Encurralado no Euro (que ameaça ruína), o povo grego ou sai porta fora precipitando-se no Mediterrâneo com o Syrisa indómito, ou volta ao redil eurocrático!
"The Economist", portavoz da "sociedade de mercado", poderosa caixa de ressonância tangida pelos
spin doctors dos poderes estabelecidos, mostra
neste artigo uma certa inquitetação, um misto de arrogância e medo.
Parece claro que os mandarins e sacerdotes do moneteísmo estão cientes de que a "politica de austeridade" que se destinou, em parte (1), a devolver com juros o dinheiro emprestado pelos bancos, sobretudo alemães, aos países como a Grécia e Portugal para comprarem os produtos da indústria alemã - carros, submarinos e
tuti quanti - dilacerou os povos que têm resistido e agora se opôem a esta política cruel (2).
Receando o contágio político-social (3), os mandarins estão no entanto convencidos, talvez não tanto como fazem crer que o Syriza que alinha e lidera nessa oposição, caminha para a moderação.
Os chacais esperam levar o rebanho -o povo grego - ao redil. Com alguma paciência tratam de encurralar o "jovem inexperiente" Rei Tsipras empurrando-o para o xeque-mate.
Com uma maioria inconclusiva do Syriza nas próximas eleições, o povo grego perderá uma oportunidade soberana para iniciar a sua libertação da tirania dos mercados. Se a maioria for conclusiva, o Syriza antreabrirá a porta de uma nova era, ensombrada decerto por conflitos, mas iluminada pela esperança, não só para o povo grego, mas para os povos (do sul) da Europa.
Actualização em 14 de Março de 2015: O Syriza acabou por ganhar as eleições e governa com mandato popular para acabar com a politica de austeridade dentro do euro. Perante a fanática inflexibilidade dos eurocratas, personificada por Herr Schäuble, o Syriza não acabará por ter que devolver ao povo a decisão sobre a saída do euro?
Actualização em 20 de Março de 2015: Os eurocratas continuam a jogar com o tempo, com a erosão do Syriza e o enfraquecimento do apoio popular à medida que se deteriora a situação na Grécia, empurrando-a para fora do euro. Onde está o "
grande movimento de solidariedade entre os povos europeus para ajudar a formar uma ampla frente unida. Uma frente que que reividique a derrota das políticas de austeridade e da pilhagem neoliberal na Grécia e na Europa"? Estamos (quase) todos na assistência. O espectáculo não é grátis. A dívida será cobrada com juros!
Actualização em 21 de Junho de 2015: Estaremos à beira de um
default da Grécia? Segundo
Jack Rasmus, ele é actualmente atrativo para os eurocratas. "Recentemente autorizado a injectar 1.2 triliões de dolares em QE, o BCE tem fundos suficientes para resgatar a grande banca do norte da Europa". "Ao mesmo tempo, a Troika dispõe de 8 mil milhões de dolares para pagar-se a si própria nos próximos 60-90 dias". Entretanto, no frio calculismo das nações e dos interesses, o
default desvalorizaria o euro tornando a economia europeia mais competitiva, possibilitaria a restruturação de uma dívida que todos sabem ser impagável e teria sérios efeitos a curto prazo (trágicos para o povo grego, que importa!) no Syriza. O Syriza, fragilizado por divisões internas, seria levado a convocar eleições em que, com o auxilio de uma barragem mediática orquestrada pelo directório europeu, provavelmente perderia a escassa maioria de 12 deputados que tem no parlamento grego, abrindo caminho a um governo favorável à Troika.
Actualização em 26 de Junho de 2015:: Momentos dramáticos!
Segundo Varoufakis, a Grécia está a ser sacrificada num jogo de poder entre a França e a Alemanha que guarda no bolso o grande trunfo que tem: ser menos penalizada com a derrocada do euro, fatal para a França... mas prefere evita-la. Nestes termos, o Syriza e a Grécia com ele, continuarão a sua agonia numa Europa que se afunda numa austeridade sem fim, entregue ao comercio dos grandes interesses. Os eurocratas vão protelando a solução dos seus problemas, numa navegação à vista, sem nenhum projecto colectivo mobilizador.
Actualização em 29 de Junho de 2015: Confrontado com a inamovível proposta da "troika" que o impede de cumprir o compromisso que firmou com os eleitores - pôr fim à política austeritária dentro do euro - o Syriza tomou a decisão democrática de consultar o povo grego sobre ela. O Syriza manter-se-à firme na sua decisão, face a um campo de pressões políticas decerto avassalador? Conseguirá o povo grego vencer o mêdo que inspira a ira do
Moloch eurocrático, dizer não, e encetar o seu "caminho das pedras". Sozinho. Sem a solidariedade explícita de nenhum povo europeu? Que Europa esta!
Actualização em 1 de Julho de 2015: "We’re about to take a short break here, for technical reasons", justifica assim o Guardian o seu "live update" vazio! Não há de notícias. Os jornais cobrem a falta de noticias com grandes caixas sobre o recuo do Syriza que cobrem noticias velhas e sobre grandes manifestações pelo sim contrapondo-se ás do não. A fazer fé nos jornais é o pequeno David a ser esmagado por Golias invencível!
Actualização em 4 de Julho de 2015: Numa sociedade em que a circulação da economia depende da circulação inversa do dinheiro (sendo as pessoas cada vez mais consumidoras e menos "autónomas"), o dinheiro (ou a falta dele como termo de troca) é uma arma aterrorizadora que esta desalmada Europa dos interesses, cada vez mais ordoliberal, está a utilizar contra o governo do Syriza, manipulando o povo grego. Fechada a válvula do BCE num longo impasse deliberadamente arrastado pela troika, o esgotamento das ATM poderá ditar a vitória do SIM. Neste termos, será (sobretudo) o medo plasmado no SIM contra a revolta do NÃO em relação a uma Europa indecente (no profundo sentido que lhe deu George Orwell) que só pode provocar medo ou indignação... em partes iguais segundo as sondagens.
Actualização em 5 de Julho de 2015: A revolta venceu o medo! Com a revolta renasceu a esperança! De forma inequivoca, expressiva! Tão expressiva que até os números falam: 61-39%! Mandato popular reforçado para prosseguir o "caminho das pedras" numa Europa à deriva, dominada pelo ordoliberalismo germânico.
Actualização em 6 de Julho de 2015: Descendo à terra, teremos que reconsiderar agora o que realmente estará em jogo nas negociações: o que pode estar escondido sob o manto dos interesses geoestratégicos que poderiam ter levado o governo dos Estados Unidos a sugerir a restruturação da dívida grega, via fuga de informação do FMI, conforme corre nos média. Por detrás deles, nesta nossa sociedade industrial, estão quasi sempre reservas e redes nevrálgicas de petróleo e gás natural.
Naomi Klein entrevistou há um ano Tsipras sobre o que fazer ás abundantes reservas no seu off shore (a sul de Creta e no Mar Jónico), ao que ele respondeu: "we should use it for pensions"!. A Alemanha, essencialmente uma potência industrial, precisa de energia como o pão para a boca e não a tem. Decerto que essa é uma das principais preocupações de Ângela Merkel, senão a principal preocupação que lhe dá dores de cabeça nas suas relações tensas com Vladimir Putin. Ter uma Venezuela na Europa era o que mais lhe faltava e o Syriza terá que aprofundar o nexo entre a crise social e a crise energético-ambiental, se não quer cair numa enorme ratoeira!
Actualização em 13 de Julho de 2015: Os dados estavam lançados desde a primeira hora dos diálogo assimétrico (impossível!) entre o Governo da Grécia, democraticamente eleito e o "Eurogrupo", um grupo informal, pelos vistos, "fora da lei" dirigido pela essa tenebrosa figura de Herr Scaubele: A Grécia ou capitula ou sai do euro! O governo da Grécia escolheu o que entendeu ser o mal menor, evitando uma calamitosa saída do euro . Mantem-se assim a dividocrática política de austeridade em que se está a afundar não só a Grécia mas toda a Europa subordinada à tirania dos "mercados financeiros".
Actualização em 17 de Julho de 2015: Sigo as
breaking news do Guardian.
A luz verde do Parlamento grego ao 3º
bailout, atira a batata quente para os eurocratas.
Merkel, no intuito de convencer os MP do Bundestag e o povo alemão, varre para debaixo do tapete a abjecta propaganda sobre os calões do mediterrâneo e afirma agora que "o povo grego não foi o responsável pela sua “miséria”"! Pois não, foram os bancos, com a conivência de um estado corrupto e subordinado à troika! Mas vai dizendo também que a austeridade é para prosseguir: "She said it was wrong to see that taking the road of reforms and austerity would only strangle Greece, saying that the way in which Ireland, Portugal and Spain dealt with their crises, was proof that there was another prospect in sight". Mais uma vez o bom exemplo dos bons alunos que já vem de Cavaco!
Schäuble, "speaking rather passionately at times, is asking MPs to support the bailout plan" depois de ter escancarado o seu monstruoso plano neo-(liberal) colonial de privatizar um país inteiro:
Treuhand II (4)!
O Eurogrupo "fora-da-lei" divide-se entre o grupo da França mais assustada com o espectro do Grexit do que a Alemanha, e o grupo de Schäuble.
O FMI põe-se de fora, agora advogando contra o Eurogrupo a restruturação da dívida(decerto dirigida pelos credores).
O euro parace uma zona perigosa mal frequentada... ou uma espécie de buraco negro.
O euro!! Voltando à vaca fria:
O que fazemos no Euro? (5)
Actualização em 26 de Agosto de 2015: Depois da resposta dos gregos à pergunta do governo - um reiterado não à política de austeridade, o governo de Tsipras acerta com os mandantes europeus um plano de austeridade muito mais gravoso do que os anteriores! Como assim? A decisão incondicional de Tsipras de permanecer no euro, tendo suspendido o plano B de Varoufakis, colocou-o nas mãos dos "carrascos" europeus que malharam sem dó nem piedade pois que, sem o plano B, o grexit se adivinhava ainda mais desastroso para os gregos! Porque não encarou então Tsipras a hipótese da saída do euro? A justificação corrente é de que não estava mandatado para tal pelo povo grego! Mas também não estava para agravar a austeridade, pelo contrário! Uma outra justificação menos corrente, é de que o europeísmo está no código genético de Syriza de Tsipras. Explicando melhor: A fixação do Syriza na Europa tem raízes históricas. Digo isto porque ao que sei, o Syriza é constituido em 2004 por um "pot-pourri" de movimentos em que avulta o Synapsismos, formado em 1991 a partir de uma dissidência em 1968, por ocasião da invasão da Checo-Eslováquia , do KKE (Partido Comunista grego) que então se autodesignou por KKE-interior (contra a invasão) sendo os "outros" o KKE-exterior ( actual KKE- Partido Comunista grego que se tem manifestado à parte como temos visto)... Isto porque consideravam os "outros" (apoiantes da invasão) subordinados a Moscovo sendo eles gregos pró-europeus. Aqui está onde quero chegar: o Syriza segue a linha do KKE interior via Synapsismos. O Syriza de Tsipras é visceralmente europeista pelo que não aceitou o plano B que Varoufakis estava a preparar para a saída do euro e assim ficou nas mãos de Schauble! Também se diz que ele não é anticapitalista.
Actualização em 27 de Agosto de 2015: Tendo Tsipras pedido a demissão abrindo caminho à realização de eleições legislativas, cabe perguntar porque o fez? Porque pretende a legitimação popular para levar a cabo o "seu" programa de austeridade? Porque se sente perdido?... Entretanto,
noticia-se o nascimento um novo partido, "Unidade Popular", dominado pelos dissidentes do Syriza. Considerando ser o terceiro grupo parlamentar mais votado, este partido manifesta-se em condições de formar governo desde já até ás eleições, tendo como programa por termo à politica de austeridade que o Syryza abandonou e sair do Euro, sendo essa a sua interpretação do "Não". E Varoufakis?
Varoufakis não alinhará neste novo partido, pois aposta na formação de um movimento para restaurar a democracia à escala europeia.
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(1) A "política de austeridade" além de ser um instrumento financeiro, é um "exorcismo" e uma gazúa:
É uma espécie de "exorcismo" contra o espectro da hiperinflação que persegue a Alemanha desde os anos vinte do século passado e, agora, nos está a arrastar para a deflação que o BCE de Monti pretende combater induzindo... inflação! Este "exorcismo" foi, para a Alemanha de Merkel, uma sacrossanta condição para a sua permanência no euro.
Alguém já sugeriu: então que saia!
É uma gazúa política, como os anteriores "Programas de Ajustamento Estrutural" do FMI em Africa e na América latina, enquanto oportunidade para pôr em marcha a agenda neoliberal em que cabem o desmantelamento da contratação colectiva, a privatização de património público e de serviços públicos fundamentais e o desmantelamento do "estado social". Para os plutocratas, o Estado destina-se a facilitar os grandes negócios e controlar as externalidades sociais e ambientais, numa sociedade subordinada ao "mercado autoregulado" na linha da "Grande Transformação" de Karl Polanyi.
(2)“What has happened to this country is a catastrophe. Our politicians, Europe, the IMF, they have stopped us having dreams”, dispara com rancor Antonis , fotógrafo grego, entrevistado por Helena Smith,
Guardian.
(3) E não tanto o "risco sistémico" para a grande banca (...alemã), depois da tranferência da dívida pública para instituições públicas como o MEE, a UE e o BCE que aliás detem a menor parte. Tinham assim razão os que defendiam a renegociação da dívida, por iniciativa dos países devedores em devido tempo... que já passou!
(4)
Este recente artigo de Victor Grossman não deixa dúvidas sobre o que vai na mente deste Ahab germânico, "amigo e colega de Vitor Gaspar"!
(5) Ao escrever estas linhas vem a notícia de que o parlamento dos nossos amos obedeceu ás ordens, com 50 desobedientes do CDU/CSU a juntar-se aos contras do De Link (algo parecido com o que aconteceu no parlamento grego). Em frente marche!