Reflexões Planetárias

Wednesday, April 24, 2013

Depósitos e levantamentos

...Ou o homem e a "máquina"... ou o "banco" que falta... ou a frente de saque... ou o pobre e o rico... ou uns sobem e os outros descem... ou o diálogo Norte-Sul... ou o (sem) abrigo da grande pala protectora... ou a liberdade de pedir... ou em que deu a "corner shop" de Margaret Roberts (Thatcher)... ou "aguenta, aguenta!"... ou o estado social (a que nos vamos chegando)... ou as "férias" do desempregado... ou o desempregado e a oportunidade à mão... ou o desemprego e a tecnologia... ou ganham os que têm "unhas reais"... ou "um país de bananas governado por sacanas"... ou salve-se (salvé) a banca... ou mandam os mercados livres (de travões morais)... ou então, "levanta-te e caminha"! A propósito. Amanhã faz 39 anos o "25 de Abril"!


"Um dos problemas da salvação oferecida por Passos Coelho é que a maior parte das pessoas não se apercebe de que está a ser salva. Não compreende que está desempregada para seu bem, que vive mal para prestigiar o País no estrangeiro, que ganha salários miseráveis para glória presente e futura de Portugal. Ninguém mandou Passos Coelho tentar salvar um povo tão estúpido"
Realmente o homem é muito estúpido! Qual? Ele mesmo, homem!
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Fonte da imagem: foto do autor deste blog

Tuesday, April 09, 2013

A Alemanha fora do Euro

If Germany is opposed to eurobonds it should consider leaving the euro and letting the others introduce them.
George Soros
Na actual encruzilhada da Europa e do mundo entregue à globalização tardo-capitalista, temos que colocar em cima da mesa todas as hipóteses, venham de onde vierem, para decidir em plena consciência o que deveremos fazer para nos libertarmos do colete de forças em que nos deixámos meter até ás orelhas com o governo Passos Coelho e encontrar um novo rumo para o nosso futuro comum.
Economistas como Ferreira do Amaral e Torres Lopez têm vindo a defender a saída do Euro de países como Portugal e a Espanha.
Porque é que, em vez de sairem do Euro países como Portugal, a Grécia, a Itália, a Espanha, e por aí fora, não sai a Alemanha?

A Alemanha sai do Euro. O Euro é desvalorizado à medida da economia dos países menos a da Alemanha. Na lógica da economia de mercado, os paises continuam a trocar entre si como dantes, mas a Alemanha passa a exportar menos e a importar mais em relação aos países do Euro.
Os paises do Euro passam a importar menos mas a exportar mais para os países fora da Europa.
As dívidas dos estados continuando a ser em Euros, seriam afectadas pela desvalorização. Um problema a considerar.
Não seria o fim da austeridade, mas poderia ser o principio da recuperação da economia... e da soberania dos povos europeus.

George Soros é o que é e, a especulação financeira que liderou com a grande banca, tem as maiores responsabilidades na actual crise financeira. Tem decerto os seus interesses, mas coloca de forma inteligente esta questão , num artigo hoje publicado no Guardian que me parece merecer reflexão. Coloca a bola do lado da Alemanha: ou lidera o Euro na linha dos eurobonds - hipótese que perfilha - ou sai do euro. A segunda hipótese terá desvantagens mas também vantagens económicas não só para países como o nosso mas também para a Europa. Que dirão os outros paises do Báltico? E a França... e o Reino Unido?... Não poderão os países do Euro, com esta alternativa, encostar a Alemanha à parede?

