O super heroi
“There’s class warfare, but it’s my class, the rich class, that’s making war, and we’re winning.”
Há meia dúzia de anos o bilionário Warren Buffett sintetizou assim, numa provocação marxiana, o backlash neoliberal iniciado por Reagan e Tatcher.
Um outro bilionário venceu agora as eleições para a presidência dos Estados Unidos, com o apoio do rust belt americano. Desconcertante ironia! Tanto mais que Donald Trump ganhou muito dinheiro no imobiliário, um dos três cavaleiros do colapso financeiro associados no FIRE (Finance, Insurance e Real State).
Trump, um capitalista, capitalizou o profundo descontentamento dos que foram deixados para trás pela financeirização e pela globalização.
O seu imobiliário está directamente associado à financeirização da economia, mas apenas indirectamente associado ao desemprego provocado pela globalização, por via das deslocalizações lideradas pelas ETN.
Os Clinton estão associados à financeirização e à globalização, mas mais à globalização, no imaginário dos trabalhadores brancos do rust belt.
É uma explicação para a derrota de Hillary. Mas neste caso adivinha-se forte turbulência social agravada pelas profundas contradições em que Trump se enredará, pois que o seu mundo é o dos negócios que nos trouxe até aqui. O resto são "externalidades". Problemas "sociais" e "ambientais" que ele vai resolver um a um:
"I will fix it!"
É a postura do super heroi providencial! Resvalamos para o caldeirão do caos que alimenta todos os fascismos!