Reflexões Planetárias

Thursday, November 10, 2016

O super heroi

“There’s class warfare, but it’s my class, the rich class, that’s making war, and we’re winning.”
Há meia dúzia de anos o bilionário Warren Buffett sintetizou assim, numa provocação marxiana, o backlash neoliberal iniciado por Reagan e Tatcher.
Um outro bilionário venceu agora as eleições para a presidência dos Estados Unidos, com o apoio do rust belt americano. Desconcertante ironia! Tanto mais que Donald Trump ganhou muito dinheiro no imobiliário, um dos três cavaleiros do colapso financeiro associados no FIRE (Finance, Insurance e Real State).
Trump, um capitalista, capitalizou o profundo descontentamento dos que foram deixados para trás pela financeirização e pela globalização.
O seu imobiliário está directamente associado à financeirização da economia, mas apenas indirectamente associado ao desemprego provocado pela globalização, por via das deslocalizações lideradas pelas ETN.
Os Clinton estão associados à financeirização e à globalização, mas mais à globalização, no imaginário dos trabalhadores brancos do rust belt.



É uma explicação para a derrota de Hillary. Mas neste caso adivinha-se forte turbulência social agravada pelas profundas contradições em que Trump se enredará, pois que o seu mundo é o dos negócios que nos trouxe até aqui. O resto são "externalidades". Problemas "sociais" e "ambientais" que ele vai resolver um a um:
"I will fix it!"
É a postura do super heroi providencial! Resvalamos para o caldeirão do caos que alimenta todos os fascismos!

Monday, November 07, 2016

O "Deep State" Hillary e Trump

Da leitura de Mike Gofgren fica-nos a ideia de um "Deep State" abrangente, aglutinando-se na oportunidade das circunstâncias. No entendimento de Charles Hugh-Smith ele é um complexo de poder porventura mais frouxo, ainda mais abrangente, diverso e contraditório:

Com uma postura oscilante, não imune à pressão popular, conteve o impeto imperialista após a desastrosa derrota do Vietnam, tornou-se mais expansionista, agressivo e belicista depois do sucesso da "Desert Storm" de Bush pai, o que levou os neocon com Bush filho, ao descalabro da operação "Enduring Freedom" que, por seu turno, fez regressar o pendulo a uma posição de maior contenção que não impediu, no entanto, o Nobel da Paz Obama de prosseguir a guerra by proxi and drone strikes e Hillary de promover os descalabros da Yugoslávia, da Líbia e agora da Ucrânia e da Siria, em perigoso confronto com a Rússia. Contradições de um complexo de poder cuja "mão invisível" não nos deixa nada descançados. Hillary será porventura mais controlavel pelo Deep State do que Trump? Mas o Deep State? Quem põe as mãos no fogo por ele?

Friday, November 04, 2016

"The deep state"

The Power Complex: a new constellation of forces, interests and motives, which eventually ressurected the ancient megamachine
Lewis Mumford, 1964
O general Eisenhower alertava em 1961 para o perigo que representava para a segurança mundial e a democracia, a crescente influência do que designou por Complexo Militar-Industrial.
Passado meio século este perigo cresce nos Estados Unidos, ainda hoje a maior potência mundial, num complexo de poder muito mais abrangente que congrega agora o Pentágono, todo o corporate power das ETN, Wall-Street e o Fed, a constelação dos "serviços de inteligência" americanos (NSA, FBI, etc) e Sillicon Valley.
Mike Lofgren explicava há dois anos nesta entrevista, como estes poderes se têm vindo a aglutinar na oportunidade das circunstâncias e aponta a influência crescente que o complexo exerce na politica americana:


The Deep State Hiding in Plain Sight from BillMoyers.com on Vimeo.

Wednesday, November 02, 2016

Capitalismo Global: Uma eminente crise económica

Cáustica exposição das actuais atribulações de um sistema que se enreda, enredando-nos com ele, nas suas próprias contradições:


Depois de comentar, com bem humorada e justificada indignação, uma mão cheia de notícias tiradas da espuma dos dias, Richard Wolff passa aqui ás grandes questões económicas que afligem hoje os Estados Unidos, deliberadamente ausentes das campanhas eleitorais de Donald Trump e de Hillary Clinton.
E o que se constata à evidência é que a Europa não fez mais do que seguir desde 2008, com atraso e em doses diferentes, os três passos que deu a administração americana, na resposta à crise criada pela deriva bancária: o stimulus, fase em que o governo de Sócrates com os outros desataram a despender rios de dinheiro para estimular a economia; a austeridade de Passos Coelho em que os bancos salvos da bancarrota pelos estados puseram termo ao stimulus impondo a dividocracia sobre os estados e, portanto sobre os cidadãos; o quantitative easing em que o BCE, lançou golfadas de dinheiro para suster a estagnação dividocrática e evitar o colapso (*).
Portugal não é hoje mais do que uma casca de noz no oceano encapelado do capitalismo. Navegar em cascas de noz em mares encapelados não é novidade para nós. O que nos falta hoje é um rumo e, parece que hoje o governo de António Costa está a procurar encontrá-lo, como seja aproveitando a pequena janela de oportunidade da CPLP.
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(*) Perante a ineficácia da política monetária, esboça-se agora o retorno ao stimulus apesar de contrariar frontalmente os interesses particulares de curto prazo e a ideologia dos "mercados" que temem perder a sua hegemonia.