Sunday, April 07, 2013

O homem-massa

Releio Ortega y Gasset e não paro de encontrar ressonâncias impressionantes neste Portugal e nesta Europa em que "mandam as montras". "Mandam as montras", manda o dinheiro queria dizer Gasset, mandam os mercados como hoje se diz, porque "os outros poderes organizadores da sociedade se retiraram".
Escrevi estas linhas aqui, há pouco mais de meio ano, causticado pela degradação social que a releitura de Gasset me evidenciou: uma combinação de falta de liderança política e de aparente "acanalhamento" de uma espécie de sociedade de massas.
Gasset vaticinava então, nos anos trinta que, "se esse tipo humano (o homem-massa) continuar a ser o patrão da Europa, trinta anos serão suficientes para mandar o nosso continente de volta ao barbarismo".
Michael Harrington, de quem me vou socorrer nesta reflexão, chama a atenção de que, para o conservador Ortega y Gasset, "a palavra "massa" é sinonimo de "moderno". Gasset metia no mesmo saco das massas, cientistas, ricos e proletários, todos embalados no mesmo comboio do progresso capitalista. Em causa pois, a sociedade moderna que ia à deriva porque "os outros poderes organizadores da sociedade se retiraram".
Quais eram esses outros poderes? Era a antiga aristocracia. A sua "rebelião das massas" não é assim uma afirmativa séria de que milhões tomaram o poder, o que não sucedeu, mas o lamento de terem sido depostos os aristocratas, o que aconteceu mesmo. Os aristocratas com os quais Gasset se identificava.
Consequência, para Ortega, a barbárie dentro de trinta anos, ou seja por volta dos anos sessenta com o retrocesso da tecnologia!
"Foi possivel, comenta Harrington, " trinta anos depois da "Rebelião da massas" declarar decadente o Ocidente, e não foram poucos os escritores que o fizeram. Mas a acusação foi e é baseada em termos do superdesenvolvimento da tecnologia, não no seu declínio".
Pode-se dizer, com Harrington que o homem-massa de Ortega jamais existiu... o que não quer dizer que não exista actualmente um homem-massa nos termos em que o definiu David Riesman em "The Lonely Crowd" que não é estranho à desumanidade moderna a que era sensível Gasset, bem como à solidão do homem contemporâneo, conducente a totalitarismos segundo Hannah Ahrendt. Mas o que é salientado na teoria de Riesman, não é este estado motivar totalitarismos, mas explicar a mentalidade dos consumidores.
Dwight MacDonald, citado por Harrington, fez um dos melhores resumos descritivos desta massa passiva.
No século XX a democracia política e a educação popular romperam o velho monopólio da cultura das classes superiores. Ao mesmo tempo o mundo dos negócios percebeu que era possível fazer dinheiro produzindo produtos de cultura em massa. A tecnologia das comunicações - o cinema, a rádio, a televisão - deram a esse desenvolvimento um campo e tempo sem precedentes. As mercadorias saídas da linha de montagem da nova cultura de massas inundaram a sociedade. a arte erudita foi marginalizada, a arte popular foi quase abolida na cidade, um modo inteiro de vida passou a estar reduzido à mediocridade feita a granel.
"Finalmente, teoriza MacDonald, este processo tomou o aspecto de um círculo vicioso: As massas corrompidas por diversas gerações desta espécie de coisas, por seu turno passaram a exigir produtos culturais confortáveis e triviais. O povo deixou de ser a vítima desamparada dos seus exploradores; passou a ser o cooperador da sua própria degradação."
"Porque aconteceu isso? A maioria dos que partilham o ponto de vista de MacDonald não atribui a cultura de massa somente ás maquinações do sistema capitalista ocidental."
"Como disse Bernard Rosemberg: Se podemos arriscar uma única formulação positiva (...) seria a de que a tecnologia moderna é causa necessária e suficiente da cultura de massa.
Mas, para encurtar razões, remetendo a discussão para futuras reflexões, a responsabilidade do aviltamento do homem na cultura de massas não pode ser atribuida ás máquinas!
"Quem foi que a tecnologia estupidificou? As massas? Ou aqueles que moldaram as massas e nem sequer reconhecem o trabalho feito por suas póprias mãos?"
A responsabilidade pertence aos que concebem a "máquina" - aos sofisticados e educados, como afirma veementemente Harrington: a evidência é farta no Ocidente!