político está capturado pelo poder económico, pertence ao sector parasitário que lhe paga as eleições e, para mais ao seu subsector mais pernicioso: o FIRE(3) e neste ao Real Estate!
E quanto ao Aquecimento Global manifesta-se negacionista.
Rainha de espadas e rei de ouros deste baralho, ou desta baralhada neoliberal em que estamos metidos. Reis do caos!
Alternativas? Bernie Sanders, um social-democrata afim do nosso António Costa, foi sugado por Hillary, pode-se adivinhar porquê e, Jill Stein mostra estar do lado do futuro no modo de ser, mas parece faltar-lhe força nos média e no campo da política externa, neste momento crucial em que se joga a transição civilizacional nos Estados Unidos.
Face à onda de descrédito político que cresce no eleitorado, conseguirá Hillary Rodham Clinton segurar as mulheres convencendo-as de que o seu feminismo não aponta apenas para ela própria (tal como Obama convenceu os negros quanto à sua negritude) e conseguirá Donald Trump convencer não só a hillbilly class mas também os outros left behind (abandonados pela globalização que gravitam no mercado interno) que é contra os políticos e vai "fazer a America grande outra vez"?
Os americanos irão escolher, mais uma vez entre dois males! Dois males ou duas faces do mesmo mal, uma espécie de deep state que se esconde na sombra e manobra com a sua "mão invisível" toda esta pantomina?
_____________________________________
(1) MIC: Militar-Industrial Complex
(2) ETN: Empresas Trans-Nacionais
(3) FIRE: Finance, Insurance & Real State