Reflexões Planetárias

Sunday, October 08, 2006

Reflexões luditas

Libertar o homem das tarefas aviltantes foi um desígnio primordial da mecanização da nossa vida quotidiana, dos "escravos mecânicos" segundo Buckminster Fuller.

Mas desde logo houve quem se preocupasse com o abuso da máquina.
Pautando-se ainda pela moral e pelos temores do "velho mundo", Colbert considerava a máquina "o inimigo do trabalhador" e Montesquieu dizia que "as máquinas que diminuem o número de trabalhadores são perniciosas".

Não podemos menosprezar as consequências do abuso da máquina.
Na medida em que cria desemprego.
Na medida em que se tornam desmedidos os recursos materiais e energéticos, necessários para sua construção e sua utilização.
Na medida em que se substitue ao homem em tarefas "nobres" que indevidamente são mecanizadas.
Na medida em que a máquina cria excessivas dependências técnicas e, por essa via, favorece abusivas dependências ou desigualdades sociais.
Na medida em que a máquina cria um ambiente mecânico que, se é exaltado pelos progressistas incondicionais, não deixa de ser criticado pelos que sentem que ela os impede de manter uma relação intima e profunda consigo próprios, com o seu semelhante e com o meio natural, isolando-os numa redoma mecânica embrutecedora.

Thursday, October 05, 2006

A hipótese de uma dupla crise actual

O nossa constituição biológica é relativamente estável. Mais plástica parece ser a nossa consciência, cuja individualização é muito recente na história da humanidade (a fragilidade da consciencia-de-si, ainda imatura encontrei-a tratada por Fromm em "O medo a liberdade"). O conflito entre o indivíduo imaturo e a sociedade, a qual, partindo de comunidades sincréticas primitivas, se agigantou em sucessivas civilizações piramidais, acentuou-se na civilização ocidental, com a difusão da consciência individual pela base da pirâmide social, confrontada com a poderosa máquina social associada ao progresso cientifico-tecnológico, galopante nos últimos dois séculos. Este conflito entre o indivíduo e a sociedade coloca um problema ôntico; é um grande problema do nosso tempo, tal como pensava Einstein. Estão nele em causa o individuo e a sociedade, não sendo mais possível um civilização piramidal, a não ser por regressão da consciência numa sociedade de formigas(?)
Problema que se coloca, fundamentalmente, NA ESFERA DA CONSCIENCIA, e em que a integração social conflitua com a afirmação individual, o que é patente no exacerbado conflito individual entre o conformismo e o individualismo.
Mas este problema, NA ESFERA DAS RELAÇÕES ENTRE O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE, não é o único. Um outro grave problema ôntico complementar se coloca na ESFERA DAS NOSSAS RELAÇÕES COM A "NATUREZA". Nós enquanto sociedade, deve-se precisar, pois é à escala colectiva que a nossa intervenção se torna problemática, talvez por efeito do jogo entre a húbris ancestral e a capacidade tecnico-científica desenvolvida, na medida em que sapa a base NATURAL da pirâmide social.

Siza

Vou ousar falar de Siza
Transparece na obra e no discurso de Siza um conflito interior entre
um AFIRMACAO formal ("kunstwollen", Riegl) que se traduz numa linguagem plástica, visual, abstrata, moderna e uma preocupação de INTEGRAÇÃO de ordem sensÍvel mas também prática, das [e nas] particularidades do sítio e do homem, quanto ás suas exgências e capacidades.

Domina em Siza o formalismo afirmativo, por exemplo, no mau envelhe-cimento de obras como a Malagueira, ao contrário do que acontece nas obras de Carlo Scarpa como o cemitério de Brion-Vega (imagem acima) ou nos pormenores da Banca Populare de Verona. Siza atribui essa deterioração à incompetência dos construtor, a meu ver indevidamente e em contradição com as suas precupações de integração de técnicas locais. No caso da Malagueira, isso é patente na fissuração e enegrecimento das paredes que atraiçoam a sua linguagem "diagramática", minimalista de planos brancos e volumes simples, à revelia da heterogeneidade construtiva e que não tem em conta as limitações tecnico-construtivas locais, bem como nas avarias [infiltracoes] e insuficiências [de proteccao térmica] dos terraços em que quiz aplicar técnicas tradicionais.
Obs1: Parece-me importante para compreender Sisa e tudo o mais, reconhecer a existencia do conflito, desta contradição essencial, agitada em Wright, mais resolvida em Aalto e que é propria de um processo vital aberto, criativo que se entende que não segue rigorosamente um plano determinado.

Wednesday, October 04, 2006

O olhar do Lince

Aproximem-se de mim (ampliem a imagem